sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
O Brasil em Davos
Fiquei preocupado ao ver que neste ano a principal festa no Fórum Econômico Mundial foi a do Brasil
De acordo com a mitologia grega, quando os deuses queriam aniquilar alguém, enchiam a pessoa de sucesso, poder, prosperidade e fama. O sucesso infundia a ela uma autoconfiança tão desmedida que os erros se tornavam inevitáveis. A isso davam o nome de húbris.
Séculos depois, apareceram os Brics. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, países pobres cuja influência mundial cresce em alta velocidade. E não são apenas os Brics. De acordo com o HSBC, se as tendências atuais se mantiverem, em 2050 as cem maiores economias do mundo vão incluir, além dos Brics e das potências tradicionais, países como Filipinas, Peru, Bangladesh e Colômbia. É claro que a condição decisiva é que "as tendências atuais sejam mantidas".
E é aqui que cabe mencionar o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Os anos durante os quais venho assistindo a essa reunião fizeram de mim um grande crente na existência da húbris. Não sei se são os deuses ou a natureza humana, mas o êxito e o fracasso frequentemente andam de mãos muito dadas.
Uma das festas mais recordadas de Davos foi promovida em meados dos anos 1990 pelo governo mexicano: o anfitrião e figura estelar foi o então presidente Carlos Salinas de Gortari. Pouco depois, as coisas foram muito mal para o país -e para seu presidente. Também vi Kenneth Lay, o chefe de uma empresa admirada, explicar para uma plateia fascinada por que seu modelo de negócios -que gerou receita de US$100 bilhões em 2000- era o futuro. A empresa em questão era a Enron, e, se não tivesse morrido, Lay hoje certamente estaria na prisão. Presenciei Carlos Menem descrevendo a Argentina pré-débâcle e escutei os relatos triunfais daqueles que investiam somas injustificáveis em empresas na internet que não tinham receitas nem lucros. A aclamada fusão da "velha" e gigantesca TimeWarner com a "nova" AOL foi um exemplo paradigmático de tudo isso. Também estive nas apresentações dos ministros da Economia da Tailândia, da Indonésia, da Malásia ou da Coreia do Sul antes de a crise econômica asiática fazê-los desaparecer das listas dos oradores mais procurados.
Isto não significa que todos os que vão a Davos são personagens enlouquecidos pelo sucesso. Desde Nelson Mandela até Elie Wiesel, de tímidos cientistas que trabalham nas fronteiras do conhecimento sobre o câncer ou o cérebro a ativistas que arriscam suas vidas enfrentando déspotas, em Davos é fácil encontrar pessoas admiráveis e nada arrogantes. Mas também é fácil topar com personagens claramente possuídos pela húbris.
E o que tudo isso tem a ver com os Brics e os países pobres que ficaram na moda? Bem, já se pode imaginar. Em minhas conversas recentes com líderes turcos, brasileiros, russos ou chineses em Davos, detectei muitos dos sintomas daqueles famosos que já não aparecem mais nos corredores deste fórum. O que os deuses de plantão estarão tramando para colocar os arrogantes em seus devidos lugares? Não sei. Mas fiquei preocupado ao ver que este ano a principal festa em Davos foi a do Brasil.
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Certo e o que o Brasil deveria fazer então? Continuar subserviente e disciplinado com relação à outras nações? É normal ficar feliz com o sucesso,e não vejo nenhuma arrogancia por parte do Brasil. Já que passamos toda nossa história,apenas como coadjuvante e na hora que passamos a papel principal,nada mais justo como nos comportar-mos como tal. É claro que grandes poderes, trazem grandes responsabilidades...
ResponderExcluirChamar a Rússia de país pobre é piada. Esse Michel Medeiros quer se fazer acreditar como uma espécie de Cassandra e está a deixar nas entrelinhas que o Brasil seria o próximo país a fracassar como os outros que mencionou.
ResponderExcluirCidadão, o texto é da Folha de São Paulo.
ResponderExcluirO "Fórum Econômico Mundial em Davos" já não é estas coisas, parece uma bola murcha...
ResponderExcluirfato é que Dilma Roussef preferiu ir ao Forúm Social mundial do que a
Davos...