sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Nova estratégia militar de Obama muda o foco das Forças Armadas norte-americanas
O presidente Barack Obama apresentou uma ampla nova estratégia militar para os Estados Unidos na quinta-feira, uma que muda o foco das forças armadas para ameaças na Ásia e na região do Pacífico, mantém uma forte presença no Oriente Médio, mas deixa claro que as forças de solo americanas não mais serão grandes o bastante para condução de campanhas de contrainsurreição prolongadas, de grande escala, como as realizadas no Iraque e no Afeganistão.
Em uma aparição incomum na sala de briefing do Pentágono, Obama deixou sua marca em uma estratégia militar que se distancia das guerras desgastantes que ele herdou do governo Bush e se volta mais para o poder aéreo e naval no Pacífico e no Estreito de Hormuz, como contrapeso para a China e o Irã.
A estratégia de Obama incorpora centenas de bilhões de dólares em cortes nas forças armadas, o que a torna um codicilo desajeitado para o relacionamento desconfortável que ele tem mantido com os militares desde o início de seu governo.
Em uma carta acompanhando a nova estratégia, o presidente escreveu: “Nós temos que colocar nossa casa fiscal em ordem e renovar nossa força econômica a longo prazo”.
Mas em um ano eleitoral em que está sob ataque dos candidatos presidenciais republicanos por cortar o orçamento das forças armadas e pelo que dizem ser sua fraca resposta às ameaças iranianas, Obama também disse que os Estados Unidos “evitariam repetir os erros do passado, quando nossas forças armadas foram deixadas despreparadas para o futuro”.
Para isso, escreveu o presidente, seu governo continuará investindo no contraterrorismo, na coleta de inteligência, na guerra cibernética e no combate à proliferação de armas nucleares.
Obama chegou ao Pentágono na manhã de quinta-feira para descrever a nova estratégia juntamente com seu secretário da Defesa, Leon E. Panetta, e o general Martin E. Dempsey, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Funcionários disseram que foi a primeira vez na história que um presidente realizou uma coletiva de imprensa no Pentágono.
“Agora, nós estamos virando a página em uma década de guerra”, disse Obama em comentários preparados. Ele disse que o país precisa permanecer preparado. “Nós não podemos repetir os erros do passado –após a Segunda Guerra Mundial, após a Guerra do Vietnã– quando nossas forças armadas foram deixadas despreparadas para o futuro”, ele disse. “Então, sim, nossas forças armadas serão mais enxutas, mas o mundo precisa saber que os Estados Unidos manterão sua superioridade militar.”
Panetta concluiu que o Exército precisa encolher ainda mais do que as metas atuais, caindo para 490 mil soldados ao longo da próxima década, mas os Estados Unidos não devem cortar nenhum de seus 11 porta-aviões, segundo funcionários e analistas militares informados sobre as propostas orçamentárias do secretário.
A nova estratégia militar é movida por pelo menos US$ 450 bilhões em cortes no orçamento do Pentágono ao longo da próxima década. Outros US$ 500 bilhões em cortes podem ser ordenados caso o Congresso implante planos para reduções mais profundas.
Como parte da nova realidade, Panetta deverá propor cortes nas próximas semanas na próxima geração de armas, incluindo o adiamento da compra dos caças de ataque conjunto F-35, um dos programas de armas mais caros na história. O adiamento dos F-35 manteria suas fábricas abertas, dando à fabricante, a Lockheed Martin, uma chance de resolver os problemas no desenvolvimento do avião, mas liberando ao mesmo tempo o dinheiro que caso contrário seria dedicado às compras em um ou dois anos.
Nos últimos dias, altos assessores tanto de Panetta quanto Dempsey disseram que poucos detalhes específicos sobre os cortes orçamentários do Pentágono seriam divulgados antes da proposta final do orçamento ser concluída neste mês. Mas vários funcionários do Pentágono, oficiais militares e especialistas em orçamento militar informados sobre os planos de Panetta discutiram sob a condição de anonimato os programas específicos sob risco de serem cortados.
O secretário de Defesa deixou claro que a redução de tropas deve ser executada cuidadosamente e ao longo de vários anos, para que os veteranos de combate não inundem um mercado de trabalho já difícil e as famílias dos militares não sintam que o governo as deixou na mão, após uma década de sacrifício, disseram os funcionários.
Um Exército menor seria um sinal claro de que o Pentágono não prevê a condução de outra campanha cara de contrainsurreição, com necessidade intensiva de tropas, como as travadas no Afeganistão e no Iraque, assim como as forças armadas seriam incapazes de travar duas guerras sustentadas em solo ao mesmo tempo, como era exigido pelas estratégias militares nacionais anteriores.
Em vez disso, seria exigido das forças armadas travar e vencer uma guerra, minar as aspirações militares de outro adversário em uma região diferente do mundo, e ao mesmo tempo ser capaz de conduzir operações de ajuda humanitária e outras contingências, como a continuidade das missões de contraterrorismo e a implantação de uma zona de exclusão aérea.
O tamanho do Corpo dos Marines também deverá ser reduzido, apesar da expectativa de que se beneficie com a mudança do foco para a região da Ásia e Pacífico, com os marines posicionados em navios e bases a oeste do Havaí.
Panetta também está examinando os custos de pessoal, com cortes em futuros benefícios de aposentadoria e taxas para os planos de saúde oferecidos aos aposentados do Departamento de Defesa na mesa.
Algumas áreas de gastos do Pentágono serão protegidas. O secretário de Defesa não defenderá cortes no financiamento de defesa e ataque no ciberespaço, nas forças das Operações Especiais ou nas áreas de inteligência, vigilância e reconhecimento.
Em geral, a nova “Revisão Estratégica da Defesa” apresentada na quinta-feira tentará definir os interesses de segurança nacional americanos, no que os funcionários disseram que seriam termos mais estreitos e realistas –para permitir a aquisição das capacidades militares necessárias com um orçamento reduzido.
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