terça-feira, 30 de abril de 2013
Jornal sírio entra na guerra da informação
Absi Smesem se tornou o editor-chefe de um novo jornal semanal sírio com a esperança de deixar para trás o que chama depreciativamente de a "fase Facebook" da rebelião.
Ele disse que, com excessiva frequência, não acreditava no noticiário de canais por satélite populares, como a Al Jazeera e a Al Arabiya, fortemente favoráveis à oposição.
Os dois canais dependiam muito de relatos de ativistas locais contratados como correspondentes ou, na falta disso, noticiavam qualquer coisa que a oposição postasse no Facebook.
Smesem contou que, quando o Exército sírio sitiou sua cidade, Binnish, um ativista/correspondente empregou uma expressão árabe que significa literalmente "estamos sendo abatidos", mas que as pessoas no norte da Síria usam com o sentido de "não conseguimos respirar".
Em poucos minutos, rolava na tela do canal um letreiro informando que as forças governamentais sírias estavam cometendo um massacre em Binnish.
"Não há fontes de informação objetivas em nenhum lado, nem no regime nem nos rebeldes", disse Smesem, 46, que é repórter veterano.
Ele considera que os exageros causaram dano à rebelião. "Quando o regime simplesmente desmentia as notícias, e eles estavam certos, isso dava mais credibilidade a Bashar Assad", afirmou.
Para analistas da mídia, a cobertura da guerra civil síria abalou a reputação de canais de TV como Al Jazeera e Al Arabiya.
O jornal de Smesem, chamado "Sham" (outro nome árabe para a Síria), começou a circular em fevereiro, junto com várias outras publicações surgidas na mesma época. Outro, o "Síria Livre", promove o pluralismo, o islamismo moderado e a democracia.
O "Sham" é, sob muitos aspectos, o mais profissional deles, com uma diagramação ágil e bem organizada. Ele é uma extensão da Sham News Network, entidade noticiosa e centro de pesquisas dos ativistas.
Smesem trabalha em uma redação acanhada e esfumaçada com apenas dois outros editores. Eles recebem, segundo ele, textos de 15 repórteres espalhados pela Síria. Seu compromisso em não usar ativistas como correspondentes torna a cobertura esparsa em algumas cidades conflagradas, como Deir al Zour, no leste.
A distribuição do jornal na Síria, segundo Smesem, "é um pouco aleatória" e depende de quais estradas são consideradas seguras no momento. Até 4.000 exemplares são distribuídos gratuitamente no país.
Smesem usa o jornal para confrontar o clima de intimidação que, segundo ele, contaminou cidades como Binnish, onde partidários do movimento fundamentalista salafista aproveitaram seu sucesso no campo de batalha para tomar conta da prefeitura.
Em um editorial, ele criticou o tom dos protestos das sextas-feiras na cidade desde que a Frente Nusra, um grupo extremista islâmico, passou a organizá-los. As pessoas que gritam pela morte de todos os alauítas, escreveu ele, antes participavam do Comitê de Coordenação de Binnish e faziam passeatas semanais em apoio à sociedade civil.
Os editores do "Sham" temem que a liberdade de expressão que emerge das áreas rebeldes não perdure se a ditadura de Bashar Assad cair.
"A revolução começou a dar aquilo para o que ela foi iniciada", disse o editor-executivo do jornal, falando sob anonimato para evitar repercussões para seus familiares ainda na Síria. "O que não sabemos é o que acontecerá depois que o regime cair."
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