quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Líder antiapartheid lança novo partido na África do Sul
Mamphela Ramphele, uma respeitada veterana da luta contra o apartheid, anunciou na segunda-feira que formou um novo partido político para competir contra o Congresso Nacional Africano (CNA) da situação, convocando os sul-africanos para juntarem-se a ela "na jornada para construir o país de nossos sonhos".
O partido se chama Agang, uma palavra em sotho que significa "construir". Nos últimos anos, Ramphele, 65 anos, uma médica que se tornou ativista antiapartheid e líder do Movimento da Consciência Negra, se concentrou no ativismo social e nos negócios. Até a semana passada, ela serviu como presidente do conselho da Gold Fields, uma grande empresa de mineração.
O novo partido é o mais recente de uma série de partidos de oposição ao domínio do CNA, que venceu facilmente todas as eleições nacionais desde o fim do apartheid em 1994, mas está sob crescente escrutínio devido a acusações de corrupção e má governança. Além disso, a desigualdade cresceu na África do Sul desde o final do apartheid, apesar da promessa do partido de promover "uma vida melhor para todos". O sistema de educação do país está em frangalhos.
Ramphele argumentou vigorosamente junto a uma plateia no velho presídio feminino em Johannesburgo que o governo fracassou em cumprir suas promessas, e prometeu enfrentar a corrupção de frente.
"O país de nossos sonhos infelizmente desapareceu", ela disse em seu discurso. "O sonho desapareceu para muitos que vivem na pobreza e destituição em nossa sociedade cada vez mais desigual. E talvez pior do que tudo, minha geração precisa confessar aos jovens de nosso país: nós fracassamos com vocês. Nós fracassamos em construir para vocês um sistema de educação e treinamento para preparar vocês para a vida no século 21."
Esse refrão repete as críticas de outros partidos de oposição, incluindo a Aliança Democrática, o principal deles, que teria cortejado Ramphele, buscando colocar uma líder negra proeminente e muito respeitada no topo daquele que é percebido como sendo um partido em grande parte branco, apesar de seus avanços em distritos urbanos negros.
Em uma entrevista, Ramphele disse que optou por iniciar seu próprio movimento porque a África do Sul precisa de um recomeço.
"O país precisa de um novo início", ela disse, vestindo um traje tradicional bordado de seu Estado natal, Limpopo. "Isso não vai acontecer com as pessoas que estão atualmente no governo."
Ramphele é uma presença na vida pública sul-africana há décadas. Ela manteve um relacionamento estreito com o ativista do Consciência Negra, Steve Biko, que morreu sob custódia da polícia em 1977, e com o qual teve uma filha e um filho. O governo do apartheid a baniu por sete anos para a aldeia de Lenyenye, um canto desolado no norte do país, devido ao seu ativismo político. Sem se deixar abalar, ela abriu uma pequena clínica que passou a tratar milhares de moradores rurais. Ela também tem diploma em antropologia e administração.
Quando o apartheid acabou, ela foi nomeada vice-reitora da Universidade da Cidade do Cabo, a primeira pessoa negra a ocupar o cargo. Ela posteriormente se tornou diretora-gerente do Banco Mundial, e nos últimos anos ela tem sido convidada para membro do conselho diretor de várias empresas.
Apesar de sua carreira ter lhe dado credenciais internacionais legítimas, ainda não se sabe se ela conseguirá atrair um eleitorado suficiente em um país onde o apelo populista provou ser essencial para o sucesso político. Ao ser perguntada sobre o tamanho de sua equipe, ela respondeu que "nós somos uma equipe enérgica de cinco". A convivência com titãs corporativos e líderes globais deixa Ramphele aberta a acusações de elitismo, dizem alguns.
Bantu Holomisa, o líder do Movimento Democrático Unido, que ele lançou após deixar o CNA em 1997, disse em uma declaração que aprecia a presença de Ramphele na política e indicou a disposição de unir forças com ela.
"Eu espero poder trabalhar com a doutora Ramphele em nossos esforços para construir uma alternativa política forte para a população da África do Sul", ele disse.
Mas esforços para diminuir o domínio do CNA fracassaram no passado. O Congresso do Povo, um partido iniciado em 2008 pelos simpatizantes do ex-presidente Thabo Mbeki e outros membros descontentes do CNA, perdeu força.
O CNA foi sacudido por escândalos e tragédias ao longo do último ano. O presidente Jacob Zuma enfrenta várias investigações a respeito dos US$ 27 milhões em dinheiro do governo gastos em reformas em sua residência particular em sua aldeia natal, Nkandla. A morte pela polícia de 33 trabalhadores em greve em uma mina de platina, em agosto passado, fez muitos questionarem o compromisso do CNA em ajudar os pobres. A crise levou as agências de avaliação de crédito a rebaixarem a dívida do país, o que prejudicou o crescimento econômico que já está desacelerando.
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