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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Livro mostra experiência de britânicas enviadas à Alemanha nazista para estudar

Na década de 1930, muitas famílias inglesas enviavam suas filhas para terminar a escola na Alemanha nazista. Rachel Johnson, irmã do prefeito de Londres, entrevistou várias delas para seu livro recém-lançado. Rachel contou ao Spiegel Online sobre o entusiasmo do Reino Unido em relação ao Reich de Hitler.

Spiegel Online: Rachel, como foi que você descobriu que alguns membros de sua família estavam na Baviera em 1930?
Johnson: Alguns anos atrás, a BBC fez um programa sobre o meu irmão Boris e sobre nossa história familiar. Sempre nos disseram que minha avó paterna era francesa, mas como acabou vindo à tona, ela era alemã. O sobrenome dela era originalmente von Pfeffel e nossa família tinha descendentes em Munique. Minha avó materna foi à Baviera quando era uma colegial, na década de 1930. Mais tarde, quando eu me casei, descobri que minha sogra tinha estado em Munique praticamente na mesma época.

Spiegel Online: Uma estranha coincidência.
Johnson: O mais estranho de tudo é que minha sogra foi enviada da Inglaterra para Munique em abril de 1938, quando Hitler já estava se preparando para invadir a Tchecoslováquia [hoje República Tcheca] e a Polônia. Ela testemunhou a anexação da Áustria. Minha sogra chegou a correr até o carro de Hitler.

Spiegel Online: Como você decidiu abordar o passado em um romance?
Johnson: Eu fiz um documentário de rádio sobre a colônia inglesa que vivia na Alemanha antes da guerra, mas eu não tinha material suficiente para fazer um livro de não ficção. No entanto, a história das meninas inglesas na Baviera era fascinante. Por isso, eu decidi escrever um romance a partir do ponto de vista delas. Essas meninas estavam lá pouco antes da eclosão da guerra e, em alguns casos, se encontravam até mesmo próximas do governo alemão, saindo com Hitler e Hess. Enviar suas filhas para terminar a escola na Alemanha era a coisa certa a fazer naquela época.

Spiegel Online: Por quê?
Johnson: A Alemanha era, provavelmente, o nosso parceiro europeu mais próximo naquele momento. E não devemos nos esquecer de que George 5º mudou o nome de sua família de "Saxe-Coburgo e Gotha" para "Windsor" apenas em 1917, durante a 1ª Guerra Mundial. Portanto, ainda havia conexões aristocráticas e laços de amizade com a Alemanha no período entre as duas grandes guerras. Dois jornais abordaram as relações anglo-germânicas e publicaram reportagens sobre quão maravilhosa era a Alemanha, quão incrível eram as paisagens e quão formidável era Hitler. Os ingleses gostavam do fato de a Alemanha ser um lugar muito limpo.

Spiegel Online: Aonde as meninas britânicas na Alemanha iam normalmente?
Johnson: Algumas se mudaram para Berlim ou Dresden, mas a Baviera, com suas montanhas, castelos, museus e adegas de cerveja era mais atraente. Oberammergau era bem conhecida na Inglaterra. Minha avó materna estava na Baviera durante a década de 1930, e ela era judia. Ela gostava da ópera de Munique e de esquiar nas montanhas. Então, ela se apaixonou por um instrutor de esqui de Freiburg, que era membro do partido nacional-socialista. A família dele a chamava de "die Judin", a judia. O relacionamento deles saiu desastrosamente errado e ela voltou para a Inglaterra. Enquanto eu fazia as pesquisas para o meu livro, eu conheci uma dezena de mulheres inglesas que estavam na Alemanha entre 1935 e 1938. E a maioria delas já tinha mais de 90 anos quando eu as entrevistei.

Spiegel Online: O que elas te disseram?
Johnson: Eles disseram: "Foi a melhor época de nossas vidas". Elas se sentiam fantásticas por estarem na Alemanha durante o Terceiro Reich. "Foi o ponto alto de minha vida", uma delas me disse. Para elas, foi uma experiência muito rica, pois a Inglaterra era muito retrógrada naquela época --muita gente desempregada, uma comida horrível e um clima frio e desagradável. Na Baviera, elas tinham o ar fresco da montanha, uma vida saudável, a ópera, as montanhas e bonitos rapazes alemães vestidos com uniformes. Aquelas meninas não podiam acreditar em quão sortudas elas eram! Sem acompanhantes ou pais para vigiá-las. Elas tinham tudo, inclusive sexo.

Spiegel Online: O que elas pensavam sobre os alemães?
Johnson: Elas os adoravam! Eu perguntei às mulheres: "Você estava apaixonada naquela época?" E elas disseram: "O tempo todo, por todo mundo." Elas normalmente passavam seis meses na Alemanha, iam a festas e eram festejadas. É claro que elas não eram pobres. A taxa de câmbio era favorável a elas.

Spiegel Online: Elas estavam conscientes dos perigos representados pelos nazistas?
Johnson: Elas não sabiam de nada. Elas viam uma placa em uma piscina dizendo "judeus proibidos" e elas pensavam: "O que é um judeu?" Elas não conheciam nenhum judeu. Além disso, elas eram garotas de classe média alta e, por isso, os pais delas, quase que por definição, eram provavelmente muito antissemitas. Aquela era uma época antissemita, e não apenas na Alemanha. Havia a ascensão da extrema-direita, os camisas marrons e Oswald Mosley, líder da União Britânica de Fascistas. A família da minha sogra tinha atitudes típicas dos aristocratas desse período. Eles eram muito pró-alemães. O pai de minha sogra era presidente da Aliança Anglo-Alemã, que foi criada para aproximar mais os dois países. Ele fazia discursos na Câmara dos Lordes dizendo Hitler que era um cara legal.

Spiegel Online: O que as mulheres disseram sobre Hitler durante as entrevistas que você fez com elas?
Johnson: Elas não disseram nada de bom sobre ele, mas isso não vai mudar a opinião delas sobre o que sentiam antes da guerra. Para elas, aquela foi a época perfeita. Talvez elas tenham visto a SS marchar pelas ruas, mas, basicamente, elas estavam se divertindo. "Hitler era maravilhoso, o problema é que ele foi um pouco longe demais", uma das mulheres me disse. Outras me disseram que não podiam acreditar que essas pessoas maravilhosas, com as quais elas passaram um período tão feliz, podiam ser capazes de coisas como aquelas. Temos que nos lembrar de que, durante a década de 1930, a Inglaterra estava passando por uma recessão generalizada. E, então, essas meninas foram para a Alemanha e, na superfície, tudo parecia bem. Elas não sabiam o que o regime estava fazendo, elas não sabiam sobre as leis de Nuremberg. Uma delas me contou sobre seu professor de música, que desapareceu de repente. Ele era judeu e teve que fugir. Ninguém ficou desconfiado. Foi uma cegueira voluntária.

Spiegel Online: Quando é que isso mudou?
Johnson: Os ingleses se voltaram contra a Alemanha em setembro de 1939, após a invasão da Polônia. A maioria dos britânicos teve que deixar a Alemanha naquele verão. A única que restou em Munique foi Unity Mitford, uma proeminente nazista britânica, grande fã de Hitler e membro de seu círculo íntimo. De certa maneira, Unity foi um exemplo extremo do fascínio e admiração dos ingleses por Hitler. Os pais dela foram para a Alemanha e tentaram fazê-la retornar para a Inglaterra, mas ela se recusou. Eles tiveram que ir embora sem ela.

Spiegel Online: Apesar de seu tema, o livro "Winter Games" ("Jogos de Inverno", em tradução livre) não é um romance tristonho nem trágico. Como tem sido a reação à obra?
Johnson: Foi um livro muito difícil de promover. As pessoas ainda pensam que esse é um assunto perigoso. Eu falei sobre isso durante a semana do Livro Judaico em Londres. O público era quase inteiramente formado por judeus. A primeira pergunta que me fizeram foi: "Qual é o apelo dos nazistas para você, Rachel?"

Spiegel Online: Você foi para Berchtesgaden, onde muitos dos principais líderes nazistas tinham casas de veraneio, para fazer uma viagem de pesquisa. Qual foi a sua impressão?
Johnson: Eu achei o lugar muito sombrio. Por acaso, eu fui para lá durante a época do aniversário de Hitler. Vi as pessoas acenderem velas no local onde ficava Berghof, sua antiga residência (localizada em Obersalzberg, nos Alpes Bávaros). Isso foi muito estranho. As montanhas e as paisagens ao redor do lago Königsee são lindas, mas é muito difícil evitar a história desse lugar --ou, como o pessoal que trabalha com turismo diz, é quase impossível evitar "o passado difícil".

Spiegel Online: Por que os britânicos ainda são tão obcecados com os nazistas, com Hitler e com a 2ª Guerra Mundial?
Johnson: É bizarro, não é? Eu acho que há mais livros em inglês publicados sobre o nazismo do que sobre qualquer outro tema. Esse continua sendo um período de grande fascínio, um momento de grande perigo, mas também um período de grande bravura por parte dos ingleses. Eu pensei que seria importante tentar contar essa parte do nosso passado a partir da perspectiva de algumas garotas jovens e um tanto ingênuas.

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