Hassan Rohani |
A capital, vítima diária de engarrafamentos, logo virou de pernas para o ar. Perto da praça Enqelab ("revolução" em persa), jovens de ar descolado improvisavam uma mini "rave". Eles pararam seus carros no meio do cruzamento, um deles abriu o porta-malas e os alto-falantes, discretos mas potentes, soltaram um hit americano. Rapazes e garotas logo começaram a dançar, o que em princípio é totalmente proibido no espaço público iraniano. "Estamos felizes! Viva a liberdade! Viva o Guia!", se exaltou Farideh.
Desde o início da noite, o sorriso não deixou mais os lábios carmim dessa jovem assistente médica francófona. "Estamos comemorando a eleição de nosso novo presidente Hassan Rohani. E também estamos celebrando nossa vitória roubada em 2009!" Ao lado dela, seu amigo aprovava, complementando: "Após a última eleição presidencial, saí para as ruas em protesto contra as fraudes... Os bassidjis – milicianos – bateram na minha cabeça. Então hoje essa vitória é a nossa mais bela revanche".
"Agora tudo vai ser melhor", diz Farideh. "Meus amigos terão trabalho, vão poder se casar". No Irã, o casamento depende de negociações financeiras: sem dote, não há nenhuma chance de obter a mão de sua pretendente. Farideh se põe a sonhar: "E quando a economia estiver melhor, poderemos viajar, sonho em conhecer Paris!"
Do outro lado do cruzamento, Hassan e sua esposa observavam bem-humorados os jovens dançando. "Eu era professor de ciência política na Universidade de Teerã. Minhas ideias, minhas aulas, não correspondiam em nada à linha dura imposta por Mahmoud Ahmadinejad... Então me demitiram. Perdi meu emprego por causa de Ahmadinejad! Na época, e sobretudo depois de 2009, pensei em tomar o caminho do exílio, mas por fim fiquei em meu país. Queria continuar lutando por dentro do sistema".
Um pequeno grupo se formou ao redor de Hassan e o escutava, mas isso não o preocupava em nada. Nessa noite de sábado, tudo parecia permitido em Teerã. "A vitória dos reformistas, nesta noite, prova que a democracia no Irã está avançando. Aos poucos, mas está avançando, e, acima de tudo, ela é possível no contexto da República Islâmica! Khamenei finalmente entendeu que precisava nos escutar! Finalmente entendeu que a mudança de direção é indispensável para a economia e para a imagem internacional do Irã". Não há mais o que dizer.
Um Peugeot "Jennifer Lopez" passou. O nome desse modelo inventado e fabricado no Irã faz uma referência ao porta-malas superdimensionado feito para acomodar o piquenique de família. A senhora de xador, e o senhor de barba. "Viva Moussavi!", ele gritou agitando pela janela uma foto do seu candidato de coração. O senhor preferiu não comentar. A libertação de dois líderes reformistas, Mir Hossein Moussavi e Mehdi Karoubi, constava entre as promessas eleitorais do novo presidente, mas, nessa questão, assim como em outras, ele não será o único a decidir.
No sábado à noite, nas ruas de Teerã, eram muitas as famílias tradicionais festejando aquilo que seria também a vitória "delas". A maior parte, que votou em Ahmadinejad nas últimas eleições de 2009, hoje se arrependeu.
"Esses oito últimos anos... que Deus não perdoe jamais o governo por sua política em relação aos jovens! O governo oprimiu os jovens! Os jovens não podem se casar, nem comprar casa", se enervava Fatemeh Zahra, uma mãe de família usando xador.
Irritada com a crise econômica e com as sanções internacionais, uma parte da classe média conservadora votou, desta vez, no candidato da mudança. Com menos medo ainda pelo fato de Hassan Rohani tranquilizá-los. "É um religioso," ela disse. "Podemos confiar nele".
Ontem à noite, em Teerã, pairava um ar de "reconciliação": os reformistas estão felizes de ver sua voz sendo finalmente ouvida e reconhecida. Quanto aos conservadores, eles se contentam em dividir o poder. O período de "coabitação" pode começar com o Guia Supremo, Ali Khamenei.
Será que o novo presidente reformista, Hassan Rohani, conseguirá cumprir suas promessas de campanha? Não há certeza disso. Há quem não acredite. Estes não votaram nem comemoraram nas ruas de Teerã.
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