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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Estados Unidos querer capturar líder sanguinário africano Joseph Kony


As tropas dele mataram e estupraram pessoas, e obrigaram crianças a se tornarem assassinos. Durante décadas, o líder rebelde Joseph Kony aterrorizou as selvas da África Central e escapou de todos os que tentaram capturá-lo. Agora muita gente espera que o envio de cem assessores militares dos Estados Unidos à República Centro-Africana possa finalmente por um fim a essa situação

Joseph Kony

Ele é como um fantasma. É claro que milhares de pessoas os viram, dezenas de milhares morreram por sua causa e centenas de milhares sofreram devido a ele e aos seus seguidores. Mas as pessoas que estavam no seu encalço não conseguiram capturá-lo.

Este homem é Joseph Kony, de 49 anos de idade, o autointitulado “General de Deus”, guerrilheiro e perpetrador de assassinatos em massa. Há mais de duas décadas, ele e o seu Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês) vêm aterrorizando os habitantes de uma área de cerca de 100 mil quilômetros quadrados de selvas em Uganda, na República Centro-Africana, na República Democrática do Congo e no Sudão Meridional.

Em certas ocasiões as tropas dele chegaram a incluir vários milhares de homens, mulheres e crianças armados, mas agora calcula-se que esse número tenha se reduzido a apenas algumas centenas de combatentes. Em nome dele esses guerrilheiros assassinaram, roubaram, saquearam e estupraram. Uganda enviou tropas de elite no encalço de Kony. Em 2005, o Tribunal Criminal Internacional (TCI), em Haia, emitiu um mandado de prisão contra ele sob acusações de crimes contra a humanidade. Mas ninguém conseguiu capturá-lo.

Em outubro do ano passado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que estava enviando tropas dos Estados Unidos para juntarem-se à caçada a Kony. Os cerca de 100 assessores militares norte-americanos encontram-se em Uganda, de onde eles ajudarão a preparar as missões das tropas de elite que esperam finalmente prender esse assassino. No entanto, autoridades norte-americanas em Kampala, a capital de Uganda, estão se recusando a fornecer qualquer informação detalhada sobre a missão.

As raízes do terrorismo de Kony

Em 1986, Kony e os seus seguidores refugiaram-se na selva depois que o presidente de Uganda por um curto período, Tito Okello, da tribo Acholi, a qual Kony pertence, foi derrubado do poder por Yoweri Museveni, o atual líder do país. A derrubada de Okello fez com que os membros daquela tribo temessem perder a influência e os direitos dos quais desfrutavam. Desde então, Kony passou a autodenominar-se um “mensageiro de Deus”. A princípio, ele criou um grupo radical de pessoas que se concentrou principalmente em recrutar crianças e jovens. Os indivíduos que apoiavam Kony o reverenciavam como sendo um messias dotado de poderes proféticos. A ideologia dele foi sempre grosseira, e ele jamais teve uma plataforma política bem definida. O único lema de Kony foi sempre: “Nós lutamos pelos Dez Mandamentos de Deus”.

No decorrer dos anos, o exército de Kony foi ficando cada vez maior e mais brutal. Crianças foram sequestradas e os pais delas assassinados. Membros do LRA executavam regularmente todos aqueles que tentavam fugir.

Assassinato impiedoso

Segundo relatos, Kony teria recrutado mais de 100 mil crianças no decorrer dos anos, geralmente com o uso da força. Ele transforma as crianças em soldados que assassinam, estupram e saqueiam. Há algum tempo, Florence Ameny, uma ex-integrante do LRA, descreveu o que significava ser sequestrada pelas forças de Kony. “Eu tinha 13 aos de idade quando fui sequestrada”, contou ela. “Isso foi em 1992. Todas as meninas foram estupradas. Eu acabei sendo obrigada a me casar com um guerrilheiro de 50 anos de idade.” Ela diz que longas marchas eram comuns, e que as crianças eram obrigadas a transportar cargas pesadas, o que fazia com que muitas delas desfalecessem devido à exaustão. Operações de ataque e combates faziam parte da vida diária, assim como as frequentes execuções de guerrilheiros pertencentes ao próprio grupo. As crianças eram sistematicamente ensinadas a não sentir piedade, simpatia ou a nutrir qualquer outro sentimento. Florence também foi guerrilheira. E ela também matou pessoas indefesas, incluindo mulheres e crianças.

Florence conta que quem quer que fosse pego tentando escapar era executado. Alguns eram queimados vivos, outros afogados, e alguns esquartejados. Kony jamais presenciou qualquer ato de compaixão dentro do grupo. Depois de 12 anos, ela finalmente conseguiu escapar com os seus três filhos e foi para um campo de refugiados no norte de Uganda.

Tendo fracassado na tentativa de capturar Kony com várias operações especiais, o governo de Uganda tentou agir sem violência durante algum tempo. Negociadores do governo tentaram fazer com que ele desistisse, tendo chegado até a dar ao líder rebelde garantias de que não seria preso, apesar da exigência do TCI de que ele fosse extraditado. Mas, depois que as conversações foram interrompidas em 2008, Kony seguiu novamente para a selva, onde desde então ele tem continuado a praticar assassinatos.

Escapando dos seus perseguidores

Em diversas ocasiões, Kony escapou por pouco de ser capturado. Em outubro do ano passado, autoridades militares acreditaram que tinham detectado a presença dele em Nkjema, na República Centro-Africana. Mas, ao atacarem, elas encontraram apenas uma bacia e uma toalha que tinham acabado se ser abandonadas. Kony havia desaparecido.

Em uma ocasião anterior, ao final de 2008, forças ugandenses quase o capturaram no Parque Nacional Garamba, no remoto extremo norte do Congo. Mais de dez assessores militares dos Estados Unidos seguiram para Uganda e forneceram às tropas nativas apoio na forma de equipamentos de visão noturna, combustível e telefones para comunicação por satélite. Depois que tropas lideradas pelo filho do presidente Museveni, Muhoozi Kainerugaba, determinaram a localização de Kony usando imagens de satélite, helicópteros ugandenses lançaram bombas contra o acampamento dele. No entanto, o que eles não sabiam era que Kony já havia abandonado o local. Soldados ugandenses chegaram ao acampamento dias depois e libertaram cerca de 100 crianças. Além das crianças, eles só encontraram utensílios de cozinha, três fuzis, uma peruca e um violão. Kony vingou-se dias depois, atacando diversas aldeias próximas ao parque.

Histórias desse tipo alimentam o mito da invulnerabilidade do general. Até mesmo Florence Ameny acredita que ele possua poderes mágicos. “Ele disse a cada pessoa se ela morreria, fugiria ou ascenderia na hierarquia do LRA. As previsões dele sempre se mostraram acertadas”.

Mas a verdade é bem mais prosaica. Kony é inteligente e cuidadoso. Por exemplo, para evitar ser detectado, ele proibiu a utilização de telefones por satélite à sua volta.

Intensificação da caçada

Kony também se beneficiou do fato de Uganda, a República Democrática do Congo, a República Centro-Africana e o Sudão jamais terem juntado forças no sentido de capturá-lo. Ao contrário, o governo sudanês em Cartum forneceu a ele armamentos e veículos durante muito tempo por ter ficado irritado com o fato de Uganda ter manifestado simpatias pelo Exército de Libertação Popular do Sudão (SPLA), a força rebelde do sul do país. No decorrer dos anos, tropas ugandenses também atuaram na República Centro-Africana e naquele território que é hoje o Sudão Meridional. Mas elas não atuaram na República Democrática do Congo, que não permitiu que tropas ugandenses perseguissem Kony no seu território, depois que estas supostamente saquearam recursos naturais no Congo.

A União Africana também anunciou planos para a criação de uma força militar e a coordenação da perseguição a Kony. Até que essa força esteja pronta para operar – algo que, em se tratando da União Africana, pode demorar muito tempo –, os norte-americanos desejam voltar a agir. E desta vez eles querem resultados. Autoridades norte-americanas já conversaram com os seus congêneres na República Centro-Africana, na República Democrática do Congo e no Sudão Meridional. Elas não querem ser impedidas de cruzar as fronteiras que Kony atravessa livremente.

Embora tenham acabado de chegar, os assessores militares norte-americanos já estão ensinando unidades ugandenses a preparar pacotes lançados por aeronaves com o objetivo de contribuir para uma melhor organização do sistema de reabastecimento da frente de batalha. Eles observaram operações das tropas ugandenses na parte ocidental do Sudão Meridional e no sul da República Centro-Africana. Os assessores também ajudaram com o fornecimento de imagens de satélite, embora a utilidade dessas imagens tenha sido, em certos casos, limitada devido à densa cobertura florestal da região. Finalmente, existem planos para pedir à população local que desempenhe um papel significativo em ajudar a rastrear Kony.

Especialistas preveem que a captura do autoproclamado general já está se aproximando. Em novembro de 2011, o Grupo de Crise Internacional, que há algum tempo acompanha a questão do LRA e do seu líder, apresentou um relatório no qual sugere que o grupo guerrilheiro estaria se aproximando do “fim da linha”. Da mesma forma, a general Margaret Woodward, comandante das operações da Força Aérea dos Estados Unidos na África, declarou em meados de dezembro ao jornal “Daily Monitor” que as forças militares ugandenses “vencerão aqui dentro de pouco tempo, e não demorará muito para que elas sejam vitoriosas na guerra e o LRA deixe de representar um problema”.

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