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quinta-feira, 2 de maio de 2013

"Eu vim ajudar meus irmãos muçulmanos", disse canadense que se juntou aos rebeldes sírios


Jihadistas da Alemanha estão combatendo e morrendo na Síria, ao lado dos rebeldes. Eles são jovens e totalmente inexperientes, e as autoridades temem que voltarão para casa radicalizados –caso sobrevivam

Um jovem de vinte e poucos anos com uma barba falha dirige uma van de entregas pelas ruas cheias de destroços da cidade de Azaz, no Norte da Síria. Ele fala excelente alemão e se chama Yousuf. O homem no banco de passageiros tem perto da mesma idade e também usa barba. Ele prefere não revelar nem seu primeiro nome, mas também fala alemão quase perfeito.


"Quando voltarmos para casa, não queremos problemas com as agências de inteligência estrangeira e interna da Alemanha", diz Yousuf. Isso também explica porque os dois homens se recusam a divulgar de qual cidade eles vêm na Alemanha. "Antes de entramos na Síria, os turcos já tinham inserido as informações de nossos passaportes em seu sistema", acrescenta. "Eles sabem exatamente quem somos. Se eles passarem isso para os alemães, estamos perdidos, apesar de estarmos aqui apenas em missão humanitária".  

Missão humanitária? Este é o eufemismo que os jihadistas estrangeiros usam quando tentam explicar sua presença na Síria.

Acredita-se que algumas centenas de muçulmanos de países Ocidentais estejam combatendo ao lado dos rebeldes para derrotar o ditador sírio Bashar Assad. É um número relativamente pequeno se comparado com os aproximadamente 100 mil insurgentes no país.

"Sabemos que jihadistas da Alemanha que já observamos aqui em casa estão atualmente na Síria em combate", disse o ministro do interior alemão, Hans-Peter Freidrich, na semana passada. As agências de inteligência alemãs estão principalmente preocupadas que esses homens sejam treinados durante a guerra civil e depois voltem ao Ocidente como extremistas radicais -assumindo que sobrevivam.      

"Vim ajudar meus irmãos muçulmanos"  
Jamal Mohamed Abd al-Kadir, 24, canadense que também estava em Azaz, frequentemente se referia a sua missão humanitária –antes de ter sido morto em batalha.  Sua família veio de uma aldeia perto da cidade curda síria de Afrin, mas Abd al-Kadir cresceu em Montreal. Ele cursava a faculdade quando a guerra irrompeu na Síria.

"Assad, esse monstro, está destruindo o país e o mundo todo está apenas olhando", exclamou o jovem com o cabelo preto ondulado . "Por isso vim para cá ajudar meus irmãos muçulmanos".

Uma foto de Abd al-Kadir dos tempos de faculdade mostra ele em casa, com o cabelo preso em um rabo de cavalo e usando calça jeans. Nada nele se encaixa na imagem comum no Ocidente de jihadista radical. A lavagem cerebral à qual foi submetido nos batalhões salafistas no Norte da Síria rapidamente produziu o efeito desejado. Poucas semanas depois de chegar à Síria, ele disse: "Nossa mídia no Ocidente mente constantemente. Vocês sempre falam da Al Qaeda, mas na realidade os seus países são os verdadeiros terroristas. Eles matam muçulmanos afegãos e palestinos".    


Mais tarde, Abd al-Kadir transferiu-se para a Frente de Apoio ao Povo da Grande Síria, conhecida como Frente Al-Nusra. "O pessoal da Frente de Apoio rapidamente entendeu que o canadense era um sujeito inteligente", diz um combatente que foi colega de Abd al-Kadir. "E eles sempre têm uso para pessoas assim. Eles o trouxeram para Damasco, onde ele morreu", lembra-se ele, acrescentando que "era filho único e os pais tinham tentado convencê-lo a deixar a 'guerra santa' e voltar para casa".    

A "Terra de Sham"      
Os homens da Frente Al-Nusra Islâmica, que veem seu grupo como parte da Al Qaeda, não estão particularmente preocupados com as perdas em suas fileiras. Em uma pequena loja em Azaz, um dos comandantes do grupo está sentado com um jovem líbio que acaba de chegar.

Primeiro, ele explica ao recém-chegado que, na Frente de Apoio, eles não usam o nome "Síria', mas sim "Terra de Sham". Tanto "Terra de Sham" quanto "Grande Síria" são termos nacionalistas que se referem ao espaço geográfico que cobre quase todo o Levante, que os combatentes esperam transformar em um grande Estado islâmico.

Depois, o mais velho diz ao mais jovem: "Espero que você morra em batalha em breve e vá para o paraíso".

Muitos jihadistas estrangeiros têm idade entre 18 e 28 e são de descendência árabe, ou pelo menos de famílias muçulmanas – e não têm experiência de combate. Essencialmente, são bucha de canhão. Eles vêm dos Estados do Golfo, como a Arábia Saudita, do Norte da África, Bélgica, França, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos da América. A maior parte recebe um treinamento rudimentar nos campos, principalmente no Norte da Síria.

Os líbios têm status especial. Por Skype, um médico a cidade de Zawiya, no Leste da Líbia, fala sobre como perdeu um parente na Síria. "Quando nossos jovens deixam a Líbia, raramente são islâmicos radicais", diz ele, "mas quando voltam, mal os reconhecemos. Eles passam por uma lavagem cerebral".

A Líbia sem dúvida é a fonte mais importante de braços para a resistência síria. Para os líbios, a questão não é a perspectiva de exportar a ideologia ou de conquistar interesses estratégicos. Em vez disso, eles sabem o que significa quando um ditador está disposto a matar seu próprio povo.      

Transporte de Kalashnikovs    
Os recrutas da Líbia quase sempre pegam a mesma estrada para a Síria: voam com a Turkish Airlines para Istambul. Para entrarem na Turquia, os líbios precisam de visto. De Istambul, pegam um voo de conexão para Antakya ou Gaziantep, e depois continuam por terra para cidades de fronteira como Reyhnali e Kilis. Muitas vezes recebem ajuda de redes islâmicas.

"Em Zawiya, há um xeque salafista radical conhecido em toda a cidade que os ajuda", diz o médico da Líbia. "Qualquer um que tenha dinheiro para pagar a viagem leva junto sua Kalashnikov e a entrega para o pessoal do xeque", que então vendem a arma.

Apesar da maior parte dos combatentes na Síria serem extremamente jovens e inexperientes, há alguns veteranos. Um deles é um egípcio de 52 anos com uma barba volumosa. Ele prefere não ser mencionado pelo nome, mas conta como combateu ao lado dos mujahedeen afegãos para expulsar os soviéticos.

Depois de sua volta do Afeganistão, em 1992, ele diz que foi preso por 15 anos sob o presidente egípcio Hosni Mubarak. "Na Síria, os jovens são forçados a fazer tudo o que mandam – não podem escolher seu futuro livremente", diz ele, referindo-se às vidas de seus irmãos sírios sob Assad. "Na Europa, porém, os jovens são perfeitamente livres para escolher seu próprio caminho na vida".

Ele acredita que, na Europa, eles teriam mais chance de seguir o caminho do profeta Maomé do que na Síria sob a ditadura de Assad. Para ele, na Europa há mais espaço para respirar mesmo para os islâmicos –e por isso ele está lutando na jihad -para tornar a Síria um pouco mais como a Europa.


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