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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Proposta de eliminação do posto de presidente evidencia luta política no Irã

Presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad
discursa na Assembleia Geral da ONU
Uma proposta incomum do líder supremo iraniano para eliminar a posição de presidente evidenciou uma luta cada vez mais amarga dentro da elite política do país, à medida que o líder e seus aliados continuam tentando cortar os poderes do ambicioso presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.

O líder supremo, Ayatollah Ali Khamenei, disse num encontro acadêmico na semana passada que “transformar o Irã num sistema parlamentar” no qual os eleitores não mais elegeriam um presidente não seria um problema. Suas palavras foram vistas amplamente como o último golpe numa batalha que começou em abril, quando Ahmadinejad ultrapassou um limite brigando abertamente com Khamenei – que tem a palavra final em questões de estado – sobre nomeações de gabinete.

Alguns analistas veem a disputa de poder como um legado da eleição presidencial disputada de 2009, quando acusações de fraude – e meses de protestos nas ruas – aprofundaram as disputadas e reduziram o apoio do líder supremo entre o público e a elite política. Embora Ahmadinejad tivesse o apoio do líder supremo tanto nas eleições de 2009 quanto nas de 2005, e os dois homens fossem vistos por muito tempo como almas gêmeas ideológicas, o presidente tentou construir uma base de poder independente, e muitos conservadores se sentem ameaçados por sua visão de um Irã menos dominado pelos clérigos.

O ataque velado de Khamenei contra a presidência atraiu respostas polarizadas. Ali Larijani, o porta-voz do Parlamento e rival de Ahmadinejad, endossou os comentários e pediu um sistema parlamentar. Um ex-presidente, Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, que às vezes lutou contra o líder supremo, alertou na terça-feira que eliminar a presidência seria “contrário à constituição e enfraqueceria o poder de escolha do povo”, de acordo com o jornal centrista Aftab News.

Outros partidários foram mais longe, com um jornal pró-Ahmadinejad, chamado Irã, parecendo zombar dos comentários do líder supremo. (O artigo foi logo retirado do site do jornal.)

“A luta no Irã é muito séria agora”, disse Seyed Mojtaba Vahedi, ex-editor do Aftab-e Yazd, um jornal reformista influente. “O líder supremo durante muito tempo quis mais controle sobre a presidência, mas ele nunca esperou ter esses problemas com Ahmadinejad.”

Eliminar a presidência aumentaria o poder de Khamenei, que foi nomeado como líder vitalício em 1989, controlando uma instituição ao invés de duas, disse Vahedi. No sistema parlamentar que Khamenei esboçou, os legisladores elegeriam um primeiro-ministro entre suas fileiras.

O líder supremo pode não querer arriscar mais tumulto e confronto ao eliminar a presidência enquanto Ahmadinejad estiver no poder, dizem alguns analistas, e até é possível que seus comentários tenham sido mais um golpe retórico, destinado a domar o presidente, do que uma proposta séria.

Mas outros analistas dizem que viram a eliminação da presidência como uma possibilidade para 2013, quando acontecerá a próxima eleição presidencial, ou logo depois.

“Um dos motivos pelo qual eles podem decidir eliminar o sistema presidencial é precisamente evitar outra eleição presidencial e toda a incerteza política e oportunidades de revolta popular que vêm com ela”, diz Karim Sadjadpour, analista do Carnegie Endowment para a Paz Internacional em Washington.

De qualquer forma, disse Sadjadpour, parece claro que Khamenei tentará garantir que o próximo presidente ou primeiro-ministro seja um subordinado fraco e confiável que ele pode controlar facilmente. Todos os três presidentes iranianos eleitos desde 1989 – Rafsanjani, Mohammad Khatami e Ahmadinejad – tiveram suas próprias agendas e ambições, e se tornaram problemas para o líder supremo em vários níveis.

Num certo sentido, as tensões atuais podem ser traçadas a 1989, quando a Constituição do Irã foi modificada para criar uma presidência poderosa como contrapeso ao líder supremo. O último presidente antes dessas mudanças foi Khamenei, e o primeiro-ministro cuja posição foi abolida na mesma época foi Mir Hussein Moussavi – o líder da oposição que alegou que a presidência foi roubada dele em 2009.

Uma medida da batalha entre Ahmadinejad e Khamenei é o escândalo bancário que está se desenrolando no Irã. As autoridades prenderam dezenas de pessoas no que chamaram de um esquema de fraude, e oponente de Ahmadinejad acusaram repetidamente seus associados mais próximos – inclusive seu chefe de gabinete, Esfandiar Rahim Mashaei – de estarem ligados ao principal suspeito.

A corrupção é rampante no Irã, e analistas dizem que o líder supremo e sua equipe devem há muito saber de (e possivelmente ter lucrado com) uma movimentação tão grande de dinheiro.

“Eles estão revelando isso agora só para atacar Ahmadinejad e seus aliados”, disse Vahedi, o ex-editor.

O escândalo bancário parece ser pelo menos em parte uma tentativa de prejudicar o baú de guerra de Ahmadinejad e seus aliados, que esperam manter o poder ao eleger candidatos nas eleições parlamentares de 2012 e na corrida presidencial de 2013, dizem os analistas.

O conflito mais amplo é na maior parte pelo poder, mas também tem um componente ideológico. Embora intensamente devoto, Ahmadinejad não leva muito em consideração os religiosos tradicionais do Irã e diz que os muçulmanos não precisam da intercessão dos clérigos para se contatar com o Imã Escondido, uma figura messiânica do Islã xiita. Conservadores criticaram o círculo do presidente – com frequência destacando Mashaei – como uma “corrente deturpada”.

O atrito polarizou a elite política e parece ter prejudicado o papel tradicional do líder supremo como um negociante, dizem os analistas. Embora Khamenei tenha derrotado os reformistas e o movimento de oposição que levou a protestos massivos nas ruas em 2009, a crise rompeu sua relação com membros da velha guarda de fundadores da República Islâmica, notavelmente Rafsanjani.

“O maquinário do governo está quebrando cada vez mais”, disse Ray Takeyh, integrante sênior do Conselho de Relações Exteriores. “Khamenei perdeu a velha guarda, a economia está em colapso, e agora ele está cada vez mais isolado internacionalmente. Será que ele pode sobreviver. Resta ver.”

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