O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh |
A Comissão Eleitoral da Índia é um órgão muito sério que não acredita que o mundo acabará nesta sexta-feira (21), um dia útil. Logo, a comissão está se preparando para um evento mais certo em 2014: a eleição geral que colocará um novo governo em Déli, um evento que tem o potencial de ser cataclísmico para alguns. Recentemente, eu ouvi um consultor financeiro, que estava gravando um grupo de crianças cantando canções natalinas em um belo jardim, alertar a um executivo de seguradora: "O mercado de ações vai sofrer um colapso".
A visão dele é comum. Com a reputação de todos os principais partidos políticos manchada na imaginação da população após uma série de escândalos de corrupção, ele previu que o próximo governo seria uma coalizão instável composta de partidos políticos demais, com quase todo mundo tendo voz ativa.
Há mais partidos políticos na Índia do que modelos de automóveis, um motivo para não ser exigido de um jornalista político daqui que tenha a capacidade de citar todos de cor. A eleição geral de 2009 foi contestada por mais de 364 partidos. Pode parecer que uma situação dessas é um problema, e é. Mas ela responde, em parte, às perguntas frequentes da elite urbana: o que salva a Índia? Por que não há uma revolução violenta nas ruas, com jovens furiosos atacando os ricos e queimando sedãs prateados? Considerando a desigualdade imensa entre a classe média e os pobres, que torna até mesmo o ato de comer um hambúrguer em público um tanto embaraçoso, como é que a elite nunca foi separada de suas cabeças?
Será que é a política que salva a Índia? Será que isso é verdade, apesar de todo incidente de violência em grande escala no país ter sido ordenado politicamente? O país dá aos seus cidadãos muitos motivos para tomarem as ruas e perturbar o que os ricos consideram como a vida normal. Mas o fato de a maioria dos indianos contar com representação política lhes nega a massa crítica de desculpas para expressar sua fúria por meio de violência sustentada. Os políticos do país são os para-choques involuntários, mas eficazes, da sociedade indiana.
Todos os partidos políticos alegam representar os pobres, e realmente representam, porque os pobres são os eleitores mais entusiasmados. Mas os pobres não são um grupo monolítico. Há grupos, queixas, castas e rivalidades entre eles, e cada um é representado na política indiana de modo muito específico.
Os dalits, que antes eram considerados a casta intocável e agora são chamados de "tribos e castas programadas", são representados por vários partidos. O mais influente no norte da Índia é comandado por uma mulher que desperdiçou sua popularidade extraordinária acumulando uma riqueza inexplicável e também pela tendência de encomendar estátuas de si mesma. O arquirrival dela é um partido que representa as castas superiores rurais e semiurbanas. E há os partidos dos socialistas, que temem as empresas estrangeiras, os comunistas que são marxistas, os comunistas que não são marxistas e os comunistas que não querem "comunista" presente no nome do seu partido.
Muçulmanos, sikhs e cristãos, todos têm o seu partido. Os fazendeiros ricos no Estado de Maharashtra, no oeste, também são representados. Assim como, de modo mais específico, os produtores de cana-de-açúcar. Os jovens de Maharashtra que acham que os migrantes da capital do Estado, Mumbai, devem ser malhados ocasionalmente para mantê-los em seu lugar, são representados por um novo partido político. Os pais deles que concordam votam em um partido mais velho.
Há poucas décadas, no Estado de Tamil Nadu, no sul, um partido foi formado por ateístas, que naturalmente não conseguiu se manter puramente ateísta à medida que crescia. Então um popular ator de cinema se desligou dele e deu início a um partido, ostensivamente para os pobres, que governou o Estado por muitos anos. Então outro ator de cinema criou um partido, também para os pobres. Os interesses dos eunucos em Tamil Nadu são representados por vários partidos.
Há, é claro, um poderoso partido de direita da comunidade empresarial hindu e da classe média urbana patriótica, que há muito anseia por um "ditador benigno", que faça os trens operarem no horário, apesar disso já acontecer atualmente.
Se nenhum desses partidos serve, há, é claro, o velho Congresso Nacional Indiano, que defende tudo e nada. Mas se o Congresso também não serve, há uma nova organização que nasceu da revolta da classe média educada contra a corrupção política.
Mas apesar de tantos partidos, nenhum representa os interesses das mulheres, que constituem mais da metade da população em um país onde muitas meninas são mortas ainda no útero e os homens lidam com sua perda de poder social cometendo violência contra as mulheres. Reformas substanciais de gênero não podem ser aprovadas na Índia sem antagonizar os homens indianos, e as mulheres políticas dos grandes partidos relutam em correr esse risco profissional. Apenas um partido disposto a apostar tudo nas mulheres e que não tenha interesse em apaziguar os homens poderia sacudir a nação. Até mesmo alguns pais de filhas poderiam votar nele.
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