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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Perseguindo um sonho dourado, chineses se veem em fuga em Gana

Os felizardos se esconderam em plantações de cacau e em empresas de propriedade chinesa, sobrevivendo de água e inhame, mudando-se constantemente e tremendo diante da perspectiva de serem descobertos pelas forças de segurança de Gana. Os menos afortunados foram espancados, roubados e detidos pelos soldados.

O sonho de riqueza em uma terra distante virou do avesso para centenas de mineradores chineses em Gana. Pelo menos 169 deles foram detidos pelo governo neste mês, acusados de entrar ilegalmente no país ou ficar além do prazo de seus vistos para explorar ilegalmente um dos campos mais ricos de ouro da África.

"Nós não temos comida, não temos água e nem onde dormir", disse uma imigrante chinesa enquanto se escondia do governo em uma plantação de cacau no final da semana passada, acrescentando que mais de 100 outros também estavam lá, temendo serem presos. Agora o grupo fugiu de novo, ela disse, na esperança de voltar em segurança para casa. "Todo mundo está buscando uma forma de voltar para a China."

As detenções em massa injetaram um toque amargo em um relacionamento que é vital para Gana, que tem na China um de seus parceiros econômicos mais importantes. Gana tem petróleo e outros minerais cobiçados, e os chineses estão ocupados lá construindo os prédios dos ministérios, uma hidrelétrica gigante e até mesmo um estádio.

Porém mais embaixo na escala econômica, os trabalhadores chineses –encanadores, eletricistas, pequenos lojistas– também seguiram em busca de uma história de sucesso no Oeste da África para cavar o solo, muitos deles fugindo da pobreza em casa.

Os buracos poluídos dessas pequenas minas, que agora pontilham o interior ganense, provaram ser demais para o governo, que concordou no fim de semana em libertar os imigrantes detidos desde que deixem o país. Mais de 200 outros se entregaram voluntariamente e a pressão continua, com uma força-tarefa antimineração ilegal "ainda em operação", disse Michael Amoako-Atta, um porta-voz do serviço de imigração de Gana.

Incitadas pelo ressentimento popular em relação aos mineradores chineses, as autoridades ganenses realizaram batidas em campos, minas e hotéis, onde quer que os imigrantes se reúnam. Os métodos delas, disseram os imigrantes chineses, não são gentis.

"Os soldados quebraram minhas janelas e invadiram meu quarto", disse a esposa de um minerador, contando o pesadelo de uma batida em 2 de junho em um hotel na cidade de extração de ouro de Dunkwa. "Eles apenas gritavam 'Vá! Vá! Vá!' e 'Rápido! Rápido! Rápido!' para mim", disse a mulher, que deu apenas seu sobrenome, Huang. "Eles até mesmo bateram em mim."

Os soldados não buscavam simplesmente efetuar prisões, ela disse. "Eles não perguntaram se éramos mineradores", ela disse. "Eles pegaram primeiro todo o dinheiro. Quando encontravam alguma chave de carro, eles primeiro perguntavam qual era o seu carro e levavam o carro embora."

Ela disse que foi levada para uma cadeia local, mas conseguiu comprar sua saída. Outros foram enviados para um centro de detenção em Acra, a capital, mas ela disse que estava determinada a permanecer no país, "porque sou uma empresária".

As detenções provocaram medo entre os imigrantes chineses e revolta em casa, gerando mais de 1 milhão de postagens sobre o assunto em um popular microblog. As autoridades chinesas disseram que enviaram funcionários para investigar, enquanto as autoridades em Guangxi, província de origem de muitos dos mineradores chineses, pediram aos moradores para não irem para Gana. A embaixada chinesa concordou em pagar fianças, multas por violação da lei de imigração e a passagem de volta para casa para um grande número de mineradores.

"Nós nos escondemos nas fazendas de cacau por três dias", disse Shi Jian, um minerador de 34 anos da província de Guangxi, no sul da China. "Não tinha comida, então comíamos apenas inhames."

"Quando a polícia militar chegou, ela primeiro tomou tudo de valor que encontrou –dinheiro, ouro", disse Shi. "Então espalharam o diesel que mantínhamos no local para abastecer os geradores e queimaram todas as nossas escavações e campos."

Uma longa caminhada furtiva pela mata antecedeu a corrida noturna até uma empresa de propriedade chinesa em Obuasi, que os escondeu das autoridades. "Nós corremos para esta empresa à noite como ratos cruzando as ruas."

Outros descreveram a formação de grupos maiores, na esperança de escapar da detecção.

"Não há descanso", disse na semana passada a mulher que se escondeu na plantação de cacau. Por temer represália, ela deu apenas seu sobrenome, Li, e respirava fundo enquanto descrevia seus apuros. "Nós tínhamos que nos deslocar para um novo ponto na plantação de cacau a cada hora, porque não queríamos que os aldeões nos vissem."

Agora, ela diz, o grupo não espera mais permanecer em Gana, tendo abandonado a plantação de cacau na noite de sexta-feira para seguir para a capital –e então voltar para a China.

"Nós não estamos pedindo nada agora", ela disse. "Apenas nos deixem voltar em segurança para a China."

Alguns tinham começado a garimpar recentemente. Com as batidas, em perderam tudo, eles disseram.

"Eu trabalhava no meu campo há apenas dois meses e então ocorreu a batida. Eu não consegui extrair nenhum ouro, de modo que agora não me restou nada", disse Pan Huarong, que está escondido desde 20 de maio, quando chegou a notícia da batida iminente. Como outros, ele mal teve tempo para reunir algumas poucas roupas antes de fugir.

Analistas em Gana disseram que o governo não teve muita escolha, exceto agir contra os mineradores ilegais. As licenças de mineração, em teoria, são controladas pelo governo, e muitos acusam os chineses de usarem os ganenses como fachada para realização de mineração em pequena escala, que é proibida para estrangeiros.

"Isso ocorre no contexto da crescente agitação popular em torno das operações de mineração de média escala, destrutivas, bastante predatórias, praticadas principalmente por chineses e alguns indianos", disse Emmanuel Gyimah-Boadi, diretor executivo do Centro para o Desenvolvimento Democrático, em Acra. "A população está bastante agitada e pressionou demais o governo a agir."

Os imigrantes sugeriram que as autoridades locais toleravam a presença deles, por um preço.

"Todo dia meu coração estremecia", disse Lan Qihua, um eletricista de Guangxi que chegou a Gana em setembro. "Policiais, militares, eles vinham dia sim, dia não. Às vezes nossos parceiros ganenses também vinham, em grupos de sete ou oito, empunhando facões e pedindo dinheiro. Muitas vezes eu ficava totalmente exausto, como se não sobrasse oxigênio suficiente no ar."

Os imigrantes criticam as autoridades chinesas em Gana por não fazerem nada para protegê-los. "Nós telefonamos para a embaixada", disse Shi. "Eles nos disseram: 'Vocês todos são ilegais; como ousam telefonar para nós agora?'"

Agora, o único desejo de muitos é sair do país. Luo Mingjun, 35 anos, disse que antes trabalhava em uma fábrica em Yiwu, na província de Zhejiang, mas que seu chefe tinha uma mina de ouro em Gana e o enviou para trabalhar lá no final do ano passado. Ele e 10 outros mineradores chineses escaparam da mina durante a noite, ele disse, incapazes de recuperar seus pertences, que deixaram para trás, no quarto alugado deles em Dunkwa.

"Eu me sinto muito inseguro devido à forma violenta com que Gana impõe sua lei", ele disse, "de modo que desejo muito voltar à China".

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