A cidade de Famagusta fica situada na costa leste do Chipre e costumava ser a joia do turismo do país, antes da invasão turca de 1974 |
Para todos os cipriotas, Famagusta é um paraíso perdido. Essa estação balneária da costa leste da ilha, repleta de praias de areia branca, costumava ser a joia do turismo do país, antes da invasão turca de 1974. Apreciada por seus pequenos hotéis à beira-mar, a cidade conta com uma história rica de vários séculos, com suas fortalezas venezianas, sua mesquita Lala Mustafa Pasha, ex-catedral de São Nicolau, réplica da catedral de Reims construída durante o reinado da dinastia francesa dos Lusignan, e depois transformada em local de culto muçulmano pelos otomanos no século 16.
Mas, há quase quarenta anos, a cidade está vegetando. Abandonada por seus habitantes, mantida fechada pelo Exército turco e cercada por arame farpado, toda uma parte de Famagusta espera por um descongelamento. Milhares de cipriotas gregos desapropriados e refugiados ao sul da "linha verde" se recusam a fazer luto por sua cidade. O destino de Varosha, distrito abandonado desde 1974, é evocado regularmente nas negociações entre as duas partes da ilha.
Retomar as negociações o mais rápido possível
Chegou a correr um boato de restituição em 2012, para deslanchar discussões que estavam em ponto morto, apesar das tentativas do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Mas parou por aí. "A questão está sobre a mesa desde os anos 1980", constata Osman Ertug, porta-voz da "presidência" cipriota turca e conselheiro-geral encarregado das negociações com o Sul. "É uma carta na nossa mão. Ela faz parte de um acordo global e não pode ser separada da divisão dos recursos energéticos ou do bloqueio de portos e de aeroportos. É o Conselho de Segurança da ONU o principal responsável por esse congelamento", acredita o diplomata.
Ao sul, a crise financeira que atinge essa parte da ilha ofuscou, pelo menos uma vez, a questão da reunificação, praticamente ausente do debate durante a eleição presidencial de fevereiro que levou ao poder Nicos Anastasiades, sabidamente favorável a conversas com o Norte. "Dervis Eroglu ligou para ele para lhe parabenizar e lhe propor um encontro. Nós havíamos lhe feito um convite para jantar para retomar o processo", explica Ertug.
A Turquia também insiste em retomar as negociações o mais rápido possível. "Devemos encorajar as duas partes a encontrarem uma solução", disse o ministro turco das Relações Europeias, Egemen Bagis. "A Turquia, a Grécia e o Reino Unido são como pais tentando salvar um casamento". A oferta de diálogo por enquanto permaneceu sem resposta.
"Derrubar os muros"
Minada pela crise, a Nicósia do Sul hesita em se lançar numa negociação em posição de fraqueza. "Nunca foi o momento certo", retruca Ertug. "Houve sete dirigentes em meio século, entre eles um arcebispo e um comunista com Christofias, mas a paz nunca veio. Uma crise também oferece oportunidades", ele diz.
Segundo o Norte, a questão das reservas de hidrocarbonetos situadas ao largo das costas cipriotas poderia ser objeto de uma negociação lucrativa para as duas partes. A Turquia contesta que Chipre tenha o direito de explorar sozinho esses recursos. Ela exige "uma divisão equitativa entre as duas comunidades" e está realizando seus próprios trabalhos exploratórios.
As duas entidades poderiam se beneficiar mutuamente com uma maior cooperação. "O gás oferece a oportunidade de retomar as negociações de reunificação", acredita o cientista político turco Cengiz Aktar, especialista em questões europeias. "Precisamos derrubar os muros", considera o economista cipriota turco Hasan Güngör, conselheiro da "presidência". "A maior fábrica da Toyota da Europa se encontra na Turquia, mas os cipriotas gregos importam Toyotas do Japão, pois os encontram mais baratos nesse lado da ilha". O custo da separação poderia incentivar as duas partes a entrarem num acordo.
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