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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sem Berlusconi, direita italiana sofre com falta de liderança

Silvio Berlusconi

Foi um ano atrás. Silvio Berlusconi, sem crédito por sua incapacidade de enfrentar a crise e ridicularizado pela sequência de escândalos públicos e privados que marcaram seu último mandato, decidiu dar um fim àquilo; foi obrigado a deixar o poder sob a pressão conjunta dos mercados, da Comissão de Bruxelas e do Banco Central Europeu (BCE), bem como do presidente da República, Giorgio Napolitano, a quem entregou sua patética demissão no dia 12 de novembro de 2011.

Assim terminavam duas décadas de dominação política sobre a direita italiana que ele conseguiu unir – desde os órfãos da democracia-cristã, passando pelos pós-fascistas da Aliança Nacional até os separatistas anti-imigrantes da Liga Norte – graças a seu carisma, sua habilidade de manobras e seus meios financeiros ilimitados. Dessa reunião heterogênea e vitoriosa (em 1994, 2001 e 2008), só restam ruínas, sendo que o país deverá designar um novo presidente do conselho para suceder Mario Monti após as eleições gerais (legislativas e senatoriais) em abril de 2013.

Segundo as pesquisas, o Povo da Liberdade (PDL), partido fundado por Berlusconi em março de 2009, tem cerca de 17% das intenções de voto após ter se aproximado dos 40%. As eleições de 28 de outubro na Sicília, que tiveram e vitória do candidato da centro-esquerda, mais uma vez ilustraram seu declínio. Futuro e Liberdade para a Itália (FLI), o partido fundado por Gianfranco Fini após sua escandalosa ruptura com o “Cavaliere” em julho de 2010, mal chega aos 3%, sendo que ele aspirava encarnar uma direita moderna, liberal e laica. Os centristas da União do Centro (UDC), que se dizem os melhores representantes da “alma italiana” (moderada, católica e propensa a acordos), representam 7% dos eleitores. Sua estratégia de aliança segundo as circunstâncias (à direita ou à esquerda) não seduziu os italianos.

Por fim, os separatistas da Liga Norte deixaram de lado seu sonho de expansão eleitoral ao Sul do Pó, ocupados o suficiente em manter os redutos que ainda detêm no Norte. A Liga tem somente 8% das intenções de voto, contra quase 13% nas eleições regionais de 2010, no auge de sua influência.

Fragmentada, a direita italiana pós-berlusconiana também está sofrendo de uma ausência de liderança. E de quem é a culpa? Primeiramente, de Silvio Berlusconi. Na Itália, assim como em outros lugares, os líderes raramente pensam em sua sucessão, a menos que seja para destruir o sucessor que designaram. Um a um, Gianfranco Fini, Pierferdinando Casini, o líder dos centristas, Umberto Bossi, fundador da Liga Norte, e mais recentemente o “quarentão” Angelino Alfano, a quem Berlusconi confiou a administração do PDL, acreditaram que conseguiriam recuperar essa herança política. Mas o “Cavaliere” cansou a paciência de todos e cada um preferiu cultivar seu próprio feudo eleitoral em vez de esperar uma sucessão eternamente adiada.

Hoje, nenhum desses homens tem peso suficiente para preencher o vazio e unificar a centro-direita. A temporada de escândalos que levou Berlusconi à demissão tampouco os poupou. Duas das principais figuras da direita italiana foram derrubadas ou afetadas pelos casos políticos e financeiros do qual não conseguiram se reerguer. O caso mais devastador foi o de Bossi, que teve de abandonar qualquer responsabilidade operacional na Liga após a abertura de um inquérito judicial, na primavera de 2011, sobre a utilização com fins muito privados de fundos públicos alocados a seu partido. Fini continua a se debater em uma obscura história sobre um apartamento em Mônaco, oficialmente uma propriedade da Aliança Nacional, seu antigo partido, mas que na verdade pertence ao cunhado de Fini. Assim que ele achou que havia se livrado desse fardo, novas revelações apareceram para contrariar sua volta anunciada.

Do lado do PDL a situação não está muito melhor. Os repetidos escândalos nas regiões de seu domínio (Lácio e Lombardia, entre outras) evidenciaram as sistemáticas práticas de clientelismo, corrupção e enriquecimento pessoal. “Não reconheço mais meu partido”, contou Berlusconi, que na verdade já passou por muito pior.

Mas, supondo que esses partidos consigam se entender, resta saber que visão conjunta eles poderiam defender. O berlusconismo do qual eles foram os intérpretes não é uma ideologia, é no máximo uma maneira de manter o poder bordejando os supostos interesses do italiano médio. O berlusconismo é Silvio Berlusconi, ponto final. Liberal no início, católico por necessidade num país em que a Igreja sempre tem algo a dizer, atlantista e europeu por tradição, mas próximo dos governos fortes do Leste (Rússia e Belarus) ou do Grande Magrebe (Líbia), em razão dos interesses energéticos da Itália, Silvio Berlusconi fez contínuas manobras. Ele ficou famoso ao longo de seu último mandato – e depois, através de propostas de estímulo por meio da dívida pública, sendo que a dívida do país chega a 2 trilhões de euros, e através do questionamento à moeda única. Dessa bagunça de contradições, é impossível encontrar um fio condutor que permita no mínimo a construção de uma nova plataforma eleitoral para a direita.

Diante desses escombros, Berlusconi por muito tempo acreditou que poderia ser aquele que saberia fazer do passado uma tábula rasa para recomeçar. Seu histórico de conseguir reverter situações, sua inabalável autoconfiança e a fraqueza de seus rivais davam espaço a essa possibilidade. Desacreditado? Sim, mas não mais que seus adversários. Minoritário? Não mais que os outros. Durante um ano, ele se imaginou como uma opção quando o expurgo infligido pelo governo de Mario Monti teria desviado os italianos do prazer masoquista do rigor.

Durante um ano, ele explorou todas as vias de uma possível volta: novo partido, novo nome, novas alianças.  Experiente nas técnicas de marketing, ele mandou testar a “marca Berlusconi” através de todos os institutos de estudos de opiniões da Itália, até que os resultados dessas pesquisas, junto com uma condenação no dia 26 de outubro a quatro anos de prisão por um caso de fraude fiscal, vieram estragar seu sonho. Final de uma agonia política: aos 76 anos, não será ele a liderar sua ala pela sexta vez na disputa eleitoral da próxima primavera.

Então quem será? A deserção do líder histórico prenuncia uma recomposição geral da direita e do centro. Privado do apoio financeiro de seu fundador, o PDL precisa iniciar sua “desberlusconização” para reconquistar a confiança dos eleitores fartos de repetidos escândalos. As eleições primárias, previstas para dezembro, deverão apontar um novo líder. A Liga Norte, que confiou seu destino ao ex-ministro do Interior, Roberto Maroni, em parte rompeu com seu folclore (camisas verdes e rituais pagãos) para ajudar a esquecer o fim do lamentável reinado de Umberto Bossi e se apresentar como um partido de governo como outro qualquer. Gianfranco Fini tem procurado sair de seu esplêndido isolamento, que lhe vale uma boa imagem pessoal mas resultados eleitorais medíocres.

Por fim, a UDC tem feito vários contatos com as muitas organizações católicas para ascender “o partido dos moderados” do qual ele seria a expressão política. Silvio Berlusconi decidiu, pelo menos oficialmente, não se envolver. Esse desastre é sua vingança.

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