quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Com embargo, Espanha substituirá o petróleo do Irã pelo da Arábia Saudita
Teerã cobre na atualidade cerca de 15% das compras espanholas
A Espanha não produz petróleo. Com uma dependência energética geral de quase 80% (20 pontos acima da média europeia), depende em 99% das importações para cobrir o consumo de petróleo. Por essa razão, a possível suspensão das compras do Irã a partir de 1º de julho é um problema importante.
Segundo dados da Cores (Corporação de Reservas Estratégicas de Produtos Petrolíferos), o Irã cobriu nos últimos 12 meses 14,7% das importações de petróleo espanholas. Em algum momento da crise líbia, o petróleo iraniano chegou a representar até 20%. São porcentagens muito importantes para o estratégico setor de energia. Se o Irã não aceitar as exigências das potências ocidentais, a partir de julho a Espanha - como outros países muito dependentes do cru iraniano, como Grécia ou Itália - terá de buscar alternativas de compra.
Segundo os especialistas consultados nas empresas espanholas, a busca de petróleo alternativo - com o apoio da UE e dos EUA - não será difícil. Na segunda-feira (23) o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel García-Margallo, explicou que "nos deram garantia de que a Arábia e os países do Golfo ... manterão o abastecimento e os preços".
A Arábia Saudita, que já é um importante fornecedor da Espanha (mais de 14%), poderia em princípio cobrir a maior parte dos 2,5 milhões de barris diários que desapareceriam do mercado internacional. A Arábia Saudita, indicam os especialistas, pode ampliar sua capacidade de produção em um período entre um e três meses sem problemas excessivos. Mas, apesar de tudo, cruzam os dedos para que a ameaça de embargo seja suficiente e não seja necessário executá-la em 1º de julho. Porque o embargo, dirigido para a jugular do sistema imposto pelos aiatolás no Irã, poderia desencadear cenários de confronto de pesadelo.
O pior dos cenários, relatam, seria o fechamento do estreito de Ormuz. Por esse gargalo circulam 18 milhões de barris diariamente (um quarto do consumo diário mundial). Se o Irã fechar o estreito, poderá provocar um confronto militar direto com os EUA. E nesse caso o mercado de petróleo enlouqueceria. Simplesmente, nunca nas diversas crises registradas houve um estrangulamento assim.
Os especialistas preveem mais incógnitas para o caso de que o Irã não dê o braço a torcer. Por exemplo, que atitude manterão as potências emergentes, especialmente a China (compra do Irã 450 mil barris diários) e a Índia (350 mil barris), com economias sedentas de petróleo. Aproveitarão a situação para apertar os iranianos em troca de assumir o petróleo destinado ao Ocidente? O que haverá em qualquer caso, indicam nas petrolíferas, será um reajuste das diversas qualidades que formam a cesta de compras dos importadores.
E o que acontecerá com os preços? Certamente dependerá da evolução dos acontecimentos. Mas o que se viu na segunda-feira dá uma ideia. O mercado assumiu com altas muito moderadas o anúncio de embargo da UE às exportações de cru iraniano. O petróleo tipo brent - o de referência na Europa - ultrapassou em algum momento do dia os US$ 111 por barril (alta de 1,3% em relação ao dia anterior), mas houve jornadas com aumentos semelhantes, de mais de US$ 1 por barril, sem acontecimentos relevantes. Porque a verdade é que o mercado de petróleo acusa a queda da demanda provocada pela crise em todo o mundo, e em especial na Europa.
Os preços do petróleo, afirmam os especialistas, se mantêm em torno dos US$ 110 por barril devido à tensão em torno do programa nuclear iraniano. Sem a ameaça de um agravamento da situação, que poderia chegar inclusive a um confronto militar, os preços teriam se inclinado muito mais para baixo nos últimos meses. A economia internacional continua impregnada de nuvens escuras. O conflito em torno do Irã é apenas uma delas.
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