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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Na Irlanda do Norte, católicos e protestantes ainda não dividem os bancos escolares


Última aula antes do fim de semana na pequena escola primária católica para meninas “Star of the Sea”, situada no bairro de Falls Road, ao norte de Belfast. Na classe de Monique Lambertz, alunas de 8 a 9 anos estudam em silêncio seu manual para entender as sutilezas dos sacramentos cristãos, “um fundamento de nossa preciosa religião”, enfatiza a professora. Quando toca o sinal, as 286 meninas correm para a saída da escola, tristemente cercada por rolos de arame farpado.

Nesse bastião católico da cidade de Derry, não há nenhum registro de aluno protestante. Na Irlanda do Norte, a maioria das escolas perpetua uma separação histórica que tantas mortes produziu no passado. Uma “separação desde a mais tenra idade que torna impossível qualquer reconciliação profunda entre as comunidades protestante e católica”, para Adrian Gulke, cientista político da Queen’s University of Belfast.

“Que versão da história?”
“Dadas nossas divisões históricas, penso que será difícil construir um país unido se continuarmos a educar nossas jovens crianças separadamente”, declarou em abril de 2011 o primeiro-ministro, Peter Robinson. No entanto, segundo estudos, 94% das crianças protestantes ainda frequentam escolas de suas comunidades, contra 92% no caso dos jovens católicos.

Para Vonnie Hunter, a loquaz diretora da escola primária “Star of the Sea”, os pais ainda dão preferência às escolas associadas a suas comunidades, “por tradição, mas também porque ainda existe na mentalidade norte-irlandesa a ideia de que sua religião traz os melhores valores para educar as crianças”. Em sua escola, bem como em todas as da Irlanda do Norte, os professores tiveram de obter um “certificado de educação religiosa” para ter o direito de lecionar. “Uma prova de seriedade para muitos pais, uma vez que eles não conhecem as referências dos professores nas escolas mistas”.

Anna Murlock, 43, sempre morou no bairro protestante de Shankill. Para essa mãe de três jovens meninas, seria “inconcebível” educar suas filhas em uma escola que misture as duas comunidades. “Nosso país tem antecedentes particularmente pesados. Como eu saberia que versão da história da Irlanda do norte é ensinada a meus filhos?”

“Amigos católicos”, uma forma “de aprender”

As escolas mistas, no entanto, não devem nada em termos de resultados escolares. Paul, 14, frequenta a brilhante “Royal Belfast Academic Institution”, uma “grammar school” para jovens rapazes de 11 a 17 anos. Uma escolha feita por seus pais, “menos por preocupação de comunidade do que pela reputação da escola”, explica. Mas o rapaz, que antes frequentava uma escola primária protestante, reconhece que “certas coisas mudaram em como vejo as comunidades, aprendi muitas coisas desde que fiz verdadeiros amigos católicos”.

Segundo a socióloga Bernadette Hayes, que estudou a influência das escolas mistas sobre as orientações políticas, “65% dos protestantes que passaram por uma escola mista se dizem a favor de uma união com a Grã-Bretanha, contra 80% entre o resto da população protestante. Entre os católicos, 35% dos alunos ou ex-alunos de escolas mistas são a favor de uma República Unida da Irlanda, contra 51% no geral.” Uma porcentagem que mostra uma certa imobilidade nas mentalidades, mas que dá os primeiros sinais de uma mudança na direção da reconciliação nacional.

Escolas mistas ainda raras
Implantadas desde 1989, as escolas mistas continuam sendo pouco frequentadas no país. William Fague, católico, pai de dois garotos de 6 e 12 anos, sempre pensou em educar seus filhos em uma escola mista. “Do ponto de vista simbólico, era um comprometimento forte para mim, pensar que meus filhos iam jogar bolinha de gude com crianças protestantes”, ele conta.

Mas com a distância e a falta de transporte coletivo para chegar até a escola mista mais próxima, “meu filho mais velho precisava acordar uma hora antes do habitual. Nessa idade é difícil sentir que os estamos privando de sono em nome de seus próprios princípios”. Três meses depois de sua matrícula, Tom Fague teve de mudar de escola.

Segregação social
Deve-se então encorajar o desenvolvimento dessas escolas mistas? Para o diretor da escola protestante “Belfast Model”, Johnny Gragam, a questão é outra: “seriam necessárias escolas neutras do ponto de vista religioso, mas que lugar na Irlanda do Norte é neutro? Enquanto os próprios bairros não forem mistos, os pais não poderão ser forçados a mandar seus filhos para escolas mistas”. Uma separação geográfica que hoje vem acompanhada de uma “discriminação social bem mais preocupante”.

“De alguns anos para cá, estamos tendo um número crescente de crianças que precisam ser acompanhadas por assistentes sociais, ou de pais que se encontram em situações econômicas terríveis e têm dificuldades para cuidar de seus filhos”, conta Vonnie Hunter, diretora da escola “Star of the Sea”. “Nossa prioridade no momento é fazer o máximo para ajudá-los, e isso exige muita verba”.

Na pequena escola católica, Kathy, 10, foi a correspondente de Linda, uma jovem protestante de uma escola de Shankill. Em dois anos, elas se encontraram duas vezes, “conversaram, desenharam e pularam corda juntas”, durante excursões financiadas pelo Ministério da Educação norte-irlandês. Este ano, elas “perderam contato”. Por falta de orçamento, o programa de intercâmbio teve de ser suspenso no ano passado.

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