quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Coalizão Nacional Síria nada tem a oferecer e grande ajuda humanitária é necessária para aliviar sofrimento sírio
O povo sírio está preso em uma terrível queda em parafuso. O massacre pelo governo parece apenas se intensificar à medida que o presidente Bashar Assad busca a estratégia impiedosa de drenar o mar para pegar o peixe –atacando os civis para que fujam e deixem a oposição armada isolada.
Enquanto isso, a vasta coleção de milícias que constitui a oposição armada inclui alguns que estão torturando e executando prisioneiros, assim como promovendo o conflito sectário. Apesar de não igual ao massacre promovido pelo governo, os abusos deles encorajam as minorias sírias a apoiarem o homicida Assad, em vez de correrem o risco de um futuro incerto sob governo dos rebeldes.
A Coalizão Nacional Síria foi criada para fornecer uma estrutura de comando unificada capaz de substituir Assad, conter os abusos das forças rebeldes, promover os direitos das minorias e buscar uma transição que deixe o Estado suficientemente intacto para evitar um colapso caótico. Mas a CNS tem pouca força, porque não tem nada a oferecer às pessoas para aliviar seu sofrimento.
No mínimo, um grande afluxo de ajuda humanitária é necessário.
Até o momento, a maioria das doações foi enviada por meio de operações baseadas em Damasco, o que significa que pouco chega às muitas áreas da Síria mantidas pela oposição, onde o sofrimento é mais agudo, mesmo quando os necessitados estão bem ao lado da fronteira, próximos das grandes operações de ajuda humanitária da Turquia.
Algumas organizações humanitárias temem que o governo as atacará ou fechará suas operações em Damasco caso também operem do outro lado das fronteiras da Síria. Outras estão simplesmente seguindo as regras habituais da ONU e submetendo-se ao governo sírio.
Pelo menos alguns doadores deveriam romper com esta lógica e aumentar enormemente a crescente, mas totalmente inadequada, ajuda humanitária que atualmente parte da Turquia para a Síria por meio de organizações não governamentais. A ajuda deveria ser fornecida em coordenação com elementos das estruturas civis rudimentares de governança, que respeitam direitos, criadas nas áreas ocupadas pela oposição na Síria.
Isso ajudaria a aliviar o sofrimento real. Também ampliaria a influência das vozes tanto da comunidade internacional quanto das estruturas de governo civis sírias, que estão encorajando os combatentes da oposição a respeitarem os direitos e a abraçar uma visão de um país que inclua todos os sírios.
Idealmente, para maximizar a eficácia, a ajuda internacional deveria ser enviada com consentimento de Damasco ou aprovação do Conselho de Segurança da ONU, mas dada a intransigência de Assad e de seus apoiadores russos, a comunidade internacional não deve esperar pela permissão.
As forças do governo ainda poderiam tentar bombardear a ajuda, assim como atacaram padarias e filas de pão no norte da Síria. Mas essa sabotagem descarada dos esforços de ajuda poderiam provocar o tipo de medidas de retaliação que a comunidade internacional até o momento não se mostrou disposta a adotar.
Mesmo que ocorra uma ajuda internacional de grande escala, é importante não reproduzir o fenômeno dos "mortos bem alimentados" da Bósnia, onde a comunidade internacional se concentrou na ajuda humanitária aos civis, em vez de colocar um fim ao seu massacre.
A comunidade internacional, que tem a "responsabilidade de proteger" o povo sírio, teme que dar armas à oposição ou apoio militar possa contribuir para um futuro ainda mais repressivo ou uma guerra civil sectária.
Mas os elementos jihadistas da oposição têm suas próprias redes para obtenção de armas, reforçando a inclinação da comunidade internacional para a inação e, ao mesmo tempo, permitindo a Assad o uso de seu poder para mobilizar seus apoiadores.
O Ocidente impôs sanções à liderança síria, mas medidas mais duras –como sanções mundiais, uma proibição global ao envio de armas para as forças pró-Assad ou a invocação do Tribunal Penal Internacional– foram impedidas no Conselho de Segurança da ONU pelo veto da Rússia, apoiado pela China.
A comunidade internacional está errada em tratar a obstrução russa como motivo para desistir. Mais pode e deve ser feito, começando por um grande aumento da ajuda humanitária internacional. E se essa ajuda tiver sucesso em fortalecer os elementos que respeitam os direitos dentre a oposição armada, isso poderia ter efeitos secundários importantes.
Uma estrutura de governo civil mais forte, respeitada, teria mais autoridade para negociar uma transição ordenada em vez do caos e guerra civil interminável que muitos temem. Também poderia reduzir os temores de que um governo sucessor possa ser pior do que o atual regime.
A carnificina na Síria deveria redobrar nossa determinação para colocar um fim nela. Uma operação humanitária internacional imensa é viável, e poderia contribuir para o círculo virtuoso que a Síria necessita desesperadamente para coibir o massacre de civis.
*Kenneth Roth é diretor-executivo da Human Rights Watch.
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