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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Der Spiegel: Vitória de Obama aprofunda conflito com a Alemanha sobre crise do euro

Barack Obama e a chanceler alemã Angela Merkel

Em seu primeiro governo, o presidente Barack Obama criticou fortemente a abordagem hesitante da Europa para enfrentar a crise do euro. E as coisas não devem mudar em seu segundo mandato. Mas há esperança de que a Casa Branca recue e se volte novamente para a Europa na tentativa de fechar um possível acordo de livre comércio transatlântico.

A reeleição do presidente Barack Obama, embora tenha sido uma vitória muito mais apertada do que em 2008, é um bom sinal para a coerência política – pelo menos no futuro próximo. Segundos mandatos têm, muitas vezes, a ver com a consolidação de políticas implantadas durante os primeiros mandatos – ou seja, eles se mostram como contrapontos moderados às iniciativas iniciais, que tendem a ser mais carregadas de ideologia. Isso valeu para Ronald Reagan, Bill Clinton e George W. Bush. Obama não será diferente.

A coerência também marcará o polarizado clima político interno que Obama irá enfrentar. A hostilidade que ele tem enfrentado desde o surgimento do Tea Party, na eleição de meio de mandato de 2010, provavelmente continuará inabalável. O retorno de uma Câmara dos Deputados republicana significa que as vitórias em casa e no exterior provavelmente serão graduais e baseadas em ordens executivas, regulamentações e interpretações da legislação existente, em vez de produto de novas iniciativas legislativas ousadas.

O recorrente tema da campanha de Obama em 2012 foi “equilíbrio”. Em seus debates com o governador Mitt Romney, o presidente falou sobre uma abordagem equilibrada para a governança. Isso será particularmente verdadeiro em relação a sua política para a econômica doméstica – um ajuste que mistura despesas e receitas que ele acredita ser necessário para combater a crise fiscal dos Estados Unidos e o crescimento econômico anêmico do país. Mas esse equilíbrio também se aplica à sua abordagem internacional, especialmente em relação a Europa.

O tema do equilíbrio do presidente Barack Obama continuará colidindo com a gestão da crise na zona do euro realizada pela chanceler alemã Angela Merkel. Para os democratas, a Europa tem perseguido uma política draconiana cega de cortar despesas profundamente nos países do sul da zona do euro. O resultado tem sido problemas econômicos e instabilidade política, além de poucas perspectivas de crescimento no curto prazo. Essa crítica sustenta que a atual configuração institucional da zona do euro tira dos governos de Grécia, Espanha e Itália as ferramentas políticas necessárias para estimular suas economias, gerar empregos para grandes contingentes de trabalhadores desempregados e, consequentemente, reativar o crescimento. Essa posição vê a crise da zona do euro como justificativa para o Programa de Auxílio para Ativos Problemáticos (Troubled Asset Relief Program – TARP), para a Lei de Reconstrução e Recuperação Norte-Americana (American Reconstruction and Recovery Act), de 2009, e os subsequentes testes de resistência a que foram submetidos os bancos, e para o rígido monitoramento do setor bancário. A equipe de Obama vê o crônico tumulto europeu como uma demonstração de que políticas centralizadas pelo governo, em especial as medidas impulsionadas pela demanda e pela geração de empregos, são fundamentais para evitar um ciclo vicioso de deterioração das contas públicas por meio de bases fiscais menores, da redução da produtividade econômica e do aumento da fuga de capitais.

A plataforma do Partido Democrata afirma que, sob Obama, os EUA “continuam em contato frequente com nossos aliados europeus para discutir as melhores práticas e compartilhar as valiosas lições de nossa própria experiência em reverter nossa crise econômica, ajudando-os a traçar o melhor caminho a ser seguido”. Tradução: o segundo governo de Obama quer sentar-se à mesa de negociação, e se inclinará mais em adotar uma abordagem que inclua políticas de geração de empregos e de incentivo da demanda, especialmente para os jovens e para os do sul da zona euro. A Alemanha pode esperar que o presidente Obama gaste um pouco de seu capital político na Europa – fortemente respaldado por sua popularidade estratosférica no continente – para defender mais amplamente uma integração mais profunda e firme e uma expansão fiscal coordenada.

Acordo de livre comércio potencial
Como um contraponto à política de Obama para a crise do euro, a Alemanha vai acolher o renovado compromisso do presidente norte-americano em relação ao comércio transatlântico e seu contínuo interesse nas mudanças climáticas. Esses serão os temas que despertarão mais o interesse dos europeus durante o segundo mandato de Obama. Há tempos uma prioridade do governo alemão, um abrangente acordo de livre comércio transatlântico foi a peça central dos discursos de Merkel no encontro anual do Fórum Econômico Mundial de Davos em 2011 e na reunião Atlantik-Brücke, realizada em julho de 2012. A equipe comercial de Obama tem trabalhado discretamente nos detalhes de um acordo de livre comércio transatlântico e estará interessada em prosseguir seriamente com essa iniciativa em 2013. A peça-chave dessa medida é o Congresso norte-americano. Apesar de muitos republicanos concordarem com os méritos de um acordo que relaxaria as barreiras comerciais entre os EUA e a Europa, seu desejo de evitar que Obama acumule “vitórias” políticas poderia impedi-los de autorizar o governo a realizar negociações amplas relacionadas a um tratado desse tipo.

A equipe de Obama também se comprometeu em adotar políticas para mitigar as mudanças climáticas de maneira resoluta, mas discreta. Isso incluiu regulamentações e programas como o financiamento do comércio e créditos fiscais estabelecidos, que permitiram a setores economia controlados pelo governo, como as fábricas de turbinas eólicas de Iowa e o desenvolvimento da tecnologia smart-grid* na Virgínia.

Algumas tendências políticas relacionadas à defesa e à segurança também devem ser mantidas durante o segundo mandato de Obama. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se manterá como uma aliança, mas suas operações se basearão mais em termos de parcerias pragmáticas, baseadas nos recursos com que seus Estados-membros podem contribuir e estão dispostos a oferecer. O movimento em direção à Ásia, que começou no governo de George W. Bush, vai continuar e, talvez, se acelerar, uma vez que ele se tornará uma parte indelével do legado de Obama – que é o primeiro presidente “Pacífico”. A fadiga em relação às intervenções militares está forte nos Estados Unidos após os conflitos prolongados no Iraque e no Afeganistão. O cansaço gerado pelas guerras transcende ambos os partidos, apesar das tentativas retóricas para diferenciar as campanhas de republicanos e democratas – e Obama permanecerá reticente em se comprometer com operações militares no exterior. Ele continuará utilizando a intensificação dos ataques aéreos com aviões não tripulados no Paquistão e no Iêmen como uma ferramenta antiterrorismo. Com o apoio esmagador do eleitorado norte-americano (62% aprovam essas intervenções), esse tipo de ataque provavelmente permanecerá como um dos pilares da política dos EUA para combater o terrorismo.

Obama vai manter sua abordagem cerebral para a Europa, sem o sentimentalismo que frequentemente tem sido uma marca do relacionamento entre norte-americanos e europeus. Mas seu engajamento com o continente vai aumentar. Por necessidade, a Alemanha será a sua primeira parceira. Não está claro se o país será seu parceiro preferido.

Tyson Barker é diretor de relações transatlânticas da Fundação Bertelsmann em Washington, D.C.

*“Smart Grid” geralmente se refere a uma classe de tecnologias utilizadas para modernizar os sistemas de serviços de distribuição de energia elétrica. Essas tecnologias “smart grid” usam controles remotos computadorizados e automação.

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