Os editores do 'International Herald Tribune' convidaram analistas de várias regiões para compartilhar suas impressões sobre a reeleição do presidente dos Estados Unidos
Da esquerda para direita: Michele Obama, Barack Obama, Joe Biden (vice-presidente dos EUA) e Jill Tracy Biden |
O resultado da eleição presidencial americana agradou ao Kremlin. A reeleição de Barack Obama implica a possibilidade de previsão nas relações entre EUA e Rússia. Não haverá nenhum repúdio ritual ou real aos quatro anos anteriores, nenhuma reavaliação de políticas passadas e nenhuma mudança abrupta no elenco dos personagens. Talvez até haja uma maior flexibilidade, como Obama prometeu a Dimitri Medvedev, nas questões mais espinhosas da relação entre os dois países, como no caso do escudo antimísseis. Entretanto, as relações precisam de uma profunda revisão. Se ao restabelecimento não se seguir uma reflexão, tanto os EUA quanto a Rússia acabarão conseguindo cada vez menos um do outro.
Nos últimos quatro anos, a política de Obama em relação à Rússia esteve orientada para o Afeganistão e o Irã. A cooperação com Moscou permitiu que os EUA transportassem tropas e material do e para o Afeganistão através da Rússia: uma enorme ajuda, considerando as condições no Paquistão. Também permitiu certa unidade entre as principais potências em relação às ambições nucleares do Irã. Além disso, Washington e Moscou selaram novo acordo relativo à redução de suas forças nucleares e conseguiram finalmente que a Rússia ingressasse na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Esse é certamente um feito formidável, mas não suficiente. As divergências a respeito da Síria e a falta de um acordo sobre o escudo antimísseis, a reação nos EUA aos acontecimentos internos da Rússia e a contrarreação do Kremlin ameaçam minar as relações. Tornar esse relacionamento estratégico, significará impedir que seja esmagado por desavenças externas e por grupos de interesse internos.
A Rússia merece um status estratégico na política externa americana? Consideremos o seguinte: Um acordo referente à cooperação em matéria de defesas antimísseis na Europa garantiria que o país dotado de um arsenal nuclear quase tão grande quanto o dos EUA deixasse de ser considerado um adversário militar em potencial. A ampliação da visão de Washington em relação à região da Ásia-Pacífico para incluir o país que tem uma fronteira de 4.350 quilômetros de extensão com a China, e o litoral mais extenso no Pacífico, tornaria o "pivô" mais realista.
Garantir que o Ártico seja considerado uma área de cooperação por excelência exigiria tratar com a Rússia, o maior dos cinco países deste litoral. Tratar com a Rússia não será fácil. Ela não é igual aos EUA, mas ferozmente independente; não é uma aliada, mas tampouco é um adversário intencional. Entretanto, a Rússia é crucial para o equilíbrio global no século 21 - e Obama não deve perder de vista isso.
A visão árabe
Ed Husain, PESQUISADOR SÊNIOR DE ESTUDOS SOBRE O ORIENTE MÉDIO NO COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS
"Gostaria que George W. Bush estivesse ainda no poder", comentou um destacado político liberal egípcio no Cairo, no início deste ano. "Pelo menos, nós sabíamos o que obteríamos de Bush". Não só no Egito, mas na Síria, Israel, Bahrein, Irã e até mesmo na Arábia Saudita há certa convicção de que não se pode confiar em Obama e nos EUA. Obama poderá mudar esta convicção em seu segundo mandato levando o seu estribilho "Eu quero dizer o que digo, e digo o que quero dizer" para a região mais instável do mundo.
Ele foi prudente em não intervir militarmente na Síria. Nos próximos meses, os rebeldes sírios, os países do Golfo e a Turquia tentarão atrair os EUA para os campos de batalha jihadistas com uma escalada da violência e do caos. Será que os EUA manterão sua moderação?
A vitória de Obama será vista como um sinal amarelo em Teerã. Para isolar ainda mais o Irã e estar preparado para as consequências das opções militares dos EUA, Obama não pode ignorar os palestinos. Talvez no seu segundo mandato ele venha a merecer tardiamente o Prêmio Nobel aproximando israelenses e palestinos num acordo.
De Israel
Shlomo Avineri, LECIONA CIÊNCIA POLÍTICA DA HEBREW UNIVERSITY DE JERUSALÉM E FOI DIRETOR-GERAL DO MINISTÉRIO DO EXTERIOR DE ISRAEL
Embora a política de Obama para o Oriente Médio em seu primeiro mandato tenha se revelado ocasionalmente equivocada e vaga, ele com certeza está mais preparado para enfrentar os desafios regionais do que Mitt Romney.
Os EUA devem se opor persistentemente ao fanatismo religioso radical, mantendo-se, ao mesmo tempo, firmes na proteção de seus interesses estratégicos e econômicos: mas não devem desencadear uma guerra ideológica ou estratégica contra o Islã. Romney seria incapaz desta estratégia diferenciada.
Obama tentou sugerir esta abertura em seu discurso no Cairo. Obama tem plena consciência das armadilhas de um envolvimento mais ativo no imbróglio sírio. Do mesmo modo, se for constatado que a diplomacia não conseguirá deter as ambições nucleares do Irã. Se tiver de adotar medidas mais fortes, Obama terá a legitimidade, interna e internacional, para fazê-lo. Ao contrário de Romney, ele não pode ser tachado de belicista inveterado. E, apesar das divergências entre Obama e Binyamin Netanyahu a respeito dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, a cooperação na área da segurança entre os dois países alcançou um grau sem precedentes nos últimos anos.
Tranquilo na Ásia
Chandram Nair, FUNDADOR E CEO DO GLOBAL INSTITUTE FOR TOMORROW, UM GRUPO DE ESPECIALISTAS DE TODAS AS PARTES DA ÁSIA
Para a maioria das pessoas na Mongólia o resultado nos EUA é irrelevante. Alguns americanos que vivem aqui disseram estar felizes por evitar o estado deprimente da política nos EUA, que ficou bastante óbvio durante todo o ano eleitoral. Enquanto outras pessoas falavam da troca nos postos de poder na China esta semana, um europeu que mora na China destacou que é por isso que o sistema chinês é mais eficiente.
Num artigo de outubro de 2008, eu sugeria que a agitação global em razão de Obama era equivocada. Depois dos oito anos desastrosos de George W. Bush, a classe média urbana intelectualizada queria que sua fé nos EUA fosse restabelecida, e isso não poderia ocorrer de maneira melhor senão com um presidente negro que prometia deixar o passado para trás.
Quatro anos depois, podemos afirmar que, para o restante do mundo, Obama não cumpriu as promessas em política externa. Em toda a Ásia, a reação à eleição tem sido atenuada. Os asiáticos despertaram há algum tempo para a realidade representada pelo fato de que o excepcionalismo promovido por programas políticos nacionais limitados é o elemento central da política externa americana, e eles têm de sofrer suas implicações globais.
Se cabe a Obama restaurar sua credibilidade, precisará fazer algo mais do que usar a retórica. Precisará convencer as pessoas na Ásia de que ele compreende que os EUA precisam ser humildes e aceitar as realidades da divisão de poder em um mundo em constante mudança. Ele tem muitas oportunidades para fazê-lo da maneira como trata com a China, Irã, Síria, Rússia - sem falar no caos no Afeganistão.
O nervosismo e o alívio europeus
Costanze Stelzenmüller, PESQUISADORA SÊNIOR DE QUESTÕES TRANSATLÂNTICAS NO GERMAN MARSHALL FUND OF THE UNITED STATES
O suspiro de alívio em Berlim era audível. Não que os alemães e os europeus tivessem recuado à ideia de um presidente Romney. Certamente, comentários como "A Rússia é o nosso inimigo geopolítico n.º 1" suscitaram certa reprovação nas capitais do continente, mas pareceu claro que um governo Romney, se eleito, procuraria adotar uma agenda centrista em política externa.
Os principais assessores de Romney, como Robert Zoellick ou Robert M. Kimmitt, são respeitados na Europa. E, embora a maioria dos estrategistas europeus tenha trabalhado com sucesso com o governo Obama, houve evidentemente decepções e desentendimentos: Guantánamo, escudo antimísseis, guerras travadas com drones, estímulo versus austeridade, apenas para mencionar alguns dos problemas. Por outro lado, é verdade que o novo mandato de Obama é limitado. Se as fotos da noite de terça-feira servirem remotamente de alguma indicação, os EUA continuam divididos. O impasse no Congresso e o "abismo fiscal" de 1.º de janeiro não perderam nada de sua urgência ameaçadora.
Então, por que o alívio? É simples. Nenhum de nós pode se dar o luxo de um novo começo. A temida repetição de um pesadelo eleitoral com uma mudança de rumo foi evitada. Indubitavelmente, haverá um novo secretário de Estado em Washington, mas um candidato como o senador John Kerry seria uma excelente escolha. Além disso, um novo governo ficaria atolado em inúmeras e intermináveis audiências de confirmação.
O fato é que, agora que o espetáculo às vezes execrável, ocasionalmente divertido, e só vez por outra edificante, destas eleições americanas acabou, está na hora de voltarmos a nos comportar seriamente. A crise de ambos os lados do Atlântico não diz respeito apenas a bancos ou hipotecas. O que continua em jogo é nada menos que a capacidade de recuperação das nossas economias, a honestidade das nossas democracias - e a preservação de uma ordem internacional livre e decente.
Os líderes de ambos os lados do Atlântico limitaram o crédito e o espaço de manobra dos seus públicos preocupados para destinar ao exterior recursos que poderiam ter sido usados internamente. Tudo isso significa que, com ou sem divergências, americanos e europeus precisam uns dos outros agora mais do que nunca. E, francamente, está na hora de os europeus se levantarem e dizer: "Sim, nós também podemos".
Um Obama Europeu?
Dominique Moïsi, ASSESSOR SÊNIOR DO INSTITUTO FRANCÊS PARA AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS E PROFESSOR VISITANTE DO KING'S COLLEGE EM LONDRES
A Europa acordou com uma profunda sensação de alívio. "Seu candidato" tinha conseguido, mais uma vez. Talvez o continente tenha quase desaparecido das telas de radar americanas, mas, para os europeus, os EUA mantiveram seu caráter central, senão estratégico. Os EUA talvez não sejam o que costumavam ser - a única potência indispensável -, mas os europeus acompanharam as eleições presidenciais com profundo interesse. Obama pode ter perdido grande parte de sua magia, mas o temor do que a vitória de Romney poderia significar talvez tenha substituído a sensação de esperança que predominou em 2008. No entanto, os europeus não entenderam por que os americanos hesitaram tanto em suas escolhas políticas.
Romney - que na realidade não é um mau homem - parecia um Don Draper que não bebe, um "homem do passado". Em contraposição, Obama é ainda a versão mais fria de personagens da série West Wing.
Há uma enorme diferença entre o significado real e simbólico dos resultados das eleições americanas para a Europa. O presidente americano não é mais "o presidente do mundo". Entretanto, uma derrota de Obama teria constituído um golpe simbólico não apenas para os EUA, mas para todo o mundo democrático ocidental. Ao eleger um presidente negro em 2008, os Estados Unidos obrigaram os europeus a fazer a si mesmos perguntas difíceis: "Seria possível um Obama francês, alemão ou italiano?" Se Obama tivesse sido derrotado em 2012, estas perguntas, com sua profunda mensagem universal de esperança, infelizmente teriam desaparecido. No mesmo sentido, a derrota de Obama teria sido um encorajamento para os defensores do conservadorismo social na Europa.
Num nível diferente, a derrota de Mitt Romney nos EUA depois da derrota de Nicolas Sarkozy na França é a prova de que se você perde os votos do centro por flertar excessivamente com as forças mais à direita, corre o risco de ser condenado à derrota. A vitória de Obama pode parecer como uma pílula amarga para Sarkozy - é possível ser reeleito em tempos de crise - mas é definitivamente encorajadora para Angela Merkel na Alemanha. Se o líder do Ocidente conseguiu, a líder da Europa também conseguirá.
Será o mt do mesmo, só q ligeiramente + light, e se kiser entrar na história terá de obrigar os nefaSStoSS judeuSS SSioniSStraSS a reconhecerem o ESTADO PALESTINO e bem próximo das fronteiras de 1967.Quem viver verá. Sds.
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