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terça-feira, 25 de junho de 2013

Pentágono indica que homens são maioria entre vítimas de agressões sexuais nas Forças Armadas

Este ano, o tema das agressões sexuais tem sido uma das questões mais importantes para os militares norte-americanos. O número de denúncias de abuso vem aumentando, assim como as dúvidas sobre se os comandantes estão levando o problema a sério. Projetos de lei para endurecer as penalidades e acusações foram apresentados no Congresso norte-americano.

Mas, em um debate que tem se concentrado, em grande parte, nas mulheres que atuam nas forças armadas, um fato geralmente tem sido esquecido: todos os anos, a maioria dos integrantes do serviço militar vitimados pela violência sexual é homem.

Em seu último relatório sobre a questão do abuso sexual nas forças armadas, o Pentágono estima que 26 mil militares tiveram algum tipo de contato sexual indesejado em 2012, contra 19 mil 2010. Desses casos, segundo o Pentágono, 53% envolveram agressões contra homens e foram, sobretudo, ataques praticados por outros homens.

"É fácil para algumas pessoas destacar as mulheres desse universo e dizer: 'Um pequeno percentual das forças armadas está tendo esse tipo de problema'", disse o primeiro-tenente Adam Cohen, que afirmou ter sido estuprado por um oficial de patente superior a sua. "Ninguém quer admitir que esse problema afeta todo mundo. Ambos os sexos, de todas as patentes. É um problema cultural."

Embora as mulheres, que compõem aproximadamente 15% das Forças Armadas dos EUA, tenham uma probabilidade significativamente mais elevada do que os homens de serem vítimas de violência sexual entre os militares, especialistas dizem que agressões dessa natureza contra os homens têm sido amplamente subnotificadas. Por esse motivo, a maioria das queixas formais de agressão sexual entre militares foi apresentada por mulheres, apesar de se acreditar que a maioria das vítimas seja do sexo masculino.

"Os homens não reconhecem quando são vítimas de abuso sexual", disse Carol O'Brien, chefe dos programas de transtorno de estresse pós-traumático do Sistema de Assistência Médica para Veteranos Bay Pines, da Flórida, que tem um programa de tratamento residencial para veteranos sexualmente abusados. "Os homens tendem a sentir muita vergonha, além de constrangimento e medo de que os outros reajam negativamente (ao relato de abuso)."

Mas, nos últimos meses, os intensos esforços empreendidos pelo Capitólio para coibir a violência sexual entre militares e o lançamento de um novo documentário sobre os homens vítimas de agressões sexuais dentro das Forças Armadas dos EUA, intitulado "Justice Denied" ("Justiça Negada"), jogaram nova luz sobre os homens que sofrem e sofreram esse tipo de abuso. Os defensores desses militares dizem que a situação deles demonstra que os casos de agressão sexual aumentaram não porque há mais mulheres nas forças armadas, mas porque a violência sexual é, muitas vezes, tolerada.

"Eu acho que contar a história das vítimas do sexo masculino é a chave para mudar a cultura dos militares", disse Anuradha K. Bhagwati, diretora-executiva da Rede de Ação das Mulheres Militares, grupo de defesa que criticou duramente a forma como o Pentágono tem lidado com casos de agressão sexual. "Para mim, o ônus recai sobre a instituição quando as pessoas percebem que os homens também são vítimas desses abusos."

O Departamento de Defesa dos EUA diz que está desenvolvendo projetos para incentivar um número maior de homens a delatar esse tipo de crime. "O foco de nossos esforços de prevenção durante os próximos meses estará especificamente voltado para os sobreviventes masculinos de abusos e incluirá os motivos pelos quais os sobreviventes masculinos fazem muito menos denúncias contra seus abusadores do que as sobreviventes do sexo feminino. Esses esforços também determinarão o tipo de suporte e a assistência de que os sobreviventes masculinos precisam", disse em comunicado Cynthia O. Smith, porta-voz do departamento.

Em entrevistas, cerca de uma dúzia de integrantes e ex-integrantes das Forças Armadas dos EUA que afirmaram ter sido vítimas de violência sexual em serviço revelaram que temiam ser punidos, ignorados ou ridicularizados caso relatassem os abusos. A maioria disse que, antes de 2011, quando a proibição à presença de membros abertamente homossexuais nas forças armadas foi revogada, eles teriam sido colocados na reserva caso tivessem admitido qualquer contato sexual --mesmo contato não desejado-- com outros homens.

"Em 1969, ninguém se atrevia a dizer uma palavra", disse Gregory Helle, autor que afirma ter sido estuprado por outro soldado em seu quartel quando ambos serviram no Vietnã. "Eles não teriam acreditado em mim. A homofobia era muito grande naquela época."

Thomas F. Drapac diz que foi estuprado três vezes por marinheiros de patente superior à dele em Norfolk em 1966. Drapac disse que, em todas as ocasiões, ele havia bebido e, por isso, temia que os promotores pudessem pensar que o abuso havia sido sexo consensual. Partes da história dele podem ser corroboradas por registros arquivados no Departamento de Veteranos.

"Durante a década de 1960, se você registrasse uma queixa (relacionada a abuso sexual), você era considerado gay e eles acreditavam que você estava saindo do armário. E a coisa acabava por aí", disse ele.

Drapac, 66, disse que, durante as décadas que se seguiram às agressões, ele decidiu manter segredo sobre os estupros --e tentou combater os pesadelos recorrentes e as dúvidas sobre sua sexualidade por meio da ingestão de álcool e drogas. Mas, vários anos atrás, Drapac começou a fazer terapia no Departamento de Veteranos --e decidiu recentemente contar sua história após tomar conhecimento dos relatos feitos por mulheres que também foram vítimas de agressão sexual.

"Atualmente, a melhor coisa que está acontecendo é que a questão das mulheres está vindo à tona e também há menções sobre os estupros masculinos", disse ele.

Muitas agressões sexuais praticadas contra homens do serviço militar parecem ser uma forma de trote violento, bullying ou intimidação, disse Roger Canaff, ex-promotor de justiça do Estado de Nova York que ajudou a treinar promotores sobre o tema da violência sexual entre militares, para o Pentágono. "Os atos pareciam ser menos motivados por impulsos sexuais e mais motivados pelo desejo de humilhar ou torturar", disse ele.

Mas essas agressões podem ser profundamente traumatizantes, fazendo com que os homens questionem sua sexualidade ou se vejam como fracos. Alguns disseram que suas próprias famílias pareciam sentir vergonha deles.

"Ser uma vítima do sexo masculino é horrível", disse Theodore James Skovranek II, que afirmou ter sido sexualmente atacado no exército norte-americano em 2003. Algumas pessoas lhe disseram que o ataque, durante o qual outro soldado esfregou seus órgãos genitais no rosto de Skovranek depois de eles terem saído para beber com amigos, não foi algo tão grave. Mas a agressão o fez questionar sua masculinidade.

"Durante muito tempo eu não conseguia me sentir como homem", disse Skovranek, que deixou o exército em 2005. "Mas eu também não me sentia como uma mulher. Por isso, eu sinto apenas um vazio."

Rick Lawson disse que, enquanto atuava na Guarda Nacional do Exército em Washington, nos anos de 2003 e 2004, ele sofreu repetidas intimidações de natureza sexual por parte de um grupo de soldados, incluindo um sargento que esfregou sua virilha nas nádegas de Lawson e também pulou em sua cama e fingiu abraçá-lo. Posteriormente, durante os preparativos para sua ida ao Iraque, um sargento algemou Lawson e o imobilizou com uma chave de pescoço enquanto outro fingia sodomizá-lo, disse Lawson.

Vários meses depois de sua unidade ter desembarcado no Iraque, em 2004, Lawson decidiu denunciar o bullying. Seus agressores foram punidos com a redução de patente, segundo mostram os registros do exército norte-americano. Mas ele teve que concluir seu período no Iraque convivendo com seus agressores na mesma base.

Depois que Lawson voltou a Washington, ele recebeu um diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático e foi dispensado do exército em 2006. Ele teve depressão e perdeu um emprego. Só então ele decidiu criar um grupo de defesa para veteranos.

"Muitas pessoas dizem que esse problema só existe porque nós estamos permitindo que as mulheres entrem para o serviço militar ou por causa da revogação da política 'não pergunte, não conte'", disse Lawson, referindo-se à proibição à atuação de membros declaradamente gays nas forças armadas. "Mas isso é um absurdo. As pessoas que cometeram esses crimes contra mim se identificam como homens heterossexuais."

Embora a grande maioria das agressões sexuais registradas dentro das Forças Armadas dos EUA ocorra entre homens, um pequeno número de homens relatou ter sido violentado por mulheres.

Richard H. Ruffert, 50, disse que sua chefe em uma unidade da reserva do exército do Texas ameaçou avaliá-lo negativamente caso ele não fizesse sexo com ela. Ruffert disse que o sexo e as ameaças, ocorridos no final da década de 1990, continuaram por cerca de dois meses --até ele tentar o suicídio. Em seguida, ele contou o que estava ocorrendo a um comandante e, após uma longa investigação, a chefe de Ruffert foi transferida. Mas ele acredita que ela nunca foi punida.

Ele se aposentou do serviço militar em 2004 e passou vários anos lutando contra pesadelos e o vício em drogas, e vivendo na rua --coisas que Ruffert atribui à agressão sexual sofrida por ele. Mas a terapia e o trabalho com veteranos o ajudaram, disse Ruffert.

No entanto, ele não se sente confortável para namorar mulheres atualmente. "Isso mudou completamente a minha vida", disse Ruffert, que aparece no filme "Justice Denied".

Muitos especialistas acreditam que a revogação da política "não pergunte, não conte" fará com que um número muito maior de homens denuncie os abusos sexuais. Esse foi o caso do tenente Cohen, que diz ter sido estuprado em 2007 por um oficial do exército que conheceu na faculdade. Na época, o tenente Cohen estava se preparando para entrar para a Força Aérea.

Depois de, inicialmente, ter permanecido em silêncio sobre o episódio, ele apresentou uma queixa aos investigadores da Força Aérea, no final de 2011, após a política "não pergunte, não conte" ter sido revogada. Mas a investigação tomou um rumo surpreendente: depois que o tenente Cohen retornou de uma temporada de cinco meses no Afeganistão, ele soube que havia se tornado alvo da investigação e que já não era visto como vítima.

Atualmente, o tenente, de 29 anos, enfrenta um processo no tribunal marcial por várias acusações, incluindo conduta imprópria. O major John Bellflower, advogado do tenente Cohen e especialista em vítimas de abuso, disse que os investigadores da Força Aérea aparentemente usaram informações fornecidas voluntariamente pelo tenente para estruturar as acusações contra ele, numa possível violação de seus direitos.

Recentemente as forças armadas disseram ao tenente Cohen que seu caso de agressão sexual seria reaberto. Nesse meio tempo, no próximo mês de julho, Cohen terá de enfrentar um julgamento --o que, para ele, é uma espécie de castigo pela apresentação de uma queixa-crime contra um oficial superior. A Força Aérea dos EUA nega as acusações de Cohen.

"Eu acredito que a atenção a essa questão é absolutamente necessária", disse o tenente Cohen. "Mas agora é um pouco tarde. Os abusos ainda acontecem e ainda há retaliações."

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