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terça-feira, 11 de junho de 2013

Eleição presidencial é uma falsa democracia no Irã

Ayatollah  Ali Khamenei
Em 14 de junho, a liderança em Teerã vai dissuadir o povo iraniano. Não será a primeira mentira do regime, mas é característico da história mais recente da República Islâmica. Na sexta-feira da próxima semana, 55 milhões de eleitores iranianos elegerão o futuro presidente a partir de uma seleção de mais de meia dúzia de candidatos. A máquina de propaganda do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, 74, leva-os a acreditar que podem realmente moldar o futuro de seu país. Se não tivessem tanto medo do regime, muitos iranianos não só ririam alto de sua audácia, mas também iriam para as barricadas contra essa falsa democracia.

Mas nos últimos quatro anos, o Irã se tornou uma república do medo. As prisões estão cheias de incontáveis ativistas e dissidentes, e alguns deles podem estar lá porque riram muito alto de Khamenei em algum momento. Às vezes não é preciso muito para ser interrogado e preso. Mas o medo é mútuo. Enquanto as pessoas tremem ao pensar em ser presas pelos capangas do regime, a liderança também está nervosa com as novas demandas por mais liberdade e democracia. Na eleição de 2009, Khamenei cometeu o erro, desastroso de seu ponto de vista, de permitir que candidatos que despertaram as esperanças de liberalização concorressem. Depois de três décadas sendo governado pelos aiatolás de turbante, bastou a perspectiva de uma pequena dose de liberdade para conduzir milhões às urnas e, em seguida, às ruas, quando acreditaram que o seu "movimento verde" havia sido usurpado de sua vitória justa.

Desta vez Khamenei obstruiu um número considerável de candidatos potenciais que demonstraram qualquer possibilidade de querer questionar a doutrina pura da República Islâmica que o líder revolucionário defende ferozmente. O aiatolá é tão temeroso que ele nem sequer permitiu a candidatura do ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani. Apesar de ser um leal defensor do sistema, Rafsanjani se colocou com cautela ao lado da oposição há quatro anos e poderia muito bem ter se tornado o líder de um movimento de protesto.

Em vez disso, o cenário político está agora preenchido por um grupo de oficiais aliados ao sistema especialmente sem brilho. Os favoritos incluem os conservadores da máquina de poder do aiatolá: seu assessor de política externa Ali Akbar Velayati, 67, e Saeed Jalili, 47, o negociador-chefe do Irã no conflito nuclear, que atuou como chefe de gabinete de Khamenei por quatro anos. Será que o aiatolá poderia ter escolhido candidatos mais leais?

Autocracia pós-revolucionária
As eleições no Irã não são democráticas e justas. A preparação é marcada por barganhas e o período pós-eleitoral por manobras. Somente aqueles que apoiam incondicionalmente o "Wilayat al Faqih", ou a tutela do jurista islâmico, estão autorizados a concorrer à presidência. O cargo do Wilayat al Faqih foi criado para o aiatolá Khomeini, que expulsou o xá, e após a morte de Khomeini em 1989, Khamenei se tornou o novo líder supremo. Ele é o árbitro da guerra e da paz, o que significa que pode emitir a ordem para construir uma arma nuclear ou para o país se reconciliar com o "Grande Satã", os Estados Unidos. Khamenei é, essencialmente, o líder supremo e vitalício do país, e suas decisões são consideradas irrevogáveis. Devido a este poder absoluto, ele não é diferente dos autocratas que os revolucionários antes prometeram derrotar.

Oficialmente, a Constituição prevê a ação democrática corretiva, um direito que muitos iranianos invocaram desesperadamente no passado, sempre depositando suas esperanças na próxima eleição, no próximo parlamento ou no próximo presidente. Eventualmente, eles também passaram a acreditar que Khamenei, que se considera um homem do povo, não podia ignorar completamente seu desejo de mudança.

Apesar de todos os abusos e violações aos direitos humanos, a vida política no Irã - pelo menos até o governo reprimir com violência os protestos contra fraude eleitoral na reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad - ainda era mais livre e mais diversificada do que em alguns países árabes vizinhos. Os iranianos já tinham eleito cerca de meia dúzia de presidentes, incluindo o liberal Mohammad Khatami. Por outro lado, a família real da Arábia Saudita não permite nem mesmo que seus súditos expressem suas opiniões e as mulheres são proibidas de dirigir carros.

"Eles não nos ouvem"
Mas Khamenei se agarra firmemente ao seu poder e não está interessado no tipo de mudança que tem tomado conta de muitos países vizinhos. Em 25 anos no poder, ele vê qualquer mudança como uma ameaça. Rodeado por inimigos dentro de seu próprio círculo, o aiatolá vê um abismo ao lado do caminho da revolução. O slogan da campanha de seu ex-assistente, Saeed Jalili, está inteiramente de acordo com a mentalidade de Khamenei: "Sem compromisso, sem submissão Só Jalili". No entanto, o aiatolá ainda precisa ser cauteloso com este candidato, porque foi Ahmadinejad que nomeou Jalili para servir como principal negociador nuclear iraniano. O "mártir" Jalili, que perdeu a perna direita na guerra com Iraque, é um radical de segunda linha, como Ahmadinejad. "Ele é um de nós", gritaram muitos da Guarda Revolucionária durante uma das aparições de campanha de Jalili, na semana passada.

Os reformistas provavelmente não representam mais uma ameaça. Embora dois candidatos sejam considerados parte da ala reformista, é questionável se eles serão capazes de mobilizar um grande número de eleitores. O líder do movimento verde está sob prisão domiciliar, enquanto outros dissidentes fugiram do país ou simplesmente desistiram. "Eles não nos ouvem de qualquer forma", disse um importante reformista ao International Herald Tribune, referindo-se ao grupo de homens poderosos que cercam Khamenei. Ele ficou na prisão por vários meses, e sua confissão forçada de ter se envolvido numa conspiração foi transmitida em rede nacional de televisão. Desde então, o reformista, um erudito religioso, retirou-se da política e abandonou a causa.

Uma maior ameaça a Khamenei vem da ala nacionalista, onde seu mais forte adversário é o atual presidente, que assumiu o cargo em 2005 com o apoio do próprio Khamenei. Para o populista Ahmadinejad, o nacionalismo é mais importante do que o islamismo. Na forma populista do Islã que ele prega, a posição antes intocável de Khamenei é reduzida à de um representante de uma casta inútil de clérigos. Ahmadinejad teria usado todas as medidas ao seu alcance, incluindo a chantagem, para que seu chefe de gabinete, amigo e cunhado, Esfandiar Rahim Mashaei, fosse admitido como candidato presidencial. Mas o Conselho de Guardiões, uma espécie de tribunal constitucional religioso repleto de apoiadores leais do líder revolucionário, impediu Mashaei, bem como 669 outros potenciais candidatos, de entrar na disputa.

À primeira vista, Khamenei agora parece mais forte do que antes. Os reformistas estão intimidados, o favorito do recalcitrante Ahmadinejad foi impedido de concorrer, e até mesmo Rafsanjani e seus pragmatistas foram enfraquecidos. Mas o caso Rafsanjani, em particular, mostra como o líder revolucionário deve se sentir encurralado. Muitos iranianos sentiram que o rico empresário, acadêmico religioso e político experiente era a última esperança de tirar o país de sua situação atual. Eles acreditavam que Rafsanjani seria capaz de elaborar um acordo digno no conflito nuclear e reavivar a economia em dificuldade.

Embora Khamenei tenha supostamente aprovado a candidatura do ex-presidente num primeiro momento, o Conselho de Guardiões o retirou da disputa alguns dias depois – provavelmente por ordens do aiatolá. O medo era de que alguém como Rafsanjani não teria se permitido restringir pela pura ideologia revolucionária. Como um político pragmático, ele sabe muito bem que os slogans da revolução não estão ajudando seu país sair da crise, mas na verdade o estão levando para um isolamento ainda maior. Rafsanjani teria retirado muitos iranianos de sua letargia e aumentado a participação dos eleitores. Mas isso não interessa Khamenei. Os candidatos aparentemente manipuláveis são mais importantes para ele.

É pouco provável que as esperanças da comunidade internacional de que um novo presidente possa resolver o conflito nuclear não sejam realizadas. Um homem como Jalili distanciar-se-ia da diplomacia abrasiva de Ahmadinejad, embora ele também tenha atacado Israel e feito outros comentários desafiadores na campanha. Como principal negociador no conflito nuclear, Jalili mais do que esgotou a paciência de seus colegas ocidentais. Ele era "educado, e, ocasionalmente até excessivamente agradável", disse alguém que esteve envolvido nas negociações com Jalili, mas no que dizia respeito às negociações, Jalili mostrou "nenhuma boa vontade, nenhuma capacidade de ponderar e nenhuma imaginação."

Talvez Khamenei acredite que uma melhora no sentimento geral seja suficiente para conduzir o país para fora de seu isolamento. Em sua primeira aparição de campanha, p diplomata Ali Akbar Velayati prometeu que, como presidente, ele iria "evitar tensões com o Ocidente". O governo atual poderia ter alcançado seus sucessos na política nuclear "com muito menos custos" para o povo, disse ele, referindo-se às sanções internacionais, se o governo tivesse adotado uma abordagem mais flexível. Velayati, que serviu como ministro das Relações Exteriores por mais de 15 anos, é cosmopolita e goza de uma confiança especial por parte de Khamenei. Ele atualmente serve como uma espécie de chefe de departamento para a política internacional do "Gabinete do Líder Revolucionário", onde 5.000 conselheiros e informantes moldam a visão de mundo de Khamenei.

Expectativas para o novo presidente em Teerã
Mas por fim, alguém como Velayati também seguiria o curso rígido que o líder revolucionário delineou. Num discurso numa academia militar, ele disse: "o melhor presidente é aquele que resiste fortemente ao inimigo e que transformará a República Islâmica num exemplo internacional para os povos oprimidos do mundo", reportou o International Herald Tribune.

Na mentalidade rígida que se apoderou de Teerã, deve-se esperar uma postura mais complacente no conflito nuclear? Ou até mesmo uma aproximação com o governo dos EUA? Afinal, no conflito sírio, Washington pretende derrubar o aliado do Irã, o governo do presidente Bashar Assad em Damasco, um regime que o Irã, com seus aliados no Hezbollah libanês, apoia quase que incondicionalmente.

Nos últimos meses, observadores políticos em Teerã esperavam que as táticas de paralisação no conflito nuclear poderiam ser fruto de uma rixa entre Khamenei e Ahmadinejad. Eles especularam que o líder revolucionário estava determinado a não conceder um sucesso na política externa ao seu adversário, e que, uma vez que as eleições acabassem, Khamenei daria mais margem de manobra ao novo presidente. Era tudo uma questão de paciência, disseram. Por um tempo, essa visão pareceu fazer sentido. Mas agora os pessimistas não são os únicos que temem que o novo presidente possa se tornar um defensor exemplar da velha ideologia revolucionária. Não é nenhum consolo que ele possa se comportar de forma mais diplomática que o Ahmadinejad, que chegou a negar o Holocausto.

Para a eleição, pelo menos, o plano de Khamenei pode funcionar. O enorme contingente de segurança que poderia ser esperado para reprimir possíveis protestos estudantis ou iniciativas de reforma provavelmente não será utilizado numa operação de grande escala. Até o provocador notório Ahmadinejad parece estar se contendo. Os apoiadores do aiatolá já teriam ameaçado o atual presidente de prisão se ele vier a causar algum problema. E, talvez, a participação oficial nas urnas pode crescer o bastante para garantir que Khamenei não se envergonhe. Quatro anos atrás, também não faltaram votos a Ahmadinejad, independentemente de onde tenham vindo. A manipulação e as mentiras fazem parte da política em todos os lugares. Mas um sistema que não permite opiniões divergentes costuma ser conhecido como uma ditadura, e uma eleição que de fato não é uma eleição é chamada de camuflagem.

*As informações contidas nesse artigo da Der Spiegel não refletem a opinião desse blog.

Um comentário:

  1. O título está errado. O Irã é uma república fundamentalista Islâmica. Democracia vem de DEMO(s)...você já sabe...

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