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terça-feira, 11 de junho de 2013

Monitoramento de dados traz implicações para o mundo

O diretor da inteligência americana e a Casa Branca finalmente confirmaram o que algumas pessoas com conhecimento interno já sabiam há muito tempo: o governo Obama está espionando o mundo todo. Políticos na Alemanha estão exigindo respostas.

Ao sul do Grande Lago Salgado de Utah, a Agência de Segurança Nacional (NSA), uma agência de inteligência estrangeira dos Estados Unidos, mantém sob vigilância um de seus segredos mais caros. Aqui, em 100 mil metros quadrados próximo do Campo Williams das forças armadas americanas, a NSA está construindo enormes prédios para abrigar computadores super-rápidos. Ao todo, o projeto custará em torno de US$ 2 bilhões, e os computadores terão capacidade de armazenar um volume gigantesco de dados --pelo menos 5 bilhões de gigabytes. A energia necessária para alimentar o sistema de refrigeração apenas dos servidores custará US$ 40 milhões por ano.

Ex-funcionários da NSA, Thomas Drake e Bill Binney, disseram à "Spiegel" em março que a instalação em breve armazenaria dados pessoais de pessoas de todo o mundo e os manteriam por décadas. Isso inclui e-mails, conversas pelo Skype, buscas no Google, vídeos do YouTube, postagens no Facebook, transferências bancárias --dados eletrônicos de todo tipo.

"Eles têm tudo a seu respeito em Utah", diz Drake. "Quem decide se olharão seus dados? Quem decide o que farão com ele?"

Binney, um matemático que já foi um influente analista da NSA, calcula que os servidores são grandes o bastante para armazenar todas as comunicações eletrônicas da humanidade pelos próximos 100 anos --e isso, é claro, dá aos seus ex-colegas muita oportunidade para lerem e escutarem.

James Clapper, o diretor de inteligência nacional do país, confirmou a existência de um programa de vigilância de grande escala. O presidente Barack Obama explicou que o Congresso autorizou o programa, mas que os cidadãos americanos estão isentos dele.

Um documento altamente secreto publicado na semana passada pelos jornais "The Washington Post" e "Guardian", do Reino Unido, mostra onde a NSA pode estar obtendo a maioria de seus dados. Segundo um documento que foi supostamente vazado por Edward Snowden, um ex-funcionário da CIA, a inteligência americana começou a ter acesso direto e em grande escala aos servidores pertencentes às empresas de internet americanas em 2007. A primeira dessas empresas a aderir foi a Microsoft, seguida meio ano depois pelo Yahoo, depois Google, Facebook, PalTalk, YouTube, Skype e AOL. A empresa mais recente a declarar sua disposição de cooperar foi a Apple, em outubro de 2012, segundo o documento secreto do governo, que declara orgulhosamente que esse acesso aos dados é obtido "diretamente dos servidores" das empresas.

As empresas em questão negaram a alegação na sexta-feira. Mas, se o que o documento diz é verdade, a NSA tem potencial de saber o que cada pessoa no mundo que faz uso dos serviços dessas empresas está fazendo, e isso supostamente inclui milhões de alemães.

'Monitoramento total dos alemães é impróprio'
Na segunda-feira, a chanceler alemã Angela Merkel confirmou por meio de um porta-voz que planeja discutir o controverso programa de monitoramento de dados da NSA com o presidente Obama durante a visita dele a Berlim na semana que vem. Um porta-voz do Ministério da Justiça alemão também disse que conversações estão em andamento com as autoridades americanas. As discussões incluirão as implicações para a Alemanha e a "possível violação dos direitos dos cidadãos alemães".

A ministra da Proteção do Consumidor alemã, Ilse Aigner, pediu por "respostas claras" das empresas implicadas no documento, e o Partido Verde alemão exigiu que o governo investigue as circunstâncias imediatamente.

"Monitoramento total de todos os cidadãos alemães pela NSA é totalmente impróprio", disse Volker Beck, secretário da bancada do Partido Verde no Parlamento, na segunda-feira. O partido propôs que o assunto seja discutido em uma sessão parlamentar na semana que vem.

Raízes mórmons, alcance internacional
A instalação do programa em Utah é cheia de cercas de segurança, cães de guarda e câmeras de vigilância, assim como equipamento de identificação biométrica. Dois informantes disseram que a localização para a instalação dos servidores não foi por acaso. Utah é lar do maior número de mórmons no mundo. Essa comunidade religiosa altamente patriótica envia seus membros jovens para o mundo como missionários --e muitos deles são recrutados pela Guarda Nacional de Utah, cuja 300ª Brigada de Inteligência Militar emprega 1.600 linguistas. A NSA tem acesso a esses linguistas o tempo todo, e uma pessoa com conhecimento interno acredita que eles são usados para "analisar as telecomunicações internacionais".

No documento secreto, o programa de monitoramento da NSA é chamado de "Prisma". Um prisma também é uma forma que reflete a luz nos cabos de fibra óptica --os mesmos cabos que formam espinha dorsal do tráfego mundial de internet. O documento, que foi elaborado para uma apresentação interna da NSA, mostra que até mesmo os fluxos de dados que viajam da Europa para a Ásia, para a região do Pacífico ou para a América do Sul frequentemente passam por servidores nos Estados Unidos. "Uma chamada telefônica, e-mail ou bate-papo de um alvo percorrerá o caminho mais barato, não o caminho fisicamente mais direto", diz o documento.

O governo Bush legalizou essa nova dimensão de espionagem do governo, mas foi o governo Obama que renovou a lei em questão em dezembro de 2012. A lei permite, por exemplo, a vigilância de todos os usuários do Google que não morem nos Estados Unidos, assim como as comunicações entre cidadãos americanos e pessoas em outros países.

Base legal ampliada para espionagem
O documento também mostra que, com programas como o Prisma, a NSA está reinterpretando a base legal para suas ações em um ponto crucial. Por décadas, os serviços de inteligência precisavam da ordem de um tribunal especial com especificações precisas sobre o suspeito caso quisessem monitorar uma conta de e-mail, por exemplo. Agora, basta a NSA ter evidência razoável de que um alvo vive no exterior ou se comunica com alguém que vive fora dos Estados Unidos. Isso expande o círculo de suspeitos potenciais, reduz os obstáculos burocráticos e reduz os controles e salva-guardas democráticos, tornando mais fácil e mais rápido obter dados de um número maior de pessoas.

Os poderes de coleta de dados da NSA vão muito além dos servidores americanos de internet. A agência também conduz reconhecimento ao redor do globo, com satélites, por exemplo. Ela também instalou uma antena de alto desempenho em vários países para captar as comunicações por telefonia móvel. Nunca antes um governo coletou dados em tamanha escala.

A NSA é uma parceira útil das autoridades alemãs. O diretor da NSA, o general de quatro estrelas (maior patente militar) Keith Alexander, recebe regularmente delegações da Alemanha em seu quartel-general no Forte Meade. Essas reuniões geralmente são construtivas, em parte porque a hierarquia é clara: a NSA quase sempre sabe muito mais, enquanto os alemães atuam como assistentes. A agência de inteligência estrangeira alemã, a BND, conduz várias operações secretas em conjunto com a NSA, a maioria delas envolvendo coleta de dados em grande escala. As autoridades alemãs também ajudaram a agência de segurança alemã em várias atividades, especialmente em regiões em crise.

Por sua vez, a NSA compartilha regularmente com as agências de segurança da Alemanha as pistas que tem sobre suspeitos. Um plano de atentado a bomba em 2007 por parte de uma célula terrorista islamita na Alemanha, o chamado grupo Sauerland, foi descoberto devido às conversas por e-mail e telefone que a NSA monitorou e repassou aos seus pares alemães.

Segundo Binney, o ex-funcionário da NSA, programas americanos também foram usados na Alemanha, apesar de um importante ex-alto funcionário de segurança do país ter dito que as autoridades alemãs não estiveram envolvidas no programa Prisma.

Parte 2: Excesso de informação?
Agora está claro que aquilo que os especialistas suspeitavam há anos é verdade --que a NSA monitora toda forma de comunicação eletrônica ao redor do mundo. Esse fato levanta uma questão importante: como uma agência de inteligência, mesmo uma tão grande e bem equipada como a NSA, com seus 40 mil funcionários, trabalha de modo significativo com tamanha enxurrada de informação?

A resposta para essa questão faz parte de um fenômeno que atualmente também é um grande assunto na comunidade empresarial e leva o nome de "Big Data" (grandes dados). Graças às novas tecnologias de banco de dados, agora é possível conectar formas totalmente díspares de dados e analisá-los automaticamente.

Um raro vislumbre do que os serviços de inteligência podem fazer aplicando essa abordagem de "big data" foi dada no ano passado por David Petraeus. Essa nova forma de análise de dados é responsável por descobrir "relacionamentos não óbvios", explicou na ocasião o recém-nomeado diretor da CIA em uma conferência. Isso inclui, por exemplo, "encontrar conexões entre uma compra aqui, uma chamada telefônica ali, um vídeo com imagem granulada, informação alfandegária e de imigração".

A meta, segundo Petraeus, é que o "big data" "leve a descobertas automáticas, sem depender do analista certo fazer a pergunta certa". Algoritmos encontram as conexões automaticamente no mar de dados desestruturados onde pescam. "A CIA e nossos parceiros na comunidade de inteligência precisam poder nadar no oceano de Grandes Dados. Na verdade, nós precisamos ser nadadores de ponta --de fato, os melhores", prosseguiu o diretor da CIA.

Estado de vigilância
O valor da análise de grandes dados pelas agências de inteligência americanas pode ser visto no valor investido nisso pela NSA e CIA. Não apenas isso inclui contratos multimilionários com provedores especializados em serviços de mineração de dados, como a CIA também investe diretamente, por meio de sua empresa subsidiária, a In-Q-Tel, em várias novas empresas de "big data".

Trata-se de tornar as pessoas e o comportamento delas previsíveis. Os projetos de pesquisa da NSA visam prever, com base em dados telefônicos e postagens no Twitter e no Facebook, quando levantes, protestos sociais e outros eventos ocorrerão. A agência também está pesquisando novos métodos de análise de vídeos de vigilância, na esperança de reconhecer comportamento suspeito antes de um ataque ser realizado.

Gus Hunt, o diretor chefe de tecnologia da CIA, fez uma confissão em março: "Nós tentamos fundamentalmente coletar e manter tudo para sempre". Quanto ao que ele quis dizer com "tudo", Hunt também deixou claro: "Está realmente próximo do nosso alcance poder computar toda informação gerada pelos seres humanos", disse.

É difícil conciliar essa informação com a Quarta Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que garante o direito à privacidade. Provavelmente foi por isso que Hunt acrescentou, quase como uma desculpa: "A tecnologia neste mundo está se movendo mais depressa do que os governos ou a lei podem acompanhar".

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