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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Disputa em torno da idade do chefe do Exército da Índia sacode a liderança do país


General Vijay Kumar Singh


Certamente o Exército da Índia já tem muitas preocupações para mantê-lo ocupado. No nordeste fica a China, que está discreta e rapidamente expandindo sua presença militar ao longo da fronteira. No noroeste fica o Paquistão dotado de armas nucleares, que já travou três guerras com a Índia e atualmente passa por grande instabilidade política.

Mas por semanas, o Exército indiano está envolvido em uma disputa dolorosamente pública não sobre segurança nacional, mas sobre a data de nascimento de seu chefe. Em um drama que tem provocado discussões emocionais em programas de televisão e condenação nos editoriais de jornal, o chefe do Exército, Vijay Kumar Singh, insiste que nasceu em 10 de maio de 1951. Mas o governo da Índia insiste que não, que ele nasceu em 10 maio de 1950.

A resposta para a disputa pode determinar se Singh se aposentará em maio ou 10 meses depois, já que as regulamentações militares estipulam que o chefe do Exército deve deixar o cargo após três anos ou em seu 62º aniversário, o que ocorrer primeiro.

A controvérsia, que afeta diretamente o cronograma de sucessão do comando militar da Índia, chegou ao seu ápice na segunda-feira, quando Singh inesperadamente levou o assunto à Suprema Corte da Índia. Ele deu entrada a uma petição que pede aos ministros que decidam uma questão aparentemente simples: quando ele nasceu?

“Isso envolve o orgulho, integridade e honra dele”, disse Puneet Bali, um dos advogados envolvidos na petição do general.

É uma história de orgulho e burocracia, de honra e soberba (e erros de datilografia cartoriais), que se tornou um embaraço para o Ministério da Defesa da Índia e para o Exército do país, que conta com 1,3 milhão de membros. Alguns críticos acusam o ministério de lidar muito mal com o assunto, enquanto outros culpam Singh de lidar com o assunto de modo a prolongar seu mandato no cargo.

A situação criou a aparência desconfortável de uma briga entre a liderança militar e os líderes civis da Índia. Também criou alguns espetáculos políticos desajeitados: no domingo, Singh foi anfitrião do primeiro-ministro Manmohan Singh e do ministro da Defesa, A.K. Antony, na celebração do 64º Dia do Exército do país. No dia seguinte, ele processou o governo na Suprema Corte.

“Houve um elemento de surpresa”, disse Ashok Mehta, um general reformado que criticou as ações do chefe do Exército. “Um dos princípios da guerra é o logro. Eu acho que ele fez as pessoas acreditarem que não iria de fato à Justiça.”

O impacto prático do caso envolve o cronograma da liderança de mudanças dentro do Exército indiano. Singh, que serviu com distinção na guerra de 1971 contra o Paquistão, assumiu o posto mais alto do Exército em 31 de março de 2010. Segundo este prazo, Singh deve deixar o cargo em maio, com base no nascimento em 1950 citado pelo governo.

Mas a afirmação de Singh de que é mais jovem, se mantida, permitiria potencialmente sua permanência no cargo e que completasse o mandato pleno de três anos.

Em seus poucos comentários públicos, Singh negou as acusações de que está tentando se agarrar ao seu cargo e também negou que está lutando com o Ministério da Defesa.

“De minha parte, não é algo visando ganhos pessoais”, Singh disse recentemente ao canal de notícias “NDTV”.

Apesar do fato de o mais alto general do país estar processando o governo que jurou defender ter grande apelo à imprensa, o caso também envolve uma das pragas da vida indiana: a montanha de papelada exigida pela burocracia do país. Não está claro como, quando ou por que surgiram as datas conflitantes, mas à medida que o general era promovido no Exército, ela contava com duas datas de nascimento registradas no sistema de documentos do Exército. Na divisão geral seu ano de nascimento era listado como 1951. Na divisão da secretaria militar o ano é listado como 1950. Em algum momento, ocorreu um erro de digitação.

O próprio general aparentemente aceitou a data de nascimento de 1950 em um momento crítico de sua carreira. Nas últimas três promoções de Singh, culminando com sua nomeação em 2010 como chefe do Exército, seu ano de nascimento foi listado como 1950 nos documentos oficiais. Mas Singh argumentou que foi pressionado a aceitar a data falsa, segundo relatos na imprensa indiana. No ano passado, o general deu entrada a uma queixa administrativa, pedindo que a data fosse mudada para 1951; a queixa circulou pelo sistema até o Ministério da Defesa emitir uma rejeição final.

Com o aumento da controvérsia nos últimos meses, os líderes políticos indianos tentaram tranquilizar a população de que a situação não minava a prontidão militar do país. Antony, o ministro da Defesa, endossou publicamente Singh como um líder militar. Outros ministros do governo disseram não acreditar que Singh esteja mentindo sobre sua data de nascimento. Mas eles disseram que o Gabinete da Índia, ao nomeá-lo chefe do Exército, o fizeram com base nos documentos indicando que ele nasceu em 1950, o que significava que a expectativa era de que não serviria no cargo pelos três anos plenos.

“Regras são regras”, disse Salman Khurshid, o ministro da Justiça, para a imprensa indiana.
A Suprema Corte pode optar por não aceitar a petição de Singh, nem decidindo e nem interferindo no assunto. Ou poderia realizar uma audiência plena, na qual o general seria autorizado a apresentar evidência apoiando sua afirmação de ter nascido em 1951.

Para muitos líderes militares reformados, todo o espetáculo é deprimente. Muitos acusam tanto o Exército quanto o Ministério da Defesa por não terem corrigido o problema anos atrás. As críticas contra Singh também têm sido duras, com alguns críticos o acusando de não cumprir o credo militar de que um oficial deve sempre colocar o serviço acima de si mesmo.

“Ele pode estar certo, em termos de processuais”, disse Uday Bhaskar, um comodoro reformado da Marinha indiana. “Mas o que isso fez foi manchar a instituição e o indivíduo, independente de quão não intencional possa ter sido.”

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