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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Ditador norte-coreano tenta conquistar respeito em sua própria nação


A recente diplomacia nuclear arriscada da Coreia do Norte não é um sinal de força, mas sim de fraqueza. Não importa quão arduamente essa dinastia comunista tente esconder esse fato do mundo exterior, os problemas domésticos –especialmente as tensões dentro do próprio regime– são um fator importante por trás de seu comportamento externo agressivo.

Os atuais problemas do regime são em grande parte obra de Kim Jong-il.  Ele não foi apenas um governante ruim, mas um desastroso. Ele foi o mentor do fracasso épico da economia da Coreia do Norte, que, em seu governo, registrou o pior desempenho de qualquer Estado industrializado. E ele foi o arquiteto da única fome em tempos de paz a acontecer em uma sociedade urbana, alfabetizada. A maioria das vítimas do desastre foram oficialmente designadas membros das "classes hostis", ou inimigos do Estado, de modo que o regime não lamentou suas mortes. Mas o governo de Kim Jong-il foi desastroso para todo o regime, incluindo seus supostos herdeiros.

Ainda mais do que Stálin e Mao, em sua busca pelo poder absoluto visando o autoengrandecimento, Kim Jong-il eviscerou a máquina do Estado. No auge de seus poderes, seu governo foi mais ou menos desinstitucionalizado: suas operações não seguiam nem a Constituição e nem a carta do Partido dos Trabalhadores da Coreia; elas se apoiavam no Indispensável, seu círculo interno e polícia secreta.

Não menos chocante para um governante dinástico, Kim Jong-il estragou sua própria sucessão. Ele próprio foi preparado para o comando por quase um quarto de século antes da morte de seu pai, o "Grande Líder" Kim Il-sung. Mas o "Querido Líder" nem mesmo seu deu ao trabalho de nomear seu herdeiro até ser incapacitado por um derrame no final de 2008. Sua escolha, o atual governante de 30 anos, Kim Jong-un, foi introduzido às pressas na vida pública em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.

Não é de se estranhar que Kim Jong-il pareça ser universalmente (mas secretamente) odiado pelas elites da Coreia do Norte, que o culpam por legar um caos ao país. Kim Jong-un quase reconheceu isso em julho passado, quando em um discurso ao Comitê Central do partido, ele disse que as autoridades norte-coreanas ainda tinham um "entendimento ruim" do "patriotismo" de seu falecido pai.

A semelhança física notável de Kim Jong-un com Kim Il-sung poderá ajudá-lo a se distanciar do legado direto de seu pai, mas ele não conseguirá resolver os problemas que herdou apenas imitando o estilo de falar em público de seu avô. Entre esses desafios, o mais imediato é proteger o trono e o Estado.

O trono não é exatamente não contestado. Kim Jong-un tem dois irmãos mais velhos, e o mais velho deles, Kim Jong-nam, condenou publicamente a última transferência de poder. Não menos problemática é a regência de facto pelo tio (Jang Song-thaek) e tia (Kim Kyong-hui) de Kim Jong-un, sob a qual o jovem monarca está sendo preparado. Os dois têm um filho –que também é neto de Kim Il-sung e portanto um candidato potencial ao trono em caso de morte de Kim Jong-un. O anúncio pelo rei menino no ano passado de que é casado, e que sua esposa aparentemente está grávida, pode ser considerado em parte como uma apólice de seguro de vida.

E há a questão da segurança do próprio Estado. Não apenas o estilo de governo arbitrário, movido pela personalidade, de Km Jong-il deve ser abandonado, mas a máquina institucional para apoiar um desconhecido e não testado Deus Sol deve ser sistematicamente reconstruída. Daí o ressurgimento do Partido dos Trabalhadores das sombras e os movimentos travados do governo visando uma versão mais "científica" ou pragmática do planejamento econômico comunista.

A proteção do Estado resultou em algumas mudanças de pessoal recentes nos mais altos escalões. Três dos sete homens que acompanharam Kim Jong-un ao lado do carro fúnebre de Kim Jong-il durante o funeral (o vice-marechal Ri Yong-ho; Kim Yong-chun, o ministro da Defesa; e U Tong-chuk, o diretor da polícia secreta) de lá para cá sofreram de casos severos de saúde política ruim: afastamento, ofuscamento e, no caso de Ri, desaparecimento e possivelmente morte. Todos eram militares, o que levou alguns observadores estrangeiros a atribuírem a queda deles à disputa perene ente os linhas-duras e os moderados que supostamente estava ocorrendo dentro da Coreia do Norte. Mais provável, esses desdobramentos são prova de que o partido está reafirmando seu controle dos militares, e dos órgãos de segurança do Estado. Afinal, a última coisa que uma dinastia totalitária precisa é de militares semi-independentes com ideias próprias.

A Coreia do Norte tem objetivos internacionais em sua fomentação de crise. Mas a ameaça nuclear de Pyongyang também é orquestrada para ampliar a autoridade e legitimidade do jovem governante em casa. A mídia estatal da Coreia do Norte não mede esforços para se referir a Kim Jong-un como o "Querido Líder Respeitado". Dada a lógica orwelliana da propaganda de Pyongyang, isso deve ser considerado como uma forte indicação de que o rei menino não é nem querido e nem respeitado em sua própria terra. O atual drama nuclear é uma trama para mudar isso.

Esse é precisamente o motivo para os governos ocidentais conterem seu impulso de reduzirem as tensões com Pyongyang por meio de negociações de alto nível. Qualquer pompa diplomática seria inevitavelmente alardeada na Coreia do Norte como uma derrota dos inimigos estrangeiros, um triunfo que ratificaria a gloriosa liderança do Querido Líder Respeitado, Kim Jong-un. Ele não deve receber esse presente. Na verdade, nada deve ser feito que lhe conceda o status internacional que ele tão desesperadamente almeja.

Os líderes ocidentais também deveriam desistir de tentar conceber soluções que salvem as aparências para o regime. Por décadas, o conhecimento de que ele poderia agir de forma provocativa a qualquer momento com pouco custo aguçou o apetite por aventureirismo da liderança norte-coreana. Deixar que Pyongyang saiba que suas provocações agora podem resultar em perdas, e perdas potencialmente desestabilizadoras, poderia ajudar a mudar os cálculos do regime. Poderia desencorajar a Coreia do Norte de recorrer à exortação militar internacional, tanto hoje quanto no futuro.

*Nicholas Eberstadt ocupa a Cadeira Henry Wendt de Economia Política no Instituto da Empresa Americana e é autor de " The North Korean Economy Between Crisis and Catastrophe ".

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