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sexta-feira, 28 de junho de 2013

No Líbano, Sídon teme ser lançada de volta aos anos da guerra civil

Mahmoud Zorkali caminha tropeçando em sua sala, ou melhor, naquilo que restou dos combates entre o exército regular e os combatentes do xeque salafista Ahmed al-Assir, no domingo (23) e segunda-feira (24), em Abra, um subúrbio pobre de Sídon, no sul do Líbano.

O chão está coberto de entulho e estilhaços de vidro, as paredes estão enegrecidas e os móveis, carbonizados. Através dos vidros quebrados da varanda, Mahmoud observa a fileira de prédios que o separa do ex-bastião islamita, a uma centena de metros. O exército, que assumiu o controle, ainda bloqueava seu acesso na quarta-feira (26). Depois das pesadas perdas que eles sofreram nessa mini-guerra (17 soldados mortos), os militares estão tensos.

Zorkali, 64, pula de susto com o barulho de uma explosão. A violência, desencadeada no domingo pelo ataque a um posto de controle de Abra, que matou três soldados, não recomeçou: o exército só está tirando as minas e bombas que foram colocadas no pequeno forte islamita. Na rua, operários consertam os cabos elétricos que foram danificados. Mas os residentes de Abra estão certos de que a batalha não acabou. Eles temem novos confrontos ou atentados.

Apesar da tomada do reduto de Ahmed al-Assir, um imame que se tornou célebre por suas diatribes contra o Hezbollah e contra o regime sírio, a caçada a ele está no seu auge. Mais de 120 mandados de prisão foram emitidos contra o xeque e seus asseclas. Nas entradas de Sídon, os soldados verificam a identidade das pessoas e revistam veículos. A cidade está controlada pelos militares.

Mahmoud, que veio olhar como estava sua casa na quarta-feira, ficou chocado. A sala foi devastada pelos combatentes salafistas. Ele imagina qual seria a origem dos ataques que destruíram outra parte do apartamento, que fica em frente a Haret Sídon --uma região controlada pelo Hezbollah e seu aliado Amal--, e mais ao longe, a um promontório, Mar Elias, para o qual milicianos teriam sido enviados. "Não sei quem atirou a partir dessas regiões. Digamos que nos sentimos como se aqui fosse Israel", ele conta.

"Estávamos morrendo de medo"
Dois jornalistas ocidentais afirmaram ter visto na noite de domingo que o Hezbollah participava dos combates. Segundo uma entrevista ao jornal "As-Safir", Hassan Fadlallah, um deputado do Partido de Deus, garantiu que os combatentes "não participaram das operações" de Abra, mas "se defenderam nos casos de extrema necessidade".

Dois andares acima da casa de Mahmoud, Nazira Ammar não consegue conter sua emoção. Essa diabética de 73 anos viveu os combates em seu banheiro, o único local que lhe parecia seguro. Prostrada sobre o vaso sanitário, com sua doméstica estrangeira agachada na banheira.

"Estávamos morrendo de medo. O prédio tremia violentamente, ouvíamos tiros aqui, granadas ali." Na sala, toca um telefone. "Mamãe, precisamos sair daqui. O exército vai lançar a ofensiva contra Ain el-Heloué --um acampamento palestino situado a leste de Sídon--, é perigoso!", se alarma sua filha, estendendo-lhe sua bolsa. A ofensiva não vai acontecer. Sídon está borbulhando com milhares de rumores, inclusive sobre o destino do xeque Al-Assir, que estaria refugiado entre os fundamentalistas de Ain el-Heloué.

Mais para baixo, em Haret Sídon, homens de uniforme paramilitar instalam faixas em homenagem a um certo Mohammed Saleh. Retratos dele foram colocados recentemente nos muros. Em uma floricultura, homens montam coroas fúnebres. Na loja ao lado, todas as mulheres usam preto. Elas dizem que o defunto foi morto em sua quitanda por um franco-atirador. O homem, que na verdade é um combatente ligado ao Hezbollah, foi enterrado com grande pompa na quarta-feira, enquanto um recruta filtrava o acesso ao funeral.

Qualquer que tenha sido o envolvimento de seus milicianos em Abra, não há nenhuma dúvida de que o movimento xiita tenha comemorado a queda do bastião salafista. Ele acusa os líderes sunitas tradicionais de Sídon de não terem contido o fenômeno Assir, ou até de o terem manipulado. A batalha de Abra pode acentuar o ressentimento dos sunitas, que se consideram lesados e impotentes diante do Hezbollah. Ainda mais se a participação do Partido de Deus for comprovada.

Em Sídon, os combates também reavivaram a lembrança funesta da guerra civil (1975-1990). "'Sunitas', 'xiitas', é só o que se ouve," fulmina uma moradora. "A animosidade está em seu ápice. E tudo isso por obscenas razões políticas."

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