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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Os Bálcãs se afastam da Europa

Memorial de Karlovac, Croácia, mantém viva as memórias da Guerra da Sérvia

Em maio passado, quando a Sérvia capturou e entregou o general Ratko Mladic ao Tribunal Penal para a Antiga Iugoslávia, com sede em Haia, Holanda, muitos acreditaram que o gesto simbólico assentava finalmente as condições para uma temporada de degelo nos Bálcãs. Pouco depois, no início de julho, o presidente sérvio, Boris Tadic, consolidou as expectativas estendendo a mão aos bósnios durante uma visita significativa a Sarajevo. Cinco meses depois, entretanto, uma inesperada deterioração da situação obscureceu o céu balcânico e conteve o avanço da região para a Europa.

Esta semana a Comissão Europeia publicou suas recomendações anuais aos 27 sobre a região. Os relatórios evidenciam as preocupantes novas sombras. Bruxelas recomendou aos 27 que ofereçam à Sérvia o estatuto de país candidato a adesão à UE. Entretanto, se recusou a indicar uma data de início para as negociações.

Trata-se de um passo importante, mas que deixa na boca um sabor amargo. Depois da entrega de Mladic, a oferta de Bruxelas foi dada por garantida: o posterior ressurgimento da tensão entre Kosovo e Sérvia - desta vez por atritos sobre os controles de fronteira - esfriou de repente os avanços e afastou indefinidamente a abertura das negociações.

Para os demais países da região - exceto Croácia e Montenegro -, as conclusões da comissão foram más ou péssimas, refletindo situações inquietantes. Entre elas se destaca a da Bósnia-Herzegovina, que completou em 3 de outubro um ano sem governo pela incapacidade de croatas, sérvios e bósnios muçulmanos de entrar em acordo; e a da Albânia, que recebe um duro golpe depois de meses de boicote parlamentar da oposição, violência política e eleições municipais marcadas por irregularidades, suspeitas e recursos judiciais.

Em todo caso, a situação mais candente é a de Kosovo. A disputa pelo controle de dois postos de fronteira no norte - uma zona povoada por sérvios em um território de grande maioria albanesa - degenerou até causar vários confrontos violentos nos últimos meses e o levantamento de barricadas.

Os choques - além de terem forçado um aumento da mobilização das tropas internacionais sob o comando da Otan - tiveram uma consequência política transcendental. No final de agosto, em um discurso pronunciado na capital sérvia, a chanceler alemã, Angela Merkel, deixou claro exigindo que a Sérvia "desmantele as estruturas paralelas" que mantém no norte de Kosovo. O discurso avisou Belgrado de que o caminho para a Europa não estava plano. A Sérvia acreditava ter terminado os deveres ao capturar Mladic, o general sérvio-bósnio considerado responsável pelo massacre de senhor e último que faltava entregar de uma lista de 46 criminosos de guerra procurados por Haia. Merkel disse pela primeira vez de maneira explícita que Kosovo é outra tarefa. A sensação de que salvo um obstáculo sempre aparece outro derrubou a confiança dos sérvios na UE. Uma pesquisa publicada na semana passada indica que só 46% da população desejam a integração, 7 pontos a menos que três meses atrás.

"Creio que para Tadic o discurso de Merkel foi uma grande surpresa. Acreditou que a entrega de Mladic seria suficiente", comenta de Sófia Ivan Krastev, diretor do Centro para Políticas Liberais, um grupo de pensadores especializado na região. As novas exigências europeias terão um papel relevante nas eleições legislativas sérvias previstas para a primavera de 2012. "Mas o assunto realmente determinante será a situação econômica. Este é um aspecto descuidado pelos observadores estrangeiros e que, no entanto, domina a agenda política." O índice oficial de desemprego na Sérvia supera os 20%. O real é provavelmente superior.

"Não é por acaso que há alguns dias se negou autorização para o desfile do Orgulho Gay em Belgrado. O mal-estar cresce. Os refeitórios sociais estão cada vez mais cheios. Nesse clima deve haver bastantes radicais com vontade de armar confusão", observa em conversa telefônica da Itália Luka Zanoni, analista do Observatório sobre os Bálcãs e o Cáucaso (OBC) e diretor de seu jornal. "A sensação é de que a Sérvia está à beira de uma explosão", conclui.

A insatisfação social, somada à propaganda sobre Kosovo, pode dar asas à oposição nacionalista e radical. Nas eleições presidenciais de 2008, o nacionalista Tomislav Nikolic conseguiu 48% dos votos, contra 50,3% de Tadic: só 100 mil votos de diferença.

Na Bósnia e Herzegovina a situação também é grave. No final de setembro fracassou a enésima reunião entre partidos das duas entidades que compõem o país - a bósnio-croata e a sérvia - para formar governo. Em 3 de outubro o país completou um ano sem executivo. "A arquitetura constitucional criada pelos acordos de paz de Dayton [em 1995, no final da guerra] com esse rígido tramado de poderes de veto, não funciona", explica Andrea Rossini, especialista em Bósnia do OBC. "E o desastroso é que os problemas agora procedem da entidade bósnio-croata do país, na qual não se chega a um acordo. Isto permite que a entidade sérvia se considere árbitro e sustente a teoria de que é muito melhor estar separados, cada etnia por seu lado."

Krastev se declara pessimista e observa que na Bósnia há de fato "uma nova fase de segregação étnica". Além disso, lamentavelmente, "os jovens percebem que a emigração é uma opção muito mais racional do que lutar por reformas", o que está sangrando o país de energias preciosas.

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