Premiê interino aconselha colegas de outras ex-autocracias árabes sobre como lidar com demandas públicas da Primavera Árabe
Primeiro-ministro interino da Tunísia, Beji Caid Essebsi (dir.), cumprimenta o vice-chanceler chinês, Zhai Jun, que visitou Túnis em 7/3/2011 |
Conforme o país que deu início à Primavera Árabe se prepara para sua primeira eleição livre neste mês, o primeiro-ministro interino da Tunísia, Beji Caid Essebsi, tem um conselho para seus colegas no Egito, Líbia e outras antigas autocracias árabes sobre como lidar com as demandas de um público impaciente desencadeadas pelos levantes.
"Quando alguém está com fome pedindo comida, você precisa apenas dar o necessário", disse Essebsi, descrevendo sua abordagem gradual às demandas dos manifestantes por empregos e liberdade. "Você não dá mais, ou então ele poderia morrer, por isso adotamos uma abordagem passo a passo."
Essebsi, 84, foi escolhido como primeiro-ministro em fevereiro porque, durante uma longa carreira como oficial da ditadura tunisina, ficou conhecido por tentar mudar o sistema por dentro. Mas, como líder interino, viu-se obrigado a lidar com protestos contínuos exigindo empregos, salários e retaliação imediata contra os membros da antiga elite governante.
Ele disse que muitas vezes permitiu que os manifestantes se expressassem – mas às vezes viu a necessidade de reprimi-los. Essebsi disse que era uma escolha entre ceder ao caos ou afrouxar o controle gradualmente, fazendo uso de sua confiança na polícia de choque e no gás lacrimogêneo ocasionalmente para manter a ordem.
Sua abordagem conquistou um amplo apoio, mas também levou alguns ativistas a compará-lo ao ditador deposto Zine El Abidine Ben Ali.
Os partidários de Essebsi dizem que ele exemplifica as influências ocidentais e árabes entrelaçadas na Tunísia e em seu moderno pai fundador, Habib Bourguiba.
Essebsi cita com frequência o Alcorão de memória, segundo seus admiradores, mas até recentemente sua família possuía uma loja de vinhos. (O álcool é proibido no Islã. Essebsi não pôde ser contatado para comentar sobre essa questão, mas seu porta-voz disse que nunca o tinha visto beber álcool.)
Alguns ativistas, porém, o chamam de "um novo Ben Ali", que não conseguiu entregar as promessas da revolução de novos empregos e dignidade rápido o suficiente.
Com tudo isso, muitos observadores dizem que a Tunísia parece ter permanecido no caminho certo – especialmente em comparação com a confusão reinante após a segunda etapa das revoluções árabes, no Egito, onde o governo militar interino ainda prepara um complicado plano de múltiplos estágios que poderia atrasar o controle civil pleno até 2014.
Para uma transição bem-sucedida, "o elemento principal é que esses países têm de ser liderados por alguém que seja confiável, que tenha a confiança do povo", disse Essebsi, acrescentando que, quando assumiu o cargo, os manifestantes que ocupavam a praça de Casbah concordaram voluntariamente, sem coerção policial. "Se as pessoas confiam em seus líderes, elas esperam."
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