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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Le Monde: Papel da União Europeia frente à crise na Síria tem seus limites, diz chefe da diplomacia polonesa


Radoslaw Sikorski, 49, é o ministro polonês das Relações Exteriores desde 2007. Seu país não participou da operação da Otan na Líbia e recentemente recusou, ao lado da Alemanha, que a Otan planejasse uma possível operação de securitização das armas químicas sírias. Em uma entrevista ao "Le Monde", ele fala sobre as capacidades militares da Europa e de seu "soft power".

Radoslaw Sikorski
Le Monde: O que a Europa deve fazer em relação à Síria?
Radoslaw Sikorski: As coisas estão muito mais difíceis do que na Líbia. No plano da complexidade étnica e política, a Síria se aproxima mais do Líbano e do Iraque. No Conselho de Segurança não há unanimidade. Mas um de seus membros, a Rússia, se quiser poderá fazer algo importante em relação ao arsenal de armas químicas sírias. Afinal, essas substâncias foram fabricadas com ajudas externas – existe aí uma responsabilidade histórica. A Rússia tem efetivo militar no local e linhas de comunicação com o regime de Bashar al-Assad. Ela afirma que essas armas sinistras não devem ser utilizadas contra civis. Talvez então ela deva exercer um papel na securitização.

Le Monde: A EU (União Europeia) deverá agir no local para ajudar a estabilizar a Síria "pós-Assad", como sugere Paris? 
Sikorski: Apoio a ideia de que a diplomacia precisa ser respaldada em suas capacidades de força. Mas não devemos nos lançar em atividades para as quais não dispomos das instituições necessárias. Enquanto ocupava a presidência do Conselho Europeu [no segundo semestre de 2011], a Polônia propôs um grande reforço da política europeia de Defesa: um quartel-general operacional, o emprego de grupos de combate e outras medidas. Mas não chegamos nesse ponto. Então, por princípio minha resposta é sim. Mas, na prática, não estamos prontos.

Le Monde: O interesse manifestado pela Polônia em um reerguimento da Defesa da Europa é antes de tudo associado à "mudança" dos Estados Unidos para a Ásia, que poderia atenuar o papel deles de garantidor da segurança no continente? 
Sikorski: A Polônia gosta de ter dois contratos de seguro! De um mês para cá, tivemos uma presença permanente de tropas americanas [um destacamento aéreo]. Os Estados Unidos cumprem seu papel. Mas é verdade que não teremos garantias de segurança comparáveis àquelas recebidas pela Alemanha Ocidental durante a guerra fria. Diante de certas situações em nossa vizinhança, a Europa deveria ter a capacidade de agir, ainda que os Estados Unidos sejam "desviados" para outro lugar. Ela não deve nunca mais se ver desamparada como aconteceu durante a crise dos Bálcãs [no início dos anos 1990]. Na condição de Estado fronteiriço da UE, a Polônia evidentemente será um forte apoio para a defesa da Europa.

Le Monde: A Alemanha está menos enérgica e os britânicos não querem um quartel-general europeu…
Sikorski: É possível entender que a Alemanha esteja reticente em enviar tropas para o exterior, por razões históricas bem conhecidas. Outros, como a Polônia e a França, devem assumir a linha de frente. A Polônia tem o vigésimo maior orçamento militar do mundo, cerca de US$ 10 bilhões [R$ 21 bilhões]. O Reino Unido, que tem o maior orçamento de defesa da Europa, seria um parceiro muito desejável. Mas tem havido pressões sobre seu governo. Na Europa, temos a oportunidade de criar um sistema que evita os erros inerentes ao sistema da Otan. Por exemlo, na Europa deveríamos fazer o contrário da Otan e financiar operações a partir de um orçamento em comum, para que os países sejam encorajados a participar das intervenções, em vez de economizar.

Le Monde: O senhor é responsável pela criação recente de uma Fundação Europeia para a Democracia para ajudar a sociedade civil, principalmente nos países árabes. A Polônia quer exportar seu modelo de transição política?
Sikorski: Para alguns desses países, a Polônia é um exemplo melhor a se seguir do que os Estados Unidos ou a França. Isso porque somos um país de porte médio e desprovido de uma história colonial. Quando a "primavera árabe" começou, vários líderes "revolucionários" eram desconhecidos do público e dos governos europeus. A razão era que a Europa, como um todo, conduzia sua política através de canais oficiais ou aprovados pelos governos vigentes. No passado a Polônia teve instituições como a fundação americana National Endowment for Democracy, um instrumento flexível. Pensei que na Europa precisávamos de um instrumento similar, para agir em nossas vizinhanças, ao sul e ao leste. A Comissão já concedeu 6 milhões de euros à fundação, e a Polônia, 5 milhões. Outros contribuem também. Em 2013, serão liberados os primeiros auxílios.

Le Monde: Quais serão as ações concretas?
Sikorski: A fundação, de direito privado, deve agir no plano político de maneira assumida. Uma revolução acontece, um ditador é derrubado e de repente alguém dá dezenas de milhões… à Irmandade Muçulmana! Oras, deveríamos apoiar abertamente aqueles que são próximos dos valores europeus, pois queremos que nossos vizinhos se aproximem de nós. Isso faz parte do "soft power" da Europa.

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