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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Assasinato do chefe da inteligência libanesa ainda é mistério

Funeral de Wissam al-Hassan

É uma história de juramentos pessoais de obediência e de lealdades ao clã, uma história de guerra, traição e trapaças, uma história que só poderia ter acontecido no Oriente Médio. No centro da história estão quatro homens e dois assassinatos.

Rafik Hariri, um magnata dos negócios, ajudou a reconstruir o Líbano depois de sua sangrenta guerra civil de 15 anos. Ele foi um importante líder político dos sunitas do país e primeiro-ministro do Líbano por quase uma década. Em outubro de 2004, ele renunciou em protesto contra o uso da influência exercida pela vizinha Síria e pelo Hezbollah, a milícia xiita atuante no Líbano e financiada por Damasco. Poucos meses depois, no Dia de São Valentim de 2005, Hariri morreu em um mega-atentado a bomba à beira de uma estrada.

Saad Hariri, o filho de 42 anos de Rafik e seu herdeiro político, jurou que descobriria os responsáveis pelo assassinato, valendo-se até de ajuda estrangeira para isso. Em 2007, a ONU decidiu criar um Tribunal Especial para o Líbano (TEL). O tribunal vem operando a partir de sua sede perto de Haia, na Holanda, desde a primavera de 2009. O Hariri filho passou a ser conhecido como um dos líderes da Revolução dos Cedros, que conseguiu expulsar quase todas as tropas sírias do país. Ele atuou como primeiro-ministro do Líbano de 2009 até 2011, quando seu governo de coalizão caiu. Atualmente, lidera seu movimento de oposição no exílio, em Paris.

Hassan Nasrallah, o líder de 52 anos do Hezbollah, oscilou entre hostilidade contida ou aberta contra os Hariris. Além de supervisionar uma milícia que é mais forte que o exército do Líbano, Nasrallah comanda uma poderosa organização política. No momento, seu partido basicamente controla o governo em Beirute, e ele se enxerga como a única força que combate os “ocupantes sionistas”. Ele também vê o TEL como pouco mais do que uma “conspiração americana-israelense”.

E há Wissam al-Hassan, que atualmente é o principal protagonista nesse grande jogo.

Uma auto-sabotagem?
Al-Hassan nasceu em 1965 perto de Trípoli, no Líbano, em um clã sunita que tinha ligações próximas com os Hariris. Ele se tornou membro da equipe de segurança de Rafik Hariri, e com o tempo se tornou o chefe de seus guarda-costas. Al-Hassan havia tirado uma licença no dia 14 de fevereiro de 2005, o dia em que um imenso carro-bomba explodiu enquanto o comboio de Rafik Hariri passava, alegando na época que precisava estudar para uma prova na universidade. Mas isso não prejudicou sua carreira, e Saad Hariri veio a promover Al-Hassan ao cargo de brigadeiro-general e uma posição como chefe da inteligência nacional.

Em 19 de outubro, Al-Hassan morreu em um atentado a carro-bomba que trazia muitas semelhanças com o que matou seu chefe sete anos antes: ambos foram em Beirute, ambos aconteceram em plena luz do dia, e ambos foram executados por profissionais. Ambos os ataques envolveram uma quantidade imensa de explosivos que tiraram as vidas de muito mais pessoas além dos alvos intencionados.

Al-Hassan recebeu honras de herói e foi enterrado a poucos passos do túmulo de Rafik Hariri em um cemitério perto da Praça dos Mártires no centro de Beirute. As circunstâncias em torno de sua morte levantaram algumas questões. Na verdade, há quem pense que o homem de 47 anos pode ter sido um agente duplo, alguém que trocou de filiações uma vez ou talvez várias vezes. E se for verdade, o que isso diz sobre os suspeitos de terem o matado?

Independentemente das respostas, o ataque terrorista do dia 19 de outubro fica cada vez mais misterioso, e o TEL pode considerar investigá-lo. Respondendo a perguntas por escrito, o Tribunal Penal Internacional diz que primeiro é preciso determinar se o ataque tinha relação com o atentado de Hariri. Além disso, ele diz que iniciar uma investigação como essa também requereria uma expansão do mandato do TEL por parte da ONU e do governo libanês, que cobre 49% dos custos do tribunal.

Fontes próximas ao tribunal dizem que Al-Hassan originalmente estava no topo da lista de suspeitos do ataque a Hariri. De fato, investigadores acharam bem estranho que o chefe dos guarda-costas de Hariri não estivesse presente no dia em que ele morreu. Ademais, eles descobriram que Al-Hassan falou no telefone 24 vezes na manhã da morte de Hariri, embora tivesse alegado que precisava estudar para a prova da universidade. Um documento interno do TEL diz que as declarações de Al-Hassan “não são muito convincentes” e levaram a dúvidas sobre seu álibi.

Amigos e inimigos
Ainda assim, o fato de que ele estava longe quando o ataque ocorreu e de que Saad Hariri acreditava em seu juramento de lealdade de alguma forma foi o suficiente para tirar Al-Hassan da linha de fogo. Da mesma forma, ele logo se tornou o informante mais importante do tribunal especial, fornecendo a investigadores detalhes sobre o tipo de explosivo usado e gravações de celulares na cena do ataque. Os telefonemas afinal foram associados a quatro membros do Hezbollah – e determinaram a queda de todos eles.

Em junho de 2011, o STL indiciou esses quatro homens, inclusive Mustafa Badr al-Din, o chefe da inteligência de Nasrallah. Um furioso Nasrallah reagiu ameaçando “cortar fora a mão” de qualquer um que tentasse extraditá-lo e os outros homens. Os quatro desapareceram desde então, e há rumores de que eles fugiram para o Irã.

No entanto, tais investigações não foram o suficiente para Al-Hassan. Ele logo se tornou um dos mais importantes atores políticos da região, formando surpreendentes alianças pelo caminho. Por exemplo, ele providenciou um encontro entre Saad Hariri e o presidente sírio Bashar Assad. Depois desse encontro, o primeiro evitou fazer qualquer acusação mais veemente de que a Síria estava por trás do assassinato de seu pai. Além disso, em um gesto que era bastante incomum em termos de protocolo, o próprio Al-Hassan teve uma conversa particular com Assad, em Damasco.

Ao mesmo tempo, Al-Hassan manteve ligações extremamente próximas com oficiais de alto escalão no aparato de inteligência da Arábia Saudita, que mantém uma posição crítica em relação ao regime sírio. Da mesma forma, algumas fontes privilegiadas no Oriente Médio até alegaram que Al-Hassan possuía ligações com o Mossad, a agência de inteligência de Israel. No final ele acalmou essas suspeitas com ações: sob sua liderança, a inteligência libanesa desbaratou uma rede inteira de espiões israelenses que operavam no país.

Nos últimos meses, o inquieto chefe da inteligência libanesa havia voltado sua atenção para as forças rebeldes na Síria. No último verão, ele aparentemente havia feito uma armadilha para Ali Mamlouk, que seria promovido em julho de chefe da diretoria de inteligência geral de Assad para chefe de seu conselho nacional de segurança. Através de intermediários, Al-Hassan encorajou Mamlouk a fornecer para Michel Samaha, um ex-ministro da Informação no Líbano e sólido aliado do regime sírio, explosivos a serem usados nos ataques. Samaha foi preso no começo de agosto e supostamente confessou. Foi uma séria desmoralização para Assad – e uma razão plausível para matar o suposto vira-casaca Al-Hassan.

Possível envolvimento com o Hezbollah
O Hezbollah também pode ter participado do ataque terrorista a Al-Hassan, cuja cooperação com o tribunal havia feito dele um inimigo jurado do “Partido de Deus”. De qualquer forma, Al-Hassan certamente havia recebido avisos sobre um ataque. Dois dias antes do assassinato, ele viajou para Paris para proteger sua família. No dia seguinte, enquanto voltava para a Síria, ele fez uma parada na Alemanha. Ali, ele se encontrou com seu homólogo alemão, o chefe da Polícia Federal Criminal (BKA), para uma conversa presumivelmente agendada com regularidade.

Respondendo a perguntas por escrito, o TEL confirma que o julgamento à revelia dos quatro membros do Hezbollah começará em 25 de março de 2013, e que os procedimentos permitem “que provas de pessoas indisponíveis sejam admitidas durante o julgamento”, incluindo as de Al-Hassan. Ademais, o Tribunal Penal Internacional diz que o “Líbano tem uma obrigação contínua de procurar os culpados” e as autoridades libanesas são obrigadas a prestar contas mensalmente. “Acreditamos que a Justiça não deveria ser refém do desejo dos acusados de não participarem dos procedimentos”, escreveu o tribunal.

O FBI agora está com agentes em Beirute para ajudar na investigação sobre o assassinato de Al-Hassan. Ele supostamente determinou que os explosivos usados para matar Al-Hassan trazem similaridades com aqueles usados no assassinato de Hariri. O planejamento e a execução do ataque também parecem apontar para o mesmo grupo de perpetradores.

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