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terça-feira, 18 de junho de 2013

Le Monde: Iranianos fizeram "rave" após saber de resultado da eleição presidencial

Hassan Rohani
Poucos minutos após o anúncio dos resultados das eleições pelo canal de televisão oficial, às 22h do sábado (15), ressoaram as primeiras buzinas. Milhares de iranianos saíram às ruas de Teerã para expressar sua alegria. A pedido expresso do Guia Supremo Ali Khamenei e dos seis candidatos, eles esperaram pacientemente pelo fim da contagem das cédulas de votação. Era uma das precauções tomadas pelo regime para evitar uma repetição dos incidentes de 2009.

A capital, vítima diária de engarrafamentos, logo virou de pernas para o ar. Perto da praça Enqelab ("revolução" em persa), jovens de ar descolado improvisavam uma mini "rave". Eles pararam seus carros no meio do cruzamento, um deles abriu o porta-malas e os alto-falantes, discretos mas potentes, soltaram um hit americano. Rapazes e garotas logo começaram a dançar, o que em princípio é totalmente proibido no espaço público iraniano. "Estamos felizes! Viva a liberdade! Viva o Guia!", se exaltou Farideh.

Desde o início da noite, o sorriso não deixou mais os lábios carmim dessa jovem assistente médica francófona. "Estamos comemorando a eleição de nosso novo presidente Hassan Rohani. E também estamos celebrando nossa vitória roubada em 2009!" Ao lado dela, seu amigo aprovava, complementando: "Após a última eleição presidencial, saí para as ruas em protesto contra as fraudes... Os bassidjis – milicianos – bateram na minha cabeça. Então hoje essa vitória é a nossa mais bela revanche".

"Agora tudo vai ser melhor", diz Farideh. "Meus amigos terão trabalho, vão poder se casar". No Irã, o casamento depende de negociações financeiras: sem dote, não há nenhuma chance de obter a mão de sua pretendente. Farideh se põe a sonhar: "E quando a economia estiver melhor, poderemos viajar, sonho em conhecer Paris!"

Do outro lado do cruzamento, Hassan e sua esposa observavam bem-humorados os jovens dançando. "Eu era professor de ciência política na Universidade de Teerã. Minhas ideias, minhas aulas, não correspondiam em nada à linha dura imposta por Mahmoud Ahmadinejad... Então me demitiram. Perdi meu emprego por causa de Ahmadinejad! Na época, e sobretudo depois de 2009, pensei em tomar o caminho do exílio, mas por fim fiquei em meu país. Queria continuar lutando por dentro do sistema".

Um pequeno grupo se formou ao redor de Hassan e o escutava, mas isso não o preocupava em nada. Nessa noite de sábado, tudo parecia permitido em Teerã. "A vitória dos reformistas, nesta noite, prova que a democracia no Irã está avançando. Aos poucos, mas está avançando, e, acima de tudo, ela é possível no contexto da República Islâmica! Khamenei finalmente entendeu que precisava nos escutar! Finalmente entendeu que a mudança de direção é indispensável para a economia e para a imagem internacional do Irã".  Não há mais o que dizer.

Um Peugeot "Jennifer Lopez" passou. O nome desse modelo inventado e fabricado no Irã faz uma referência ao porta-malas superdimensionado feito para acomodar o piquenique de família. A senhora de xador, e o senhor de barba. "Viva Moussavi!", ele gritou agitando pela janela uma foto do seu candidato de coração. O senhor preferiu não comentar. A libertação de dois líderes reformistas, Mir Hossein Moussavi e Mehdi Karoubi, constava entre as promessas eleitorais do novo presidente, mas, nessa questão, assim como em outras, ele não será o único a decidir.

No sábado à noite, nas ruas de Teerã, eram muitas as famílias tradicionais festejando aquilo que seria também a vitória "delas". A maior parte, que votou em Ahmadinejad nas últimas eleições de 2009, hoje se arrependeu.

"Esses oito últimos anos... que Deus não perdoe jamais o governo por sua política em relação aos jovens! O governo oprimiu os jovens! Os jovens não podem se casar, nem comprar casa", se enervava Fatemeh Zahra, uma mãe de família usando xador.

Irritada com a crise econômica e com as sanções internacionais, uma parte da classe média conservadora votou, desta vez, no candidato da mudança. Com menos medo ainda pelo fato de Hassan Rohani tranquilizá-los. "É um religioso," ela disse. "Podemos confiar nele".

Ontem à noite, em Teerã, pairava um ar de "reconciliação": os reformistas estão felizes de ver sua voz sendo finalmente ouvida e reconhecida. Quanto aos conservadores, eles se contentam em dividir o poder. O período de "coabitação" pode começar com o Guia Supremo, Ali Khamenei.

Será que o novo presidente reformista, Hassan Rohani, conseguirá cumprir suas promessas de campanha? Não há certeza disso. Há quem não acredite. Estes não votaram nem comemoraram nas ruas de Teerã.

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