Presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, atualmente submetido a um tratamento de saúde em Paris, na França |
"A partir deste dia, todas as praças públicas e jardins ficarão animados todas as noites até as 23h", ele explicou, na véspera, em seu gabinete.
Não é uma iniciativa privada ou mesmo local, é uma instrução vinda da cúpula do Estado. Argel precisa ressuscitar as noites.
Em visita a Batna, em Aurès, no dia 4 de junho, o primeiro-ministro Abdelmalek Sellak deu o exemplo: "Os jovens precisam viver, não podemos mandar eles dormirem logo após a oração da noite".
Neste momento em que a Argélia se encontra mergulhada na incerteza sobre o exercício do poder desde que seu presidente, Abdelaziz Bouteflika, foi internado em Paris, no dia 27 de abril, as autoridades têm feito vários gestos de abertura para conter os movimentos recorrentes de fúria de seus jovens, à medida que se aproxima o mês do Ramadã. É um período sempre delicado, durante o qual os preços disparam.
Diante dos escândalos de corrupção no estratégico setor dos hidrocarbonetos, que todo dia estampam a primeira página dos jornais, o governo está tentando corrigir seu efeito desastroso sobre a população oferecendo à capital sua "primavera". Uma população que, até hoje, praticamente não se beneficiou da redistribuição da renda do petróleo, fora os aumentos de salário destinados a conter, desde 2011, a erupção da "primavera árabe".
De fato, um pequeno clima festivo atípico tem pairado em Argel. No espaço de poucas semanas, 24 cafés, todos com charmosos terraços oferecendo Wi-Fi, surgiram ou foram reformados no centro da cidade. Restaurantes instalaram mesas com toalhinhas nas calçadas ou em espaços adaptados. Todos foram orientados a permanecer abertos até pelo menos meia-noite. Por ter descumprido essa ordem e guardado suas mesas e cadeiras antes do horário, um dono de café foi advertido. "As autoridades passaram me procurando no dia seguinte. Eu lhes disse que não tinha mais clientes, e eles me responderam: 'Não importa'."
No coração da capital argelina, que até então ficava deserta assim que caía a noite desde os "anos negros" da guerra civil, as transformações são impressionantes. Em uma ruela do bulevar Didouche-Mourad, o primeiro bar com cena musical, onde jovens se revezam na guitarra, abriu suas portas no início de junho. "Não entendo o que está acontecendo", gargalha seu proprietário, Samir Ouâar, de 37 anos.
Ele, que aos 18 anos imigrou para a Bélgica, onde trabalhava em um banco, criou o L'Escalier des Artistes no ponto de um antigo pé-sujo mal-afamado, em sociedade com uma jovem, Lydia Boudjema, que voltou da França. "Fomos procurar o prefeito para pedir um alvará e em menos de dez minutos estava entregue", se espanta Samir Ouâar.
"Também temos carta branca para decorar os muros da viela como quisermos, contanto que seja bonito!"
No salão, moças e rapazes se divertem e, com a propagação no boca à boca, músicos de visual rastafári e cabelos longos correm para lá. Os pratos cabem em qualquer bolso. A única restrição é que, assim como em todos os outros cafés, não há bebidas alcoólicas, e os bares que as servem continuam sumindo.
Fechadas há anos ou sobrevivendo em condições insalubres, as salas de cinema também estão sendo reavivadas. O Casino reabrirá suas portas no dia 5 de julho, e depois o Algérie. Uma à uma as lojas vão sendo reformadas, de acordo com regras bem específicas.
"Fachadas brancas, 80 centímetros de mármore preto no chão, plantas artificiais e os guarda-sóis publicitários estão proibidos", detalha o prefeito Bettache, 47, eleito há seis meses, mas adjunto da prefeitura há dez anos. "Antes da independência era assim: estamos reativando a 'Argel, a Branca'", ele afirma. Até pouco tempo atrás, uma referência como essa teria sido considerada descabida.
Não foi pago nenhum subsídio público. "Incentivados" a fazer reformas, os comerciantes devem financiá-las. A restauração das fachadas dos imóveis, iniciada com a visita do presidente François Hollande no final de dezembro de 2012, continua em ritmo acelerado.
É verdade que ainda há muitas sacadas que estão caindo aos pedaços, vítimas da velhice e do abandono. Mas aos poucos a revitalização vai ganhando terreno. As antenas parabólicas, típicas das ruas argelinas, foram relegadas aos telhados, os gramados foram limpos e aparados. O mais surpreendente foi o comércio informal, que havia se expandido, ter sumido do centro. De leste a oeste, milhares de palmeiras foram plantadas ao longo dos grandes eixos de circulação.
Sentado no terraço de um restaurante, Lakhdar, 50, morador de um subúrbio vizinho, arregala os olhos. "Nunca tinha visto isso, mesmo quando estudante, e, sinceramente, está ótimo!", comemora esse funcionário de banco. "Será que vai durar? Essa é a questão...", ele diz, subitamente desconfiado.
As forças policiais ainda são onipresentes e foram até reforçadas, só que com ordens expressas de aparecer uniformizadas. Mas continua proibida qualquer tipo de manifestação. Um pequeno grupo de militantes foi rapidamente dispersado depois de, no sábado (22), ter aberto, pela quarta vez seguida, faixas com a inscrição "Val-de-Grâce para todos" [em alusão ao hospital onde está internado Abdelaziz Bouteflika].
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