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sábado, 28 de janeiro de 2012

Cairo é o novo santuário dos opositores sírios


Bashar al-Assad


Eles chegam um a um, com apreensão, no apartamento combinado para o encontro. Têm as feições tensas e falam como se cada palavra fosse contada. Mahmoud, um alto funcionário público; Louise, atriz de novelas; Emad, um deputado; e Helen, mãe de família. Ainda ontem no coração do regime sírio, eles conseguiram fugir para o Cairo, onde uma comunidade de exilados em pleno crescimento tem um papel cada vez mais importante na coordenação da resistência síria.

Há poucas semanas, Mahmoud Hamad era inspetor do orçamento no Ministério da Defesa. Seu escritório dava vista para os prédios das informações militares. "Para reprimir as manifestações, os militares se escondem em ambulâncias e embarcam em ônibus centenas de 'chabiha' [capangas]", ele afirma. "Nas ruas eles são apoiados por franco-atiradores iranianos e do Hizbollah."

Segundo esse alto funcionário, o regime se baseia em um aparelho policial titânico e uma prática generalizada da corrupção. Ele estima o número de empregados nos serviços de informações em não menos de 400 mil pessoas, às quais se acrescentariam 50 mil "chabiha", que ganham US$ 100 por dia. "Os funcionários são todos corruptos porque seus salários são muito baixos", diz Hamad. "Quando eles tentam se rebelar, lhes mostram um dossiê comprometedor. O orçamento da Defesa é faraônico, ele absorveu 30% das verbas dos outros ministérios, pois fortunas são gastas para pagar os 'chabiha' e comprar o apoio de potências estrangeiras como a Rússia, com subornos."

Louise Abdelkrim, atriz empregada pela televisão estatal, pertence à comunidade alauita que o aparelho de Estado persegue. Ela explica o modo como os funcionários públicos, os estudantes e até os escolares são feitos reféns pelo regime que controla sua presença no escritório, na escola ou na universidade. Ela conta suas noites sem dormir, povoadas de gritos de altos falantes que ecoam "Bashar, Bashar", o nome do presidente sírio.

Ela também descreve corais surrealistas na praça das Omeyyades em Damasco, onde escolares gritam insultos contra o emir do Catar e Barack Obama, e onde funcionários infelizes fingem mover os lábios. "Essas demonstrações de força são enganosas", estima Louise, tragando nervosamente seu cigarro. "Na verdade, os serviços do regime são completamente desorganizados. Podem procurá-lo durante dias sem saber que você já está presa."

No seio do exército, a desconfiança e a vigilância também são comuns. Segundo Mahmoud Hamad, os oficiais, incluindo os mais graduados, são trancados fora das cidades em centros militares. Seus menores movimentos são espionados pelos serviços secretos. Seu único meio de desertar consiste em fraternizar com os opositores quando eles vão a uma manifestação. Segundo o ex-inspetor, mais de 25 mil soldados e oficiais teriam passado assim para as fileiras do Exército Sírio Livre, uma coalizão de milícias envolvidas no levante.

Imad Ghalioun, que chegou em dezembro ao Cairo, desertou de um Parlamento onde representava um pequeno partido ligado ao Baath. "Nos bastidores fora das sessões, todo mundo critica o regime, mas quando entram no plenário os deputados se confundem em elogios, por medo." Ele também está convencido de que a corrupção e a economia farão Bashar al-Assad cair. "O sistema não poderá mais assumir todas essas despesas", ele afirma. "Em breve não poderá mais comprar as pessoas, e com o aumento dos preços isso vai se tornar insustentável. Muitos empresários, mesmo muito próximos do regime, já viraram a casaca e financiam a revolução. A economia está em queda livre. As receitas do petróleo baixaram US$ 2 bilhões e as do turismo, US$ 4 bilhões. Em sinal de protesto, as pessoas não pagam mais as contas de água, gás e eletricidade. O valor dos impostos não pagos atinge US$ 7 bilhões. Todo mundo vai acabar abandonando esse regime. É uma questão de meses."

Mas quantos mortos antes desse desfecho? Segundo Helen al-Dayem, uma antiga moradora de Homs cujo filho foi ferido à bala, os balanços da repressão, notadamente os 5 mil mortos anunciados pela ONU em dezembro, são subavaliados.

"Você pode multiplicar esse número por dez", afirma essa mulher, que agora coordena a chegada de opositores ao Cairo. "Em meados de agosto, 32 valas comuns foram vistas perto de Homs, contendo cada uma entre 60 e cem corpos." Ela acusa: "O tráfico de órgãos corre solto. Há duas semanas dois cadáveres foram encontrados perto de Homs cortados e fechados com grampos. Quando eles o pegam, você está morto".

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