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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Governo de Israel pode atacar as instalações nucleares iranianas


Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro israelense 


É preciso levar a sério pessoas como Bibi Netanyahu, Moshe Yaalon e Ehud Barak quando dizem que vão pegar alguém. Eles têm o gatilho fácil se pensam que a própria existência de Israel está em perigo. O que ocorre com frequência, apesar de esse país ter um dos melhores exércitos e um dos melhores serviços de espionagem do mundo, e também algumas bombas nucleares. Agora o trio dirigente do governo israelense dá a entender que atacará o Irã em algum momento dos próximos meses para frear o programa nuclear dos aiatolás, e, goste ou não, o resto do mundo deve incluir isso em suas previsões para esse novo "annus horribilis". Israel bem poderia fazê-lo; outra coisa é que já tenha decidido fazê-lo.

Esta guerra - a "próxima guerra", como é conhecida nos meios políticos, militares e jornalísticos - começou de fato. Israel a trava em dois campos nos quais se sobressai: a propaganda e a espionagem. A contragosto, os EUA e a UE acabam de se alistar ao decidir bloquear os negócios com o banco central do Irã e não comprar um só barril de petróleo iraniano.

Israel iniciará as hostilidades militares na primavera ou no verão próximos? Não é descartável, por mais que Obama tente impedir. É inclusive muito provável.

O jogo da próxima guerra não é para almas ingênuas. Quais são os fatos e quais os boatos? Quem está blefando e quem tem uma boa mão? Isto ou aquilo é um balão-sonda? Como em uma obra de John Le Carré, verdades, mentiras e tudo o que há no meio se sucedem, se enredam, se refletem, fazem eco e assim vão se deformando e tornando-se inextricáveis.

O que é certeza é que os governantes israelenses pensam que o programa nuclear iraniano representa uma "ameaça existencial" para seu país. É certeza que a ansiedade cresce em boa parte de seus compatriotas. A república islâmica do Irã, que jamais reconheceu a existência do Estado judeu, e muito em particular seu atual presidente, Ahmadinejad, que repetidamente clamou por sua destruição, não são nada tranquilizadores.

Também é certeza que o Tsahal tem planos prontos para um bombardeio aéreo a instalações iranianas. E que, entretanto, o Mossad impeça esse programa nuclear com todos os meios ao seu alcance.

Com sabotagem de centros industriais, assassinato de cientistas e o uso do vírus informático Stuxnet, a fase secreta da guerra contra o Irã começou na década passada, depois que os serviços de inteligência dos EUA e de Israel chegaram à conclusão de que o Irã tinha uma usina de enriquecimento de urânio em Natanz, a cerca de 250 quilômetros ao sul de Teerã. Nenhum dos dois acreditaram no regime dos aiatolás quando disse que só estava interessado no uso civil da energia nuclear.

Era uma desconfiança sensata. O Irã khomeinista tem um monte de razões para querer possuir armas nucleares. Começando por sua vontade de ser uma potência regional - enraizada tanto no nacionalismo persa como no islã xiita - e terminando por seu temor de ser vítima de uma agressão bélica americana e/ou israelense, como já o foi nos anos 1980 de uma guerra imposta pelo Iraque de Saddam. Precisamente, os exemplos contrapostos de Iraque e Coreia do Norte o levaram a se convencer de que só a verdadeira posse de armas de destruição em massa pode livrá-lo de um ataque externo.

Para manter o moral da tropa, no início o regime iraniano atribuiu a acidentes as explosões que sacudiam seus quartéis e fábricas ou arrebentavam os Peugeots de seus cientistas. Até que recentemente admitiu o que todo mundo sabia: essa epidemia, que vitimava tudo o que se relacionasse ao seu programa nuclear, não poderia ser outra coisa senão fruto da ação de serviços de espionagem estrangeiros.

Por sua própria natureza, a guerra secreta é muito suja. E o mais sujo desta são os assassinatos de cientistas iranianos. Foram caindo Ardeshir Hosseinpour (2007), Masud Ali Mohammadi (2010), Majid Shahriari (2010), Dariush Rezaeinejad (julho de 2011) e Mostafa Ahmadi-Roshan (janeiro de 2012). O atual diretor da agência atômica iraniana, Fereydun Abbasi-Davani, foi gravemente ferido em novembro de 2010.

E o general Hassan Moghadam morreu em novembro de 2011 na explosão de um quartel da Guarda Revolucionária. O "modus operandi" nos assassinatos da maioria dos cientistas foi o seguinte: motociclistas se aproximam do carro de seu alvo, colam nele uma bomba magnética, aceleram para se afastar e não demora a ocorrer uma explosão. Na própria Teerã.

Os EUA negaram com veemência estar por trás desses atos. Seu desmentido parece verossímil e praticamente a totalidade dos especialistas os atribuem ao Mossad. Como os agentes israelenses da unidade Cesarea, especializada em sabotagem e assassinato, não podem atuar no Irã - nem mesmo disfarçados de europeus, como fizeram em Dubai em 2011 -, o Mossad recrutou opositores extremistas iranianos da etnia curda, religião sunita (grupo Jundallah) ou ideologia de extrema-esquerda (Muyahidin Jalq).

Às vezes a espionagem israelense usou para essa guerra suja o que no mundo dos serviços secretos se chama "false flag", ou falsa bandeira. No mês passado, a revista "Foreign Policy" informou que agentes do Mossad se fizeram passar por funcionários da CIA para recrutar como atiradores terroristas do grupo Jundallah. Mark Perry, o autor da informação, contava que essa operação se realizou pelas costas da CIA e da Casa Branca, que, quando a descobriram, uivaram de indignação.

Tamir Pardo, o novo chefe do Mossad, hoje dirige os atos de sabotagem e assassinato contra o programa nuclear iraniano. Mas essa guerra secreta foi projetada e iniciada por seu antecessor, Meir Dagan. No início de 2011, o legendário espião Dagan foi eliminado exatamente por se opor a um ataque bélico ao Irã. Já então os governantes israelenses acreditavam que a guerra secreta que o Mossad realizava era necessária, mas não suficiente. E começaram a planejar tanto uma operação aérea contra instalações iranianas como a resposta às previsíveis represálias.

Esses preparativos se aceleraram depois de novembro passado, quando a Agência Internacional de Energia Atômica certificou que o programa nuclear iraniano tem fins militares. O governo israelense se preocupa especialmente com a nova usina de enriquecimento de urânio de Fordo, perto da cidade sagrada xiita de Qoms, um autêntico bunker subterrâneo escavado em uma montanha e protegido por uma forte defesa antiaérea. Chegou a se convencer de que dentro de um ano nada nem ninguém poderá impedir que o Irã de fato tenha a arma nuclear.

Nesta e em outras questões de segurança Israel tem provado suficientemente que não se anda com crianças. Em 1981 seus caça F-16 lançaram um ataque de surpresa contra o reator nuclear de Osirak, no Iraque de Saddam, e o inutilizaram completamente. Em 2007, dessa vez com caça F-15I Raam, voltou a atuar dessa forma contra um reator sírio em uma região desértica a oeste de Damasco.

Mas Israel tem recursos militares suficientes para repetir as jogadas de Iraque e Síria no atual Irã? Em uma reportagem muito documentada, o semanário americano "Time" responde negativamente a essa pergunta: Israel não está em condições de infligir um dano irreparável ao programa nuclear iraniano.

Para começar, o regime iraniano repartiu esse programa entre diversas instalações espalhadas por todo esse amplo país (habitado por 80 milhões de pessoas, o Irã tem uma área três vezes maior que a da Espanha). E as mais importantes, que abrigam as centrífugas para enriquecer urânio, estão construídas embaixo da terra em profundidades que as tornam quase invulneráveis.

Depois há as limitações da aviação israelense. Ela conta com F-15I Raam, capazes de voar 2.500 km sem reabastecer, uma autonomia suficiente para chegar ao Irã (entre Tel Aviv e Teerã são 1.600 km). E com F-161 de escolta. Além de uma frota de aviões não tripulados (drones) aptos para bombardeios de precisão. Seus satélites e aviões não teriam muitos problemas para guiar os seus, assim como para perturbar os radares, as telecomunicações e os computadores dos iranianos.

O problema, como salienta a "Time", é que é difícil imaginar que essas unidades possam passar indo e vindo dias e dias, semanas e semanas, tendo de reabastecer de vez em quando no ar muitos de seus aparelhos. E, segundo os especialistas, essa campanha prolongada seria necessária para demolir seriamente o programa iraniano.

Assim, Israel poderia lançar um ataque aéreo pontual que prejudicasse algumas instalações. O programa nuclear iraniano sofreria um atraso de alguns meses, talvez um ano, mas não mais, segundo fontes americanas. De dois ou três anos, segundo as fontes israelenses mais otimistas.

Só os EUA poderiam lhe causar um dano mais sério, mas às custas de empregar durante longo tempo todo o seu potencial de bombardeio com mísseis e a partir de aviões. E mesmo assim os especialistas acreditam que também não conseguiriam encerrar o caso definitivamente. Ficaria, então, o recurso à invasão terrestre, a guerra total, algo inatingível para Israel e impensável hoje para os EUA.

E como reagiria o Irã a um ataque aéreo israelense? Ninguém discute que esse ataque daria oxigênio político ao regime dos aiatolás, que se encontra no ponto mais baixo de sua legitimidade doméstica e sua influência regional. Permitiria que se apresentassem como vítimas de uma agressão. No interior apelariam tanto para o sentimento nacional persa como ao islâmico para mobilizar sua população. No exterior poderiam revigorar seu prestígio entre setores anti-imperialistas do mundo árabe e muçulmano, muito abalado hoje pela Primavera Árabe democrata e a agonia do regime sírio dos Assad.

Militarmente, o Irã poderia responder disparando mísseis de longo alcance Shahab-3 contra Israel, mas é difícil prever qual seria seu alcance e impacto. O governo israelense se preocupa mais com os ataques que poderiam lançar esses seus vizinhos e aliados do Irã que são o grupo libanês Hizbollah e o palestino Hamas. A Síria dos Assad também poderia somar-se à luta, encontrando assim uma saída "patriótica" para suas dificuldades internas.

Isto é, não seria descartável uma guerra total no Oriente Médio. Como tampouco uma campanha de ações terroristas no resto do mundo contra alvos israelenses e judeus. Para não falar em uma tentativa de fechamento do estreito de Ormuz por parte do Irã, com a consequente crise petrolífera planetária. Assim mesmo, o Irã poderia sabotar refinarias e oleodutos em território saudita.

Vale a pena? Não para o resto do mundo; quanto a Israel, é o que três pessoas avaliam neste momento: o primeiro-ministro Netanyahu, o vice-primeiro-ministro Yaalon e o ministro da Defesa Barak. Qualificados de "falcões" pelo semanário britânico "The Economist", os três estão convencidos de que um Irã nuclear representaria uma "ameaça existencial" para Israel. Por isso se inclinam a pensar que vale a pena.

Em 25 de janeiro, o jornalista israelense Ronen Bergman publicou no suplemento semanal de "The New York Times" uma reportagem ("Israel vai atacar o Irã?") que desde então não parou de ser analisada por todos os que acompanham esse assunto. Bergman a concluía assim:

"Depois de falar com muitos líderes políticos e chefes militares e dos serviços de inteligência, cheguei à conclusão de que Israel atacará o Irã em 2012".

Bergman é um analista veterano e repórter do jornal israelense "Yedioth Ahronoth", uma pessoa muito bem conectada e confiável. Ninguém põe em dúvida os fatos que conta em sua reportagem, nem as declarações de políticos, militares e espiões israelenses que ele cita. Mas e se nesse jogo de espelhos deformantes que é a próxima guerra alguém tivesse falado ao jornalista como fez com a intenção de que transmitisse aos EUA e à Europa a ideia de que, caso não endureçam mais sua atitude, Israel atacará sozinho sejam quais forem as consequências para todos?

Assim, como um balão-sonda para colocar mais pressão, o interpretou o jornal israelense "Haaretz". E também o especialista americano Jeffrey Goldberg, que contou que as mesmas fontes israelenses já lhe disseram que o ataque ocorreria no verão de 2011. Goldberg acredita que os governantes israelenses repetem a jogada para que o Ocidente aperte ainda mais as condições dos aiatolás. O próprio Bergman, em declarações a "The New York Times" em 30 de janeiro, admite que não pode entrar na cabeça das pessoas que entrevista e descobrir as razões pelas quais dizem isto ou aquilo. "Pode ser que estejamos diante daquilo de 'agarre-me que eu o pego'", ele diz. "Pode ser que Israel esteja enviando uma mensagem desse tipo aos EUA e à Europa: façam algo com o Irã, porque se não nós faremos."

É que nem no estabelecimento israelense há unanimidade total sobre a rentabilidade de um ataque aéreo unilateral contra o Irã. Há vozes discrepantes, e não exatamente de pacifistas. Entre outros, Meir Dagan, ex-chefe do Mossad; Gabi Ashkenazi, ex-chefe da Junta do Estado Maior, e Rafi Eitan, um veterano oficial do Mossad, acreditam que a ameaça do Irã não é tão iminente nem tão "existencial", e que uma ação militar preventiva israelense seria catastrófica. Não deteria o programa nuclear dos aiatolás e representaria para Israel um sério isolamento internacional e ferozes represálias.

Quando foi destituído, em janeiro de 2011, o espião-chefe Dagan reuniu um grupo de jornalistas e, segundo conta Bergman, disse: "A ideia de que é possível deter o projeto nuclear iraniano com um ataque militar é incorreta; só é possível provocar um atraso temporário". Eitan é dessa opinião: o único modo sério e definitivo de lidar com esse assunto é "uma mudança de regime" em Teerã, para o que contribuiria muito pouco o ataque israelense, pelo contrário.

Em um artigo publicado em 23 de janeiro no jornal "Daily Star" de Beirute, o ex-agente da CIA Bruce Riedel, especialista em Oriente Médio, afirma que o governo israelense exagera. Ao que parece, é a opinião majoritária na espionagem americana. Obama, segundo fontes americanas, tem sobre a mesa do Salão Oval relatórios que dizem: 1. O Irã, embora continue enriquecendo urânio, ainda não deu os passos técnicos necessários para construir uma arma nuclear. 2. Mesmo que começasse a dá-los, precisaria de mais de um ano para construir tal arma. 3. Um ataque aéreo não destruiria seu programa nuclear: em troca, poderia fazer os aiatolás decidirem construir uma arma nuclear o mais cedo possível.

Obama não gosta absolutamente da próxima guerra, intui que será tão desastrosa ou mais que a do Iraque. Em meados de janeiro telefonou para Netanyahu para avisá-lo de que não deve atacar o Irã por sua conta e risco. E com essa mensagem enviou a Israel dias depois o chefe do Estado-Maior americano, general Martin Dempsey.

Mas Netanyahu e os seus não ocultam sua disposição para agir de surpresa e sem pedir autorização. Sabem que a maioria pró-Israel dos EUA terminaria aplaudindo. E que Obama ficasse desautorizado não lhes desagrada. Netanyahu já o humilhou ao não escutar seus apelos para encerrar a construção de colônias judias em Jerusalém oriental e Cisjordânia, e ao conseguir por isso uma ovação no Capitólio em Washington.

Para a Europa, esta guerra não pode vir em pior momento. Levando Israel muito a sério, acaba de tomar uma decisão importante para tentar abortá-la: o embargo do petróleo iraniano. Foi o que disse Alain Juppé, ministro francês das Relações Exteriores: "Para evitar uma ação militar irreparável, temos de endurecer as sanções". Americanos e europeus trabalham para que outros clientes do petróleo iraniano como Japão e Coreia do Sul se somem ao embargo. Como alternativa, a Arábia Saudita se oferece para aumentar suas exportações.

As sanções econômicas estão prejudicando o Irã: sua economia está emperrada, enquanto a inflação e o desemprego disparam. De modo que os EUA e a UE ainda trabalham com a hipótese de deixar uma via de escape para os aiatolás: o fim do enriquecimento de urânio e a aceitação de severas inspeções internacionais. Mas os aiatolás têm a cabeça dura, muito dura. O choque frontal de trens é altamente provável.

Um comentário:

  1. Voce é um completo asno e idiota...e o seu patrão judeu-americo-nazista COVARDE. Por quê só este blá,blá,blá ?? Ataque logo, pare de dizer asneiras, seus patroẽs estão quebrados, devem até o butão. Ataquem...vamos lá... COVARDES !!!

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