Salam Fayyad |
Ao aceitar a demissão de Salam Fayyad, no sábado (13), o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, sabia que a saída de seu primeiro-ministro poderia levar a um período de incertezas, tanto no que diz respeito às relações políticas com a administração americana e Israel, quanto ao apoio dos financiadores internacionais da Autoridade Palestina. Se ele estava determinado a isso, foi porque a diferença entre os dois homens havia chegado a seu ápice. Mas além de Fayyad ter aceitado dirigir um governo de transição até que seu sucessor seja nomeado, alguns políticos palestinos não descartam que ele afinal volte atrás em sua decisão.
Nomeado como chefe do governo palestino em junho de 2007, o interessado expressou por diversas vezes ao longo do último ano seu desejo de deixar o cargo. Em todas as vezes Abbas, cujas relações com seu primeiro-ministro haviam se tornado notoriamente difíceis, o segurou, por saber até que ponto o ex-oficial do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional é considerado em Washington e na Europa como garantia de boa governança e como o arquiteto da transformação da Cisjordânia em uma entidade que se aproxima de um Estado de direito.
A Autoridade Palestina havia conseguido importantes promessas de financiamentos nessas últimas semanas, sobretudo da parte dos Estados Unidos, que provavelmente se mostrarão passivos enquanto a situação no cenário palestino não for esclarecida. O secretário de Estado John Kerry, mas também diversas capitais europeias, fizeram várias intervenções recentemente para convencer Abbas a não se separar de seu primeiro-ministro. Na sexta-feira, Kerry havia telefonado pessoalmente ao chefe da Autoridade Palestina, e, na véspera, em um insistente esclarecimento, Washington havia afirmado que Salam Fayyad não pediria demissão.
Persona non grata para o Hamas e o Fatah
Aparentemente essas iniciativas foram contraproducentes, uma vez que diversos políticos palestinos viram ali uma "ingerência" nos assuntos internos palestinos e a confirmação do rótulo de "homem dos americanos" que sempre esteve associado à reputação de Fayyad. Isso vale especialmente para o Fatah, o principal partido da Autoridade Palestina, que há muito tempo pedia pela "cabeça" desse que é conhecido por ter combatido a corrupção endêmica dos órgãos dirigentes palestinos.
Na sexta-feira (12), o Conselho Revolucionário do Fatah havia criticado "a política do governo palestino marcada por improvisação e confusão em inúmeros aspectos financeiros e econômicos". Um de seus dirigentes, Taoufik Tiraoui, havia considerado que Fayyad deveria renunciar para acelerar a reconciliação com o Hamas. Em Gaza, a saída do primeiro-ministro palestino foi recebida com muita satisfação, com um porta-voz do Movimento da Resistência Islâmica ressaltando que Fayyad "cobriu o povo [palestino] de dívidas", ao mesmo tempo em que garantia que essa demissão não estava associada à reconciliação palestina.
Na realidade, o Hamas havia feito da saída de Fayyad uma de suas condições para aceitar a formação de um governo palestino de transição encarregado de organizar eleições parlamentares e presidenciais. Salam Fayyad se tornou então persona non grata tanto para o Hamas quanto para o Fatah, mas havia um grave problema de autoridade entre ele e Abbas. Este se consolidou em torno da demissão, no dia 2 de março, do ministro palestino das Finanças, Nabil Qassis, aceita por Fayyad mas recusada por Abbas, de quem é próximo.
Este último exigia do primeiro-ministro que ele chamasse Qassis de volta, o que Fayyad recusou. A querela entre Qassis e Fayyad estava ligada a uma disputa de influência pelo controle do Ministério das Finanças, posto que Fayyad por muito tempo acumulou juntamente com sua função de primeiro-ministro.
A saída do primeiro-ministro palestino coloca Mahmoud Abbas em uma situação difícil, na medida em que agora ele não tem mais desculpas para adiar a formação de um governo de união com o Hamas, uma perspectiva que certamente lhe alienaria o apoio de Washington, ao mesmo tempo em que suspenderia indefinidamente qualquer perspectiva de negociações de paz com os israelenses.
"Especialmente por essa razão", explica Ahmad Aweidah, diretor da Bolsa palestina de Nablus, "acredito ser muito pouco provável que ele vá embora, no final das contas. Um interino pode durar muito tempo: tudo isso é teatro!" "Mahmoud Abbas não poderá nomear um novo governo que não seja aceito pelo Hamas, e se ele o fizer, estará criando uma armadilha para si mesmo. A situação econômica está difícil, então ele encontrou, momentaneamente, um bode expiatório", afirma Aweidah.
No entanto, há nomes circulando sobre quem irá suceder Salam Fayyad: tecnocratas respeitados e com poucas chances de ofuscar o presidente da Autoridade Palestina, como o Dr. Mohammad Moustapha, presidente do Fundo Palestino de Investimentos, ou o Dr. Rami al-Hamdallah, presidente da Universidade An-Najahl, de Nablus. John Kerry, no domingo à noite, lamentou a demissão de seu "bom amigo" Salam Fayyad, ao mesmo tempo em que mandava Mahmoud Abbas encontrar "a pessoa certa" para sucedê-lo…
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