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terça-feira, 11 de junho de 2013

Choques revelam divisões turcas

Turcos tomam a praça Taksim 
No início era apenas sobre as árvores do parque Gezi. Mas, depois de quatro dias, uma demonstração pacífica contra a destruição de um dos poucos espaços verdes de Istambul se transformou em um protesto nacional em 60 cidades. Cerca de 2.500 pessoas ficaram feridas e mais de 1.900 foram presas. Um professor e uma estudante perderam um olho e pelo menos uma pessoa morreu. O que acontecerá agora na Turquia?

Alguns foram rápidos demais em chamar o acontecimento de Primavera Turca ou Verão Turco. A Turquia tem muito em comum com seus vizinhos no Oriente Médio, incluindo a religião muçulmana, a tradição patriarcal e uma sociedade principalmente conservadora, mas também é um país diferente. Tem uma história de ocidentalização, modernidade, secularismo e democracia, apesar de a recente repressão policial ter mostrado mais uma vez que ainda é uma democracia imatura. Mas há instituições para conter os excessos de poder. Os protestos constituem um divisor de águas não apenas para o governo, mas também para a população, a oposição e a mídia.

A mídia noticiosa dominante relutou em cobrir os protestos. Muitos jornais reduziram a importância das manifestações de rua ou as ignoraram enquanto puderam. A televisão foi pior. Enquanto ocorriam choques nas ruas e jovens desarmados eram submetidos a gás lacrimogêneo e canhões de água, muitos canais passavam novelas e programas de culinária. A mídia social ocupou o vazio, enquanto muitos turcos recorriam ao Twitter e outras plataformas para transmitir suas mensagens. As pessoas publicavam fotos, recebiam notícias de outras cidades, pediam alimentos ou suprimentos médicos e se manifestavam sem temer a censura.

Um símbolo poderoso da divisão da sociedade foi o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan chamar o Twitter de "ameaça" na televisão depois dos protestos. Mas a dependência da mídia social também teve um lado negativo, pois foi um fórum de desinformação, discursos de ódio, boatos e teorias da conspiração.

Vários canais foram severamente criticados por deixar de cobrir os protestos. O NTV, um dos canais privados mais respeitados, foi vaiado por manifestantes diante de seu edifício, um momento que foi transmitido ao vivo pelo próprio canal. Para muitos, essa cena foi um instante inesquecível na história da mídia da Turquia. Hoje, os proprietários de jornais e canais de televisão enfrentam uma encruzilhada. A diversidade na mídia turca encolheu nos últimos cinco anos, e muitos críticos foram empurrados para as margens. Jornalistas e escritores de oposição foram silenciados e às vezes perseguidos. A autocensura é generalizada, mas raramente se fala sobre isso em público.

Depois de dez anos de governo conservador do Partido Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan, muitos turcos se sentem alienados. As políticas e a linguagem do partido endureceram. Existe o constante temor de que o governo interfira nas liberdades pessoais. Os esforços para restringir a venda de bebida alcoólica, para advertir os passageiros no metrô de Ancara para não se beijarem em público e o comentário de Erdogan de que todo mundo que bebe álcool é um "alcoólico" reforçaram os temores.

O partido Justiça e Desenvolvimento tinha um discurso mais inclusivo quando chegou ao poder, mas gradualmente se inclinou abertamente para os conservadores religiosos, que são sua base de apoio, e ignorou a outra metade do eleitorado. Esse grupo inclui muitos jovens, liberais e esquerdistas, a minoria religiosa alauita, minorias étnicas, muitas mulheres modernas, kemalistas, nacionalistas e alguns ultranacionalistas. Os que foram às ruas vieram de todas as tendências e compartilhavam a sensação de sufocamento. Hoje eles sabem que juntos têm uma voz.

A oposição também aprendeu lições importantes. O principal partido de oposição, o Partido Republicano do Povo, deixou de oferecer uma alternativa forte, e muitas pessoas ficaram sem uma plataforma para canalizar suas frustrações.

O presidente Abdullah Gul se transformou na voz da razão. Ele disse que o povo havia mandado aos políticos uma clara mensagem de que não pode ser ignorado. Reuniu-se com o vice-primeiro-ministro, Bulent Arinc, que então pediu desculpas aos manifestantes indignados. O tom conciliador do regime revelou que o partido conservador não é composto de uma única voz.

Os grandes protestos de rua foram uma aberração para a sociedade turca, mas chamá-los de um movimento nas linhas da Primavera Árabe é ao mesmo tempo prematuro e exagerado. Os eventos que se originaram no parque Gezi provocaram ondulações em um lago adormecido. Em vez de uma revolução, eles devem ser vistos como uma etapa dolorosa -mas importante- na evolução da democracia turca.

Instituições de uma democracia muçulmana são postas à prova

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