Presidente François Hollande, da França (esquerda), se reúne com seu homólogo russo, Vladimir Putin, durante encontro em Moscou |
Polônia, Índia, Emirados Árabes Unidos e agora a Rússia: de viagem em viagem, François Hollande está afinando seu principal conceito em matéria de política externa, a diplomacia econômica. Uma escolha que é também uma necessidade, nesses tempos de desastre industrial e financeiro no continente europeu. Em visita a Moscou, nesta quinta-feira (28), o presidente francês defendeu uma abordagem pragmática e concreta das relações bilaterais. Empregos, acima de tudo: "Nosso crescimento, do qual falamos muito de tão fraco que ele está, virá de todos os elementos que compõem a atividade econômica", explicou Hollande diante de empresários franceses.
Entre esses elementos, está o aumento significativo da presença francesa nos mercados emergentes e sobretudo na Rússia. Moscou é o quarto maior parceiro comercial da França fora da União Europeia. Os investimentos franceses chegaram a quase 10 bilhões de euros em 2012, nos setores de gás, de energia, automobilístico e ainda espacial. É um número em nítido crescimento, mas ainda resta uma grande margem para alcançar a Alemanha. "O desenvolvimento da Rússia é impressionante", observou Hollande durante uma coletiva de imprensa no Kremlin com seu colega Vladimir Putin. "A abertura de seus mercados abre possibilidades".
Longe das pressões francesas, o presidente expôs seu ponto de vista sobre o papel do poder público nessa diplomacia econômica. "A equipe da França não é o Estado que dita as regras do jogo e toma as decisões", disse Hollande aos empresários, surpresos com seu tom liberal. "A equipe da França são as empresas". Colocando-se "a serviço" destas, o Estado "facilita, organiza, fornece todo o material para ganhar a partida", ele declarou. Em off, um membro da delegação, que pertencia a um poderoso grupo industrial, comemorou o contraste com Nicolas Sarkozy, que escolhia suas questões estratégicas e queria tratá-las sozinho. "Esse presidente tem um discurso de revalorização do empreendedor", ele acredita.
Esse discurso também pareceu romper com a retórica de Arnaud Montebourg e da esquerda do Partido Socialista, defensores de uma abordagem intervencionista do Estado. Mas, acima de tudo, ele deixou pouco espaço para perguntas sobre direitos humanos no país anfitrião. Durante a coletiva de imprensa no Kremlin, a única questão levantada sobre as repressões contra a oposição logo foi dispensada pelos dois chefes do Estado. Vladimir Putin afirmou que não houve nenhum problema em especial no ano de 2012, além de um endurecimento clássico do embate político em ano eleitoral, como acontece em qualquer parte do mundo. Já François Hollande não quis se comprometer. "Não cabe a mim julgar, não cabe a mim avaliar", ele declarou.
Antes de falar no evento diante dos expatriados franceses na embaixada, o chefe do Estado recebeu vários representantes da sociedade civil russa, a portas fechadas. Foi preciso insistir junto à comitiva de Hollande para saber o nome deles. Na mesma manhã, na histórica rádio Ekho Moskvy, não afiliada ao regime, o presidente havia explicado pela primeira vez o posicionamento da França sobre uma questão polêmica: as punições individuais contra autoridades russas envolvidas em graves violações dos direitos humanos.
Em dezembro, os Estados Unidos adotaram uma "lista Magnitski", batizada com o nome de um advogado que morreu na prisão em 2009 depois de sofrer maus tratos, abrindo um debate sobre o assunto na Europa. Hollande explicou que a França não votava leis contra países específicos.
A prioridade era outra: os acordos bilaterais assinados com o apoio dos dois chefes de Estado, ou senão os caminhos técnicos que permitiriam intensificar suas relações econômicas. "A concessão de vistos será consideravelmente simplificada", prometeu François Hollande, no solene recinto do Kremlin. Essa pergunta das "formalidades administrativas obsoletas", obstáculos para a presença russa na França, segundo a expressão do presidente da República, foi feita muitas vezes aos ministros franceses presentes por seus colegas. "Você cuidou dos vistos?", lançou Arnaud Montebourg a Manuel Valls, no Museu Pushkin, pela manhã, no momento em que visitava uma das salas dedicadas aos impressionistas. "É só disso que falam!", Valls ouviu atentamente o presidente; ele facilitará a vinda e a estadia na França de estudantes e empresários russos.
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