Silvio Berlusconi. |
Os políticos mais importantes e influentes tendem a permanecer em silêncio quando o assunto são as eleições realizadas no exterior. Mas, esta semana, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, emitiu um alerta mal disfarçado aos italianos contra a eleição de Silvio Berlusconi. E Westerwelle não é o único em Berlim que está nervoso com o possível retorno de "Il Cavaliere" ao poder.
Foi o ministro da Fazenda alemão, Wolfgang Schäuble, que supostamente emitiu o primeiro grito de alerta. Em entrevista concedida à revista italiana L'Espresso, na semana passada, Schäuble disse que os italianos não deveriam votar em Silvio Berlusconi nas eleições gerais do país, previstas para ocorrer nos próximos dias 24 e 25 de fevereiro. "Silvio Berlusconi pode ser um estrategista de campanha eficiente", teria dito Schäuble à revista. "Mas meu conselho aos italianos é: não cometam novamente o erro de reelegê-lo".
Um porta-voz do Ministério da Fazenda foi rápido em negar que Schäuble tenha dado essa declaração. Mas, esta semana, considerando-se o avanço aparentemente inexorável de Berlusconi em direção ao topo das pesquisas de opinião italianas, mais dois importantes políticos alemães advertiram contra a reeleição de um homem que muitos veem como parcialmente responsável pelos problemas econômicos que a Itália enfrenta.
"É claro que nós não somos um dos partidos que estão disputando a campanha eleitoral italiana", disse nesta terça-feira o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, ao Süddeutsche Zeitung, publicação alemã de centro-esquerda. "Mas somos categóricos em afirmar que, quem quer que venha a formar o próximo governo (italiano), terá que dar prosseguimento ao rumo pró-europeu trilhado (por Roma) e às reformas necessárias".
Considerando-se as irresponsáveis promessas de campanha relacionadas às questões fiscais feitas por Berlusconi, além de sua retórica anti-europeia, não é difícil adivinhar a quem se destinavam as farpas verbais emitidas por Westerwelle. Mas só para não deixar dúvidas sobre a clareza da mensagem, o presidente da Comissão de Assuntos Externos do parlamento alemão, Ruprecht Polenz, também se manifestou. Polenz, membro sênior da União Democrata Cristã, partido da chanceler Angela Merkel, disse: "A Itália precisa de líderes políticos que representem o futuro. E Berlusconi certamente não é um deles".
Ascensão surpreendente
A aparente ansiedade percebida nos comentários é resultado da ascensão surpreendente de Berlusconi nas pesquisas eleitorais. Ele passou da posição de segunda opção política surgida no outono passado para uma verdadeira ameaça prestes a obter seu quarto mandato como primeiro-ministro italiano. As últimas pesquisas pré-eleitorais, que são publicadas duas semanas antes de os italianos irem às urnas, mostraram a coalizão de Berlusconi apenas cinco pontos percentuais atrás do bloco de centro-esquerda liderado por Pier Luigi Bersani.
Muitos temem que a vitória de Berlusconi possa resultar em um aumento imediato nos custos dos empréstimos italianos e em um retorno à situação crítica em que a Itália se encontrava no final de 2011, quando Berlusconi foi essencialmente forçado a renunciar em favor do governo tecnocrata liderado pelo primeiro-ministro Mario Monti, que está deixando o cargo. De fato, os mercados têm demonstrado um nervosismo inconfundível à medida que a eleição se aproxima.
Esta semana, um banco italiano até chegou a emitir um relatório afirmando que a eleição de Berlusconi quase que certamente obrigaria o país a solicitar um resgate financeiro emergencial à União Europeia (UE). O Mediobanca, o maior banco de investimento da Itália, escreveu que "uma vitória de Berlusconi no último minuto iria assustar suficientemente o mercado para pressionar o spread (taxa de risco paga a detentores de títulos e bônus)". Ironicamente, considerando-se a atual carga da dívida soberana da Itália, o banco vê essa eventualidade como "o melhor dos casos", pois "ofereceria à Itália a desculpa perfeita para o que continuamos a considerar como a única saída viável".
"Burocrata da Alemanha Oriental"
Esse, não surpreendentemente, é um experimento que Berlim preferiria evitar. Fontes não identificadas do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha disseram ao Süddeutsche que Westerwelle está acompanhando a campanha eleitoral italiana de perto e que ele vê o país como uma "chave para superar a crise da dívida europeia".
Para Polenz, por sua vez, Berlusconi não é detentor da confiabilidade necessária. "Isso tem a ver com confiança e credibilidade", disse ele. "Os processos judiciais que correm atualmente contra Berlusconi têm um efeito negativo sobre sua credibilidade política".
E a chanceler Merkel? Até agora, ela se manteve em silêncio sobre a campanha italiana. Mas sua antipatia por Berlusconi não é algo que ela faça questão de esconder. Em uma entrevista coletiva muito citada com o então presidente francês, Nicolas Sarkozy, realizada durante o outono de 2011, ela apenas riu quando perguntada sobre a disposição de Berlusconi para avançar com as reformas na Itália.
A recente campanha do político italiano com certeza não a fez mudar de ideia. "Il Cavaliere", como Berlusconi é conhecido, fez dos ataques a Merkel um dos pontos centrais de sua campanha e tentou pintar Monti como um peão a mando de Berlim. Apenas esta semana, Berlusconi chamou Merkel "burocrata oriental", em referência à infância da chanceler, que cresceu na Alemanha Oriental comunista. Isso, é claro, pode ser considerado um elogio em comparação a algumas das coisas que ele disse sobre a líder alemã no passado.
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