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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O futuro do Egito: nada voltará a ser como antes


Em 25 de janeiro de 2011, Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, saudou o começo da agitação no Cairo com essas palavras: "nossa avaliação é a de que o governo do Egito é estável e busca os meios para responder aos interesses e necessidades legítimos do povo". Mas, 18 dias mais tarde, caía o presidente Hosni Mubarak. O general-ditador havia montado um simulacro de Estado de direito, com algum grau de liberdade de expressão; umas eleições que ganhava sempre o partido no poder, mas que consentiam a existência de uma oposição amena; e algum grunhido ou outro em direção a Israel, mas sempre compatível com servir os interesses de Washington.

Hoje, quase dois anos mais tarde, nada está suficientemente definido no país. Há um presidente, Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana; uma Constituição criticada como demasiado islamista que está sendo votada em referendo e uma segunda versão da algazarra popular que derrubou Mubarak, que exige ao chefe de Estado a retratação de quase tudo o que está acontecendo. Mas há algo que já pode ser dito: nada voltará a ser como antes; a ditadura, impura e dura, passou para a história. É o nascimento de um sistema político no qual deveria caber a oposição, embora, no momento, o enfrentamento esteja na rua.

Quais são as forças presentes? Mursi não está seguro de que tem a totalidade da Irmandade Muçulmana atrás de si. Três partidos a representam, dois deles em aparente dissidência, e se a organização islamista obteve 37,5% dos votos nas legislativas de novembro de 2011, com 235 cadeiras de 498, nas presidenciais de maio passado só conseguiu 25% dos votos no primeiro turno.?Ganhou no segundo contra um candidato do Antigo Regime porque parte da Irmandade, o salafismo, o islamismo radical que conseguiu 123 cadeiras, e, tampando o nariz, a oposição liberal laica, consideraram que, apesar de tudo, Mursi representava a revolução. Mas o presidente chegou a um modus vivendi com o Exército. Em agosto, destituiu o marechal Tantaui, que havia se erigido ao poder acima do trono, e o substituiu sem consultar Abdul Fatah al Sisi, piedoso general favorável à Irmandade.

As forças que integram o núcleo do protesto: liberais, nasseristas e aqueles mal definidos que só no mundo muçulmano cabe chamar de laicos, obtiveram 40% dos votos no primeiro turno, mas se opõem tanto entre si como se congregam na rua contra Morsi. É outro Egito. E, finalmente, os revoltados do regime anterior, cujo candidato, em geral, apenas perdeu contra um islamista por umas dezenas de milhares de votos, estarão com o Exército esperando medrar hoje como o fizeram na terça-feira com quem governe o Egito. Na primeira jornada eleitoral, a Irmandade disse que estava em vantagem. E, se fosse assim, teria a votação no bolso, porque no segundo turno do próximo sábado, o interior do Egito lhe é muito mais favorável do que Cairo ou Alexandria, que votaram no fim de semana passado.

O cenário intelectual no qual se desenvolve o enfrentamento é a Constituição, redigida por uma grande maioria de islamistas, cujos trabalhos foram boicotados pelos deputados da modernidade. E no texto legal, tudo o que se refere à sharia é tão genérico como multiuso. A Constituição repete em seu artigo 2 o enunciado da Carta de 1971, pelo qual se eleva a lei corânica à "fonte principal de toda legislação", uma afirmação à qual quase nenhum egípcio, fervoroso ou não, opor-se-ia. E, para definir os princípios da mesma, entrega à histórica universidade de Al Azhar a autoridade absoluta para interpretá-la. Tão ou mais significativos são, entretanto, os artigos com que se compra a aquiescência dos generais. O 197 põe o orçamento militar fora de qualquer escrutínio parlamentar, competência exclusiva de um Conselho Nacional de Defesa inflado de altos funcionários; e o 198 permite o julgamento de civis pelo fórum militar, quando "prejudicarem o Exército". O que pode conter inúmeros delitos.

Foi dito que as forças presentes respondem a três Ms: militares, mesquitas e massas. O quarto M, de Mursi, conta com o consentimento mais do que a adesão dos militares, a aprovação interessada da mesquita (Al Azhar), e uma parte flutuante das massas. A partida está apenas começando.

Um comentário:

  1. Espero q ñ, + um pouco de liberdade sempre faz bem..e mantenham os olhos no estado judeu, ajudem seus irmãos Palestinos.Sds.

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