Usina nuclear de Nogent sur Seine, na França, um dos países mais dependentes da energia atômica |
Os 32 países com materiais que podem ser usados em bombas atômicas geralmente são calados a respeito de segurança, o que parece ao público como um mundo fechado de arame farpado e guardas armados. Mas nos bastidores, pessoas do meio nuclear há muito contam histórias de horror sobre práticas arriscadas e falhas de segurança, que poderiam resultar em ingredientes cruciais para armas nucleares caindo em mãos erradas.
Agora, pela primeira vez publicamente, os especialistas estudaram as precauções implantadas por cada país e classificaram os países do melhor ao pior. O estudo está repleto de surpresas e embaraços potenciais. Por exemplo, a Austrália fica em primeiro lugar em segurança nuclear e o Japão aparece em 23º, atrás de países como o Cazaquistão e a África do Sul.
Os Estados Unidos? Estão empatados em 13º lugar com a Bélgica. Quem fica em último lugar é a Coreia do Norte, um Estado policial que o relatório considera seriamente deficiente em questões de segurança nuclear.
O ranking é um empreendimento conjunto da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear, um grupo privado em Washington, e a Economist Intelligence Unit, uma empresa em Londres que realiza análises de risco. A meta deles é incitar o debate sobre como promover a segurança e encorajar os governos a fortalecerem as salvaguardas contra o terrorismo atômico.
“Esse trabalho nunca será feito se continuarmos operando atrás de portas fechadas”, disse Deepti Choubey, um diretor sênior para segurança nuclear da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear, em uma entrevista na terça-feira.
A equipe ofereceu informar os 32 países sobre as conclusões de segurança, e diz que 28 as aceitaram. Uma ligeira maioria –17 países– foi mais além, discutindo as análises e oferecendo feedback, Nenhum país, disseram os avaliadores, foi informado sobre seu ranking de segurança.
A análise foi apresentada na manhã de quarta-feira, em uma coletiva de imprensa no Clube Nacional de Imprensa, em Washington.
Sam Nunn, o ex-senador democrata pela Geórgia e fundador da iniciativa contra a ameaça, disse que o estudo “não visa parabenizar alguns e repreender outros”. Em vez disso, disse Nunn, suas análises e recomendações visam oferecer “um recurso para melhorias”.
Os desafios políticos e financeiros enfrentados por muitos governos fazem com que a segurança nuclear frequentemente tenha menor prioridade e pouca análise.
“Nós esperamos”, disse Nunn, que o novo estudo “possa servir como uma fundação sólida para ajudar a orientar esse trabalho urgente e contínuo”.
Os fundadores da iniciativa e do estudo incluem a Fundação MacArthur e a Carnegie Corporation de Nova York.
O levantamento global é uma ramificação do esforço do presidente Barack Obama para fazer com que os países assumam uma maior responsabilidade pela proteção dos materiais de bombas que estão vulneráveis a roubo e venda escondida. Em 2010, ele realizou uma cúpula de segurança em Washington que chamou a atenção para o risco. Especialistas alertaram que terroristas poderiam comprar ou roubar material para armas nucleares no labirinto oculto de depósitos e instalações nucleares do mundo, que chegariam a milhares.
Uma segunda cúpula está marcada para março. Ela será realizada em Seul, Coreia do Sul, e o novo relatório é visto como útil para ajudar a estabelecer a agenda para esse encontro de líderes mundiais. Um foco deverá ser a Coreia do Norte.
A nova análise se concentra nas precauções de segurança para os dois principais combustíveis de armas nucleares - o plutônio e o urânio altamente enriquecido. Ele não tentou avaliar as proteções para materiais altamente radioativos, que um terrorista poderia tentar disseminar com explosivos convencionais, no que é chamado de bomba suja.
Em entrevistas, os analistas nucleares disseram que trabalharam com base em informação pública que frequentemente era pouco conhecida – por exemplo, procedimentos gerais para treinamento de guardas e proteção de instalações sensíveis.
“Não houve espionagem”, disse Leo Abruzzese, diretor de previsão global da Economist Intelligence Unit. “As informações foram apenas reunidas.”
Para cada país, o estudo analisou um total de 18 fatores envolvidos na segurança nuclear. Eles incluíam a quantidade conhecida de materiais, proteções físicas, prestação de contas dos métodos e segurança no transporte, assim como fatores sociais maiores como estabilidade política e corrupção.
O relatório de 122 páginas é intitulado “Índice de Segurança de Materiais Nucleares” e conta com um site, www.ntiindex.org.
A Austrália ficou no topo, diz o relatório, por ter reduzido sua posse de materiais utilizáveis por armas para “uma pequena quantidade” e se saiu bem nos indicadores gerais. Ela recebeu 94 dos 100 pontos possíveis.
Entre os nove países que reconhecidamente possuem armas nucleares, o Reino Unido ficou no topo, com 79 pontos. O relatório credita esse resultado às medidas concretas de segurança, assim como seu “compromisso com as obrigações internacionais e seu cumprimento”.
Os Estados Unidos ficaram com 78 pontos – um bom resultado, disseram os avaliadores, considerando sua posse de um vasto complexo nuclear que data dos primórdios da era atômica.
O Japão recebeu uma nota de 68 por causa de seu vasto estoque de plutônio, suas medidas relativamente pobres com pessoal de segurança e sua falta de um órgão regulador independente.
Um país que surpreende na lista é o Irã. Ele alega não ter ambições de produzir combustível para uma bomba, apesar dos líderes mundiais temerem que seu crescente programa nuclear vise obter essa capacidade. A equipe do estudo disse que o Irã foi incluído na análise por possuir urânio altamente enriquecido para um reator de pesquisa em Teerã.
O Irã recebeu uma nota geral de 46, com sua posição prejudicada pelo que o relatório julgou como corrupção, instabilidade política e procedimentos ruins para controle nuclear e prestação de contas. Dentre os 32 países, ele ficou em 30º.
O Paquistão, com uma nota de segurança de 41 e um complexo nuclear que está passando por rápido crescimento, ficou em 31º.
A Coreia do Norte ficou em último lugar com nota 37. O relatório citou um total de 10 indicadores que ficaram abaixo da média global, incluindo a segurança nas instalações e no transporte, assim como estabilidade política.
O relatório disse que quase um quarto dos países com materiais que podem servir para bombas atômicas tiveram avaliação ruim em fatores sociais, devido a “níveis muito elevados de corrupção”. E alertou que vários deles “também tiveram avaliação ruim na perspectiva de instabilidade política nos próximos dois anos”.
Essa combinação ruim, concluiu o estudo, “aumenta significativamente o risco de materiais nucleares serem roubados, com a ajuda de funcionários corruptos em meio à distração do governo ou caos político”.
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