O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante discurso ao Congresso |
Em seu quinto discurso sobre o Estado da União, o primeiro desde sua reeleição, Barack Obama detalhou um programa de governo bastante carregado, na terça-feira (12), diante das duas Câmaras do Congresso, reunidas em sessão solene. O presidente americano está com pressa: ele tem menos de dois anos, antes das próximas eleições parlamentares, para tentar obter a aprovação de algumas das reformas às quais ele quer atrelar seu nome: imigração, controle de armas de fogo, redução do déficit, poluição. E até uma reestruturação da organização das eleições nos Estados Unidos, de forma que mais nenhum cidadão tenha de fazer fila durante horas para depositar seu voto na urna.
O presidente leu seu discurso, de exata uma hora, com bastante descontração. Desde que ele tomou posse, a imprensa tem exaltado sua atitude desinibida em relação aos republicanos, seu otimismo, uma autoconfiança que "beira a arrogância", segundo o "New York Times". Sua popularidade está em 52%, três pontos a mais do que no momento da eleição. Nada parece resistir a ele: os republicanos cederam quanto à redução de impostos para as grandes fortunas e quanto ao teto da dívida, ainda que só temporariamente.
Reduzir a poluição
Os conselheiros da Casa Branca haviam avisado que não se devia esperar por inovações. De fato, Barack Obama não mudou de filosofia. Ele até voltou à sua lógica de 2009, antes da irrupção do Tea Party, agora sem ter medo de ser acusado de "socialismo". Na terça-feira, ele propôs o aumento do salário mínimo federal para US$ 9 (contra US$ 7,25), uma ideia que ele não mencionava desde a campanha eleitoral de 2008. Ele relançou o princípio de negociar as emissões de carbono, uma proposta antiga de John McCain, como lembrou.
A grande diferença é que ele não tentará mais transigir com os republicanos. "Se o Congresso não agir em breve para proteger as futuras gerações, eu o farei", ele afirmou, prometendo recorrer à arma do decreto presidencial para "reduzir a poluição e preparar para as consequências da mudança climática". "Pelo bem de nossos filhos (...) devemos fazer mais (...), é preciso agir antes que seja tarde demais".
Aos republicanos que só querem ouvir falar de redução de gastos, Barack Obama mais uma vez explicou que não pretende limitar o déficit em detrimento de baixos salários. Os lucros das empresas "atingiram recordes sem precedentes", ele ressaltou, ao passo que em mais de dez anos os salários praticamente não mudaram. "É a missão de nossa geração: relançar o motor do crescimento econômico americano, uma classe média próspera e em expansão", ele disse. E a redução do déficit "não é uma política econômica em si".
O presidente falou de sua "tarefa inacabada", lembrando Ronald Reagan e seu "nós ainda não terminamos" no início de seu segundo mandato. Para a criação de empregos, ele remeteu ao Congresso seu plano de estímulo de 2009, e sugeriu um programa "conserta-tudo" que permita reparar pontos instáveis de infraestrutura, como as "70 mil pontes deficientes do ponto de vista estrutural" do país. Suas propostas seriam financiadas pela reforma fiscal, com o fim das vantagens acumuladas há anos pela indústria petroleira, por exemplo. Obama quer que todas as crianças tenham acesso ao jardim de infância, que não existe no setor público.
A política externa raramente ocupa um lugar preponderante no discurso sobre o Estado da União. O de terça-feira não foi exceção. Barack Obama citou o Irã uma vez – para pedir que se reconheça que "chegou o momento de aceitar uma solução diplomática". Ele prometeu uma retirada de metade das tropas do Afeganistão (34 mil soldados) dentro de um ano, e afirmou que tentará negociar um novo tratado de redução dos armamentos estratégicos com a Rússia. Sem perder tempo, os conselheiros acrescentaram uma linha sobre a "provocação" dos norte-coreanos, após o teste nuclear.
Um fato notável foi a União Europeia ter entrado no discurso do Estado da União. Barack Obama anunciou que daria início a negociações sobre um tratado de livre-comércio transatlântico e de parceria com a União Europeia. "Desde o início de 2009 a agenda de Barack Obama não se mostrava tão audaciosa", escreveu Ezra Klein em seu blog do "Washington Post".
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