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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Alemanha e Inglaterra se confrontam no orçamento da UE

A chanceler alemã, Angela Merkel e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, assistem a um jogo da Seleção Inglesa pelas eliminatórias da Copa de 2014

A chanceler Angela Merkel da Alemanha passou a maior parte dos últimos três anos lutando uma dura batalha na Europa para evitar o desastre na abalada união monetária do euro.

Agora outro conflito europeu está assombrando Berlim, e desta vez o problema é a Inglaterra.

Depois de se dirigir ao Parlamento Europeu na tarde da quarta-feira (7), Merkel atravessou o Canal da Mancha para um jantar com o primeiro-ministro britânico, David Cameron. Os esforços dele para cortar os gastos da União Europeia (UE) ameaçam levar as negociações do novo orçamento de sete anos da UE a um impasse enfraquecedor.

Os acontecimentos prévios à reunião não eram promissores. Falando a jornalistas na terça-feira (6) numa visita a Abu Dhabi, Cameron atacou os planos da Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco de 27 países, para o que ele chamou de “um aumento absolutamente ridículo de 100 bilhões de euros no orçamento europeu”.

Uma porta-voz de Downing Street disse na quarta-feira (7) que Cameron estava pressionando “na melhor das hipóteses, por um corte, e na pior, por um congelamento em termos reais” no orçamento da UE. A porta-voz, falando em condição de anonimato, disse que um acordo quanto ao plano de gastos, que atualmente pede cerca de 1 trilhão de euros, ou 1,27 trilhões de dólares, de 2014 a 2020, “vai ser difícil”.

Em Bruxelas, antes de seu jantar com Cameron em Londres, Merkel prometeu lutar por uma forma de gastar melhor o orçamento da união. Falando no Parlamento Europeu, ela expressou confiança de que o orçamento para 2014-2020 poderá ser decidido numa reunião de cúpula de dois dias que os líderes europeus farão este mês. Diplomatas da UE expressaram uma visão bem mais pessimista, dizendo que a Inglaterra e uma série de outros países tinham empacado tanto que a reunião poderia se arrastar ao longo de três dias ou mais, ou que as discussões poderiam até mesmo se estender para o ano que vem.

Merkel também expressou um forte apoio para a Inglaterra permanecer na união e disse que sua visita a Cameron foi concebida para reforçar essa mensagem.

"Não consigo imaginar a Inglaterra não fazendo parte da Europa", disse Merkel, que lembrou que os soldados britânicos ajudaram a libertar seu país do nazismo durante a 2ª Guerra Mundial. "Eu acho que também é bom para o Reino Unido fazer parte da Europa", disse ela. "Se você tem um mundo de sete bilhões de pessoas e está sozinho nesse mundo, não acho que isso seja bom para o Reino Unido, e por isso vou fazer de tudo para manter o país na União Europeia como um bom parceiro, e é por isso que vou para Londres esta noite.”

Um analista disse que, se Cameron pudesse ser convencido a reduzir o calor de sua retórica e ser mais pragmático, então a Alemanha poderia se dispor a ajudá-lo. Mas um esforço de Cameron para tentar agradar seus próprios legisladores ameaçando abertamente bloquear o orçamento seria uma má notícia para Merkel, disse Joachim Fritz-Vannahme, diretor do programa europeu no Bertelsmann Stiftung, um instituto de pesquisa alemão.

"Uma vez que Cameron pronunciar a palavra 'veto', Merkel deverá temer uma segunda e profunda crise junto com a crise do euro", disse Fritz-Vannahme. "Isso não se encaixa no cenário dela, de forma alguma."

Merkel, que concorre à reeleição no próximo ano, quer projetar a imagem de uma Europa que emerge do trauma profundo causado por quase três anos de desordem financeira e econômica na zona do euro. Ela também quer avançar com a integração necessária para tornar o euro estável.

A Inglaterra, que manteve a sua própria moeda, não faz parte do grupo de 17 nações da zona do euro, mas tem sido tradicionalmente um membro importante da União Europeia mais ampla, com 27 países.

Ultimamente, porém, o crescente desprendimento da Inglaterra em relação à união, e seus esforços para definir uma relação menos estreita com o bloco – que gerou rumores de que ela até mesmo possa se retirar totalmente – estão tornando a visão de Merkel para a Europa mais difícil de se realizar. O debate britânico está incentivando bolsões de ceticismo quanto ao euro na Europa continental, alguns deles dentro da própria Alemanha, de acordo com Fritz-Vannahme.

Na Inglaterra, onde a opinião pública já está profundamente desconfiada da União Europeia, os legisladores do Partido Conservador de Cameron sentem a pressão do pequeno porém cada vez mais popular Partido da Independência do Reino Unido, que quer tirar a Inglaterra do bloco.

A resposta de Cameron a esse desafio tem sido a promessa de renegociar os termos de adesão da Grã-Bretanha à União e para colocar mais foco na Europa como um mercado econômico comum, enquanto rejeita uma união mais política. Se ele conseguir elaborar um acordo preliminar com o resto da União, provavelmente levará a questão de continuar na UE às urnas, para o povo britânico votar num referendo.

Enquanto isso, com a Inglaterra enfrentando seus maiores cortes de gastos públicos em décadas, qualquer aumento no orçamento da União seria profundamente impopular com os contribuintes britânicos. O Partido Trabalhista, na oposição, juntou-se na semana passada com os conservadores rebeldes para pedir um corte imediato no orçamento da União, em vez de apenas um congelamento.

Assim, a pressão política para falar duro sobre a Europa é irresistível. No ano passado, Cameron, vendo-se praticamente isolado, recusou-se a concordar com um acordo de inspiração alemã que pretendia consagrar a disciplina fiscal na zona do euro e na União Europeia mais ampla. Apesar de 25 países terem seguido em frente com o pacto, a recusa de Cameron de se alinhar com eles provou ser popular com os legisladores de seu país.

Na reunião de cúpula de líderes da UE este mês, Cameron deve manter seu terreno, buscando reduzir os gastos e preservar a “devolução orçamentária” da Grã-Bretanha. A devolução é essencialmente um reembolso, cujo valor varia de ano para ano, que visa compensar o fato de que o Reino Unido é um grande contribuinte líquido para as finanças da união.

Para Cameron, haverá uma forte tentação de vetar qualquer acordo de crédito e assim conseguir crédito político em seu país.

O paradoxo é que a Alemanha e a Inglaterra, que pagam mais ao orçamento da União do que recebem em subsídios, deveriam estar do mesmo lado no desejo de manter os gastos sob controle. A Alemanha até apoiou uma iniciativa anterior da Inglaterra pedindo moderação.

Mas agora os políticos na Alemanha estão pressionando Merkel para favorecer o compromisso quanto ao orçamento para chegar a um acordo, enquanto o clima na Inglaterra está levando Cameron a ser mais duro.

Embora o dinheiro em jogo num orçamento de sete anos da UE seja, sob alguns aspectos, relativamente pouco – cerca de 1% do produto interno bruto da Europa – a disputa ilustra a divisão crescente entre a política na Inglaterra e nos países do continente.

Os laços estão cada vez mais desgastados em vários níveis. Uma das promessas que Cameron fez para se tornar líder do Partido Conservador foi tirar o seu partido do principal grupo de centro-direita do Parlamento Europeu que apoia uma maior integração europeia. A decisão de deixar o grupo, que inclui membros alemães do Parlamento Europeu que fazem parte dos Democratas Cristãos de Merkel, irritou a chanceler alemã.

E os pedidos do Partido Trabalhista, na semana passada, por um orçamento comunitário menor geraram tensão em sua relação com outros partidos de centro-esquerda por toda a Europa.

Com um debate doméstico cada vez mais estridente sobre a Europa, a Inglaterra, cujos diplomatas geralmente são hábeis em negociações complexas, agora tem relativamente poucos aliados confiáveis no continente.

"Há uma distância maior do que nunca entre a Grã-Bretanha e o resto da união”, disse Fritz-Vannahme.

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