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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Folha de SP: Turquia e tensão no Oriente Médio

Istambul se mostra capaz de projetar forte influência e faz isso, seguramente, em contraposição ao Irã

O alegado plano iraniano de atentado contra o embaixador saudita na própria capital norte-americana veio trazer novo elemento de tensão ao cada vez mais conturbado Oriente Médio. A confrontação entre os EUA e o Irã corre o risco de descontrole caso se chegue ao ponto de algum recurso à força militar.

Obama faz claro uso eleitoral do episódio, mas custa crer que se disponha a algum ato de força, pelos riscos que isso acarretaria. Não se pode, contudo, descartar a hipótese de choque, até por acidente, dada a proximidade entre uma poderosa frota americana e o litoral iraniano.

Isso se dá quando crescem as incertezas sobre o que ocorrerá no Iraque e no Afeganistão, com a retirada das tropas norte-americanas, e na Síria e em outros países nos desdobramentos da Primavera Árabe.

O que vai ocorrendo na região é uma surpreendentemente rápida reconfiguração do panorama estratégico. Os erros dos EUA -despropositada invasão do Iraque, negligência e passividade ante o conflito entre Israel e palestinos- só fizeram abrir espaço para uma crescente projeção do poder iraniano na área.

Teerã tem considerável influência sobre o Iraque, graças à maioria xiita emancipada pela derrocada de Saddam Hussein. E conta com aliados no contexto do litígio árabe-israelense, por sua forte relação com a Síria de Assad, o Hizbollah no Líbano e o Hamas em Gaza. O programa nuclear iraniano é irreversível. Estará cada vez mais próximo da bomba, como acaba de indicar a AIEA (agência atômica internacional). E dispõe Teerã, naturalmente, de acentuado poder estratégico como um dos principais produtores de petróleo e país capaz de bloquear o fluxo do combustível na boca do golfo. Tudo isso para a consternação de Arábia Saudita e demais regimes vizinhos, que se sentem particularmente ameaçados.

Ademais das preocupações de segurança militar, há o fato de que o regime dos aiatolás conta também com a capacidade de insuflar as minorias xiitas submetidas aos regimes monárquicos sunitas.

Nisso tudo, surge nova e poderosa força na região: uma revigorada e cada vez mais legitimada Turquia, país com economia emergente e regime capaz de conciliar moderado componente islâmico com autêntico ambiente democrático. A Turquia, como o Irã, se apresta a preencher o vácuo que vai sendo criado pelo esmaecimento da presença dos EUA. Vê suas credenciais junto à rua árabe serem reforçadas pelo endurecimento para com Israel e por sua crescente presença econômica e diplomática.

Esnobada (até agora, pelo menos) pela União Europeia, que não a deseja como membro pleno, Istambul se mostra rapidamente capaz de projetar forte influência no Oriente Médio. Embora isso não seja dito com clareza, o faz seguramente em contraposição ao Irã. E não há dúvida de que o "modelo" turco tem muito mais a ver com a Primavera Árabe do que o autoritário regime teocrático iraniano.

A Turquia foi companheira do Brasil na desastrada tentativa de negociação do programa nuclear iraniano. Agora ainda mais influente na região -e havendo deixado para trás aquela frustrante aventura-, é promissor parceiro do Brasil. Foi, por isso, pertinente e oportuna a visita da presidente Dilma Rousseff.

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