Trezentos militares brasileiros embarcaram ontem no Rio rumo ao Líbano. O grupo vai participar da missão de paz na ONU no país, mas familiares se despediram temendo conflitos.
Entre os embarcados na fragata União está o 3º sargento Gilson Clemente, que esteve em dois contingentes no Haiti, onde o Brasil lidera outra missão da ONU.
No primeiro deles, em 2006, foi ferido com estilhaços de bala na cabeça durante ocupação da favela Citè Soleil, considerada a mais perigosa no país caribenho.
"A gente está indo em missão de paz, mas preparado para qualquer situação. A família sabe disso. Lá, a gente passa as informações que eles podem saber", disse Clemente, 39. Fuzileiro naval, ele diz que decidiu entrar na Marinha ainda criança, quando assistia a filmes de ação.
"Sempre me via naquela situação. Gosto da área operativa. Vivo como se fosse na guerra. Gosto da guerra, mas para buscar a paz", afirmou.
Sua família assiste apreensiva, mas orgulhosa, à nova partida. "A gente sabe que ele está indo para combate. Mas confiamos que vai voltar bem", disse Valéria Cristina, 38, mulher do militar.
A força marítima da Unifil, nome da missão da ONU, é composta por navios da Alemanha, Bangladesh, Grécia, Indonésia e Turquia. É comandada pelo contra-almirante brasileiro Luiz Henrique Caroli. O envio da tropa foi aprovado na semana passada pelo Congresso. A principal missão do grupo é evitar o ingresso ilegal de materiais bélicos no Líbano, em permanente tensão entre grupos pró-Ocidente e a milícia xiita Hizbollah.
"Vamos verificar as embarcações que chegam. Se alguma não colaborar, teremos que intervir de forma enérgica", disse o comandante da fragata, Ricardo Gomes, 43.
É essa possibilidade que assusta a estudante Natasha, 12, filha do cabo Renato Linhares, 38. "Meus colegas de escola perguntam aonde ele vai. Fico com medo, porque ele vai tipo para a guerra."
Ontem, o coordenador especial da ONU para o Líbano, Michael Williams, disse que a missão recebeu ameaças nas últimas semanas, sem dar detalhes.
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