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terça-feira, 11 de junho de 2013

Na eleição iraniana, todos os candidatos são radicais em relação à energia nuclear

Instalação de energia nuclear de Bushehr 
Um grupo de partidárias do negociador nuclear do Irã, Saeed Jalili, vestindo chador, aplaudiu freneticamente quando ele adentrou a sala de conferências lotada em um evento de campanha na Universidade de Teerã, na semana passada.

"Sem acordos, sem submissão, apenas Jalili!", gritavam balançando um cartaz escrito à mão com o texto: "Negociar com o Satanás é contra o Alcorão".

Elas estão entre os muitos que apoiam Jalili, que é o candidato presidencial favorecido pela linha-dura do Irã nas eleições presidenciais de sexta-feira (14).

Ele centrou sua campanha em torno de uma oposição implacável, "100%" contra qualquer acordo com o Ocidente em torno do programa nuclear do país. E, enquanto ele e os outros sete candidatos cuidadosamente selecionados talvez discordem em questões como os direitos das mulheres e os problemas econômicos, quando se trata do programa nuclear do Irã todos dizem a mesma coisa: não haverá recuo, não se negociará o direito do país de enriquecer urânio para a geração de energia.

Mesmo o seu adversário do outro lado do estreito espectro político do Irã, o clérigo Hassan Rowhani -o que chega mais próximo do campo reformista- evita qualquer menção da palavra "acordo" quando se discute o programa nuclear. Ele passa a maior parte do tempo se defendendo dos ataques de adversários políticos que o acusam de já ter vendido os direitos do país, quando foi negociador nuclear e, sob forte pressão internacional, suspendeu temporariamente o enriquecimento do urânio em 2004.

Na esperança de forçar o Irã a suspender o enriquecimento de urânio e começar a negociar seriamente, o governo Obama impôs duras sanções econômicas que parecem estar causando estragos na economia iraniana. Mas se a campanha presidencial servir de indicação, ao invés de forçar a capitulação, as sanções parecem só ter endurecido a vontade do Irã de resistir.

"A cada ano, os Estados Unidos impuseram sanções mais duras sobre nós", disse Nader Karimi Joni, jornalista iraniano que é crítico de certas políticas do Estado. "Agora, com esses candidatos, vemos as consequências: as sanções nos prejudicam, mas tornam nossos líderes muito mais determinados".

As posições de Jalili, o atual negociador nuclear, e Rowhani, o antigo negociador, ilustram o quanto a posição do Irã endureceu depois de uma década de sanções e isolamento internacional crescente.

Jalili, em particular, transformou a eleição em um referendo sobre a postura nuclear do país, apostando no apoio ao governo do Irã, uma mistura de clérigos conservadores e de comandantes da Guarda da Revolução Islâmica, para quem o sentimento anti-ocidental é um elemento importante.

Rowhani, que vem recebendo o apoio de alguns dos veteranos do Movimento Verde hoje silenciado, liderou as primeiras rodadas de negociações com os países ocidentais, após a divulgação em 2002 do programa nuclear secreto do Irã.

Sob sua supervisão, dois anos depois, o Irã suspendeu temporariamente o enriquecimento de urânio como uma medida de fortalecimento da confiança, mas as potências ocidentais mantiveram sua exigência de que todo o programa fosse interrompido, acusando o Irã de tentar fabricar armas nucleares.

Rowhani agora é ridicularizado pelos partidários de Jalili, que citam essas negociações como um exemplo de ignorância e fraqueza.

"Nós nos desarmamos", suspendendo o enriquecimento, disse um membro da campanha de Jalili em um vídeo exibido na televisão estatal na semana passada.

"Eles acharam que íamos suspender, encerrar e destruir nossas instalações nucleares", diz o próprio Jalili no filme, citando Joschka Fischer, então ministro das Relações Exteriores da Alemanha. "A resistência é a solução para os nossos problemas", repete várias vezes.

Enquanto as negociações iam e vinham, o programa nuclear do Irã cresceu. Após o fim da suspensão, em 2005, o Irã passou de duas dúzias de centrífugas para quase 17 mil, de acordo com o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica de maio de 2013.

As atuais sanções contra o Irã reduziram drasticamente o valor de sua moeda, agravaram a inflação já elevada e cortaram muitos dos seus laços financeiros com o resto do mundo. O Irã está recorrendo cada vez mais à troca direta com os compradores de petróleo que sobraram, a Índia e a China, pois as operações financeiras tornaram-se quase impossíveis.

Entretanto, quase não há sinal dos efeitos das sanções nas ruas iranianas. Os postos de gasolina têm abundância de combustível, os supermercados ainda estão cheios e, nos últimos meses, a moeda, que perdeu metade do seu valor em relação ao ano passado, tem se mantido estável.

Ceder à pressão feriria a posição de negociação do Irã, concordam todos os candidatos. "Só no dia em que os americanos perderem a esperança em todo tipo de terreno, na guerra militar e na guerra econômica, seremos capazes de manter negociações com base na lógica", disse outro candidato, Gholam Ali Haddad Adel, na televisão estatal.

"Lógica" é uma palavra codificada que, segundo os analistas se traduz em uma aceitação da posição iraniana de que tem o "direito" ao enriquecimento sem restrições.

Rowhani, que é aliado próximo do pragmático aiatolá Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, que foi impedido de entrar na disputa pelo conservador Conselho Tutelar, é um dos poucos políticos proeminentes propondo melhores relações com o mundo exterior.

Ele fez uma observação clara nesse sentido no debate dos candidatos presidenciais televisionado na sexta-feira, observando que a suspensão do enriquecimento em 2004 aconteceu "sob a orientação do líder", o que significa que o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, aprovara a medida.

Outros políticos questionaram a recente postura de negociação do governo, se não o compromisso com o desenvolvimento nuclear.

Durante o debate, o candidato presidencial Ali Akbar Velayati, ex-assessor de política externa de Khamenei, argumentou que Jalili, com toda a sua conversa de nunca recuar, tampouco havia feito progressos.

"Você quer dar três passos e espera que o outro lado dê 100 passos. Isso significa que você não quer avançar", disse Velayati. "Não podemos esperar tudo e não dar nada."

Muitos analistas, no entanto, notam que dois fatores principais impedem uma posição mais branda: o amplo apoio público à energia nuclear e, ainda mais importante, a vontade do aiatolá Khamenei.

"É o nosso povo que não deixa que os candidatos falem em acordo", disse Hamid Reza Taraghi, analista político com pontos de vista próximos ao do governo do Irã, de clérigos conservadores e comandantes militares. "E o nosso líder supremo também diz que não há espaço para um acordo nuclear".

Em um discurso na terça-feira, o aiatolá Khamenei reconheceu que o Irã estava sofrendo com problemas econômicos e com a inflação, mas ressaltou que, se alguém pensa que apaziguar os países ocidentais é a chave para a solução, essa pessoa está enganada.

"Alguns fazem uma análise enganada que devemos fazer concessões ao inimigo a fim de aliviar a raiva que ele tem contra nós", disse Khamenei ao púbico na comemoração anual da morte do fundador da República Islâmica, aiatolá Khomeini. "Na verdade, eles dão preferência aos interesses do inimigo em relação aos interesses da nação. Isso é errado".

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