A plateia já havia se sentado para um evento agendado do programa "Semanas Interculturais" em Frankfurt, quando de repente três homens com máscaras brancas e uma caixa de som invadiram o saguão da biblioteca municipal. Eles dançaram música techno entre as fileiras, segurando faixas que diziam: "exploda-se o multiculturalismo".
A aparição em 30 de outubro durou menos de um minuto antes que um guarda de segurança escoltasse os baderneiros para fora da sala.
Um vídeo do evento causou sensação desde então. O clipe dos ativistas de extrema-direita, que se identificam como Identitäre Bewegung Deutschland, ou "Movimento de Identidade Alemão", foi visto online mais de 21 mil vezes. Mais de 30 grupos locais filiados ao movimento antes desconhecido desde então criaram páginas no Facebook, de Stuttgart, no sul, até Essen, no oeste, e a Frísia Oriental, no norte.
Uma nova geração de extremistas de direita está tentando reformular sua imagem, emulando os métodos da cultura de protesto da esquerda. Além do "Movimento de Identidade", as autoridades estão se concentrando em outro grupo chamado Die Unsterblichen, ou "Os Imortais". Sua abordagem é sempre a mesma: os ativistas colocam máscaras brancas semelhantes às usadas pelas pessoas que se identificam com o coletivo "Anonymous" na internet, carregam cartazes e fazem uma procissão à luz de tochas durante a cidade à noite. Em seguida, um filme curto com uma trilha sonora dramática e slogans de direita é colocado online.
O método transforma uma campanha local que dificilmente atrairia qualquer atenção num clipe teatral capaz de chamar a atenção em todo o país. Casacos com capuz aparentemente inofensivos e música techno substituem as botas de combate e a estética da cabeça raspada das gerações anteriores de neonazistas. Mas as palavras de ordem costumam ser as mesmas.
Edição inteligente
"O perigoso disso é a tomada de poder simbólica nas ruas", diz Johannes Radke, que foi coautor de um livro chamado "Novos Nazistas" com Toralf Staud. "Os nazistas usam-na para enviar uma mensagem clara: há muitos de nós, somos militantes e podemos aparecer em qualquer lugar e a qualquer momento."
O pioneiro dessa nova forma de ação política foi o grupo extremista de direita Wiederstandsbewegung in Südbrandenburg, ou "Movimento de Resistência no sul de Brandenburgo", que também usa o nome "Os Imortais" e foi banido pelo Ministério do Interior do estado de Brandenburg em julho passado. Na época, mais de 260 policiais realizaram uma busca em 27 apartamentos, incluindo o de Marcel F. da cidade de Lübbenau, perto de Berlim. O suspeito, um "neonazista ativo por anos", conforme a agência de inteligência doméstica de Brandenburg em 2011, foi o "ator central e gerador de idéias" do grupo.
Apesar da proibição de Brandemburgo e de investigações em outros estados alemães, as procissões com tochas têm sido recorrentes desde então. De fato, houve várias dezenas delas por toda a Alemanha, segundo autoridades, incluindo eventos em Halberstadt, no estado da Saxônia-Anhalt, no leste, em Donaueschingen, no estado de Baden-Württemberg, no sudoeste, na cidade portuária de Rostock, no nordeste, e no bairro de Harburg em Hamburgo.
Um trabalho de câmera hábil, a escolha de ruas estreitas e uma edição inteligente costumam criar a impressão de que há um exército inteiro de militantes carregando tochas, embora o número real costume ficar entre 50 e 100, e às vezes chega a apenas dez. Mas uma vez na internet, os vídeos podem gerar dezenas de milhares de cliques e comentários entusiasmados.
No passado, grupos apolíticos usaram a abordagem de flash mob para organizar aparições surpresa em público. Mas agora os extremistas de direita adotaram o método para seus propósitos, normalmente fazendo os arranjos secretamente através de listas de distribuição interna e mensagens de texto. Se um apoiador revela os planos no Facebook, por exemplo, o evento é cancelado. Desta forma, os extremistas de direita evitam protestos de esquerdistas e proibições das autoridades. A natureza conspiratória desses eventos também exerce um certo fascínio, acrescentando à experiência dos participantes.
Apelando para um público jovem
As pessoas por trás das máscaras costumam ser membros potencialmente violentos da comunidade de extremistas de direita. Acredita-se também que figuras neonazistas proeminentes estejam envolvidas no "Movimento de Identidade", que é essencialmente uma aliança virtual. O logotipo – uma versão estilizada da letra grega lambda em preto sobre um fundo amarelo – e o slogan "Nós somos os bons" têm um alto valor de reconhecimento na comunidade extremista de direita, bem como as máscaras brancas usadas por "Os Imortais".
Os membros do Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), neonazista, e de sua organização juvenil, a Juventude Nacional Democrata (JN), agora estão discutindo com entusiasmo maneiras de usar imagem e o ativismo de forma mais eficiente. Os membros da velha guarda da extrema-direita têm uma opinião favorável em relação a "Os Imortais" e ao "Movimento de Identidade" porque eles são capazes de apelar a um público especialmente jovem, incluindo pessoas que antes tinham pouca relação com as ideias da direita radical. Como chefe da agência de inteligência do estado de Brandemburgo, Winfriede Schreiber admite: "essa forma de ação já tomou vida própria".
O site principal de "Os Imortais" está hospedado em servidores estrangeiros. Ele foi revisado em janeiro e agora oferece a opção de baixar folhetos, juntamente com recomendações concretas sobre ações específicas a serem tomadas. Anna Gross, da iniciativa no-nazi.net vê com preocupação a presença do grupo na internet. "A comunidade está se tornando mais orientada para a ação e, portanto, mais militante", mesmo que às vezes seja difícil fazer suas aparições parecerem inofensivas para esconder suas verdadeiras intenções, diz ela.
Veja, por exemplo, a pessoa com uma roupa de urso que foi vista passeando pela cidade de Hannover, ao norte, aproximando-se de imigrantes inocentes, apertando suas mãos e dizendo adeus com um aceno amigável. Ele parecia inofensivo o bastante, até que um vídeo da cena foi publicado na Internet, com uma música alegre de fundo, que incluía um roteiro tortuoso descrevendo as intenções xenófobas do "urso da deportação".
Ao mesmo tempo, duas fantasias de urso foram agora confiscadas, e a polícia lançou uma investigação sobre os suspeitos. Sua organização, o grupo neonazista "Uma Hannover Melhor", foi banida.
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