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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Urgências de Netanyahu, do Hamas e do Cairo facilitam a troca de prisioneiros

A primavera árabe teve um efeito colateral inesperado. O governo de Israel, os islâmicos do Hamas e o novo Executivo egípcio precisavam como nunca encontrar um salva-vidas, e este foi o acordo sobre a troca de prisioneiros: 1.027 ativistas e terroristas do Hamas detidos em Israel em troca de um soldado israelense capturado há cinco anos. Gilad Shalit está há 1.935 dias em cativeiro em Gaza, enquanto nas prisões israelenses há dezenas de terroristas condenados à prisão perpétua.

O destino de Shalit e dos presos palestinos foi decidido na terça-feira (11) no Cairo. Na quinta-feira (13) de manhã, segundo explicaram a "La Vanguardia" fontes do Hamas, Shalit, de 25 anos, recebeu a notícia de sua iminente libertação no porão que foi seu cárcere durante cinco anos. Na próxima semana, ele e 450 presos palestinos, quase todos condenados à prisão perpétua, serão transferidos para o Egito. Shalit se encontrará no Cairo com seus pais e uma equipe de psicólogos militares israelenses, que o acompanharão de volta. Em um ou dois meses, Israel libertará os demais prisioneiros do Hamas, incluindo todas as mulheres.

Com o acordo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu respondeu à vontade de grande parte da sociedade israelense. Na madrugada de quarta-feira, reuniu seus ministros e lhes pediu o apoio unânime para a troca, mas não o conseguiu. O ministro das Relações Exteriores, o ultranacionalista Avigdor Lieberman, e outros dois colegas foram contra. Eles acreditam que a volta para Gaza e Cisjordânia de mil arquiterroristas - responsáveis pela morte de mais de mil israelenses - voltará a disparar a violência. Netanyahu estava há 30 meses no poder sem ter feito nada relevante para o processo de paz com os palestinos. Nesse tempo, também foi testemunha do crescente descontentamento social dos israelenses.

A necessidade de fechar o acordo também era urgente porque, segundo a situação política no Egito, nada garantia que a mediação do governo do Cairo se mantivesse. O marechal Mohamed Mohamed Tantaui, chefe da junta militar egípcia, está muito pressionado pelas críticas populares à lentidão das reformas políticas. O Hamas, por sua vez, vive um dos momentos políticos mais difíceis desde sua criação em 1987. Tanto em Gaza como na Cisjordânia as pesquisas lhe dão menos de 20% do apoio popular. O presidente palestino, Mahmud Abbas, que pertence à Al Fatah - força rival do Hamas - é o herói das ruas palestinas desde que, há duas semanas, pediu diante da Assembleia Geral da ONU o reconhecimento da Palestina como Estado independente.

A troca de prisioneiros fortalece o Hamas e preocupa em Ramallah. A Autoridade Nacional Palestina a aplaude, mas teme as demonstrações de apoio que os islâmicos do Hamas receberão quando os presos voltarem para casa.

A troca foi negociada em seis reuniões entre Israel e o Hamas no Cairo. A decisiva foi dirigida por David Meidan, do Mossad, e Ahmed Yabri, chefe do Ezedin al Qasam, o braço armado do Hamas, composto por 20 mil homens. Aviva e Noam Shalit, os pais do soldado Shalit, levantaram na quinta-feira (13) a tenda de campanha que mantiveram diante da residência de Netanyahu nestes cinco anos e voltaram para sua residência na Galileia.

Analistas israelenses indicam que é possível que outros soldados sejam capturados no futuro e que os radicais islâmicos definam Israel como um país frágil, que se dobra diante deles. No entanto, a maioria dos comentaristas indica que não havia alternativa e que se trata da "vitória da solidariedade israelense". "Antes tarde que nunca", escreveu o escritor Meir Shalev.

A nova líder trabalhista, Sheli Yejimovich, jovem jornalista que começou sua carreira política há seis anos, resume o sentimento geral dizendo que "neste caso, só podemos apoiar o governo. Toda família que envia seus filhos para a frente deve saber que, aconteça o que acontecer, sempre faremos o possível para resgatá-los. Embora provavelmente sejamos o único país que faz algo aparentemente tão ilógico".

No domingo se completarão 25 anos da captura no Líbano do piloto israelense Ron Arad. Em várias ocasiões as negociações para sua troca pareciam muito perto de um final feliz. No entanto, isso não ocorreu e provavelmente Arad foi assassinado. Seu fantasma estava bem presente no Conselho de Ministros que na terça-feira decidiu aprovar o acordo para a libertação de Gilad Shalit.

 PRECEDENTES

1974: 65 palestinos em troca de 2 israelenses detidos no Egito acusados de espionagem

1979: 76 palestinos contra um militar israelense capturado no Líbano

1983: 4.760 palestinos contra 8 soldados israelenses capturados no Líbano

1985: 150 palestinos contra 3 soldados presos no Líbano

1996: 123 presos libaneses em troca dos restos de 2 soldados israelenses

1997: Israel liberta o líder espiritual do Hamas, o xeque Yasin, em troca de 2 agentes do Mossad detidos na Jordânia

1998: em troca do cadáver de 1 oficial israelense o Hizbollah consegue os restos de 40 de seus combatentes e a libertação de 60 presos

2004: 436 presos palestinos e libaneses, junto com os cadáveres de 59 combatentes, contra 1 empresário israelense sequestrado no Kuwait quatro anos antes e os restos de 3 soldados

2008: 5 presos libaneses, entre eles o terrorista Samir Kuntar, e 199 caixões com palestinos e libaneses em troca dos cadáveres de 2 soldados israelenses cuja captura em 2006 pelo Hizbollah provocou uma guerra

2009: Israel liberta 20 presos palestinos em troca de um vídeo que demonstra que o soldado Gilat Shalit, sequestrado pelo Hamas, continua vivo.

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