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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Com prisão de aliado de Ahmadinejad, tensões na cúpula do Estado iraniano se acentuam

Mahmoud Ahmadinejad

Quando souberam que Said Mortazavi iria passar a noite com eles, os prisioneiros políticos da tristemente célebre prisão de Evin, no Irã, devem ter pensado que a Justiça às vezes toma caminhos sinuosos antes de oferecer inesperados consolos. Só o nome de Said Mortazavi era o suficiente para dar arrepios em muitos opositores iranianos na época em que ele era procurador de Teerã.

Foi ele o homem que em 2003 encobriu o assassinato, sob tortura, da fotógrafa iraniana-canadense Zahra Kazemi, interpelada enquanto tirava fotos escondida da prisão de Evin. Esse aliado do presidente Mahmoud Ahmadinejad também supervisionou o centro de detenção de Kahrizak, onde morreram vários manifestantes presos durante os protestos que seguiram a polêmica reeleição do presidente em junho de 2009 e onde dezenas deles foram violentados.

O centro havia sido fechado por ordens do líder supremo Ali Khamenei no final de 2009, e Said Mortazavi era alvo de uma investigação judicial, até hoje em suspenso. Ele foi preso na noite da última segunda-feira (4), ao sair de seu escritório do Fundo do sistema de saúde, do qual é diretor.

E teria Said Mortazavi sido preso pelas mortes e atrocidades cometidas em 2009? Pode ser que esse seja o motivo oficial dessa surpreendente interpelação. Mas é impossível não associá-la com a tumultuada sessão de domingo (3) no Parlamento. Nunca, mesmo no auge do conflito entre reformistas e conservadores, a guerra das facções na cúpula do Estado iraniano assumira um viés tão violento, nunca ela fora tão escancarada.

Nesse domingo, o presidente Ahmadinejad, cujo segundo e último mandato termina em junho, foi defender pessoalmente seu ministro do Trabalho, Abdolreza Sheykholeslami, superior direto de Said Mortazavi. Ele é acusado de corrupção e de desvios de fundos pelos parlamentares cuja maioria, a começar pelo presidente do Parlamento, Ali Larijani, optou pelo partido do líder supremo na querela entre ele e o presidente Ahmadinejad. Na verdade o Fundo do sistema de saúde é uma verdadeira caixa-forte cuja chave é disputada pelas facções ultraconservadoras, com a aproximação da eleição presidencial prevista para junho.

Ahmadinejad, para surpresa geral, divulgou uma gravação em vídeo quase inaudível, antes de ler o resumo de uma conversa gravada secretamente entre Said Mortazavi e Fazel Larijani, um dos cinco irmãos do presidente do Parlamento. Segundo o presidente, este último teria pedido a Mortazavi que concluísse uma lucrativa transação imobiliária em troca do apoio político de seus irmãos, sobretudo a respeito de seu processo judicial. Outro dos irmãos Larijani, Sadegh, de fato dirige o poder judiciário, onde foi colocado pelo líder supremo.

"Ato abominável"
No final do discurso de Ahmadinejad, transmitido ao vivo pela rádio nacional, Ali Larijani, sem perder a calma, disse que as declarações do presidente eram "difamatórias" e que sua iniciativa era "mafiosa". Ele também acusou o chefe do Estado de infringir a lei. "O fato de Mortazavi convidar um de meus aliados e gravar as declarações dele a seu respeito não seria prova de um complô contra o chefe do Parlamento?", disse Ali Larijani. E concluiu: "o problema do país vem do fato de que o presidente recorre a esse gênero de métodos imorais".

Em seguida Ahmadinejad voltou a pedir a palavra, o que lhe foi negado sumariamente pelo presidente do Parlamento. Então o presidente deixou o Parlamento, que na sequência demitiu seu ministro do Trabalho. E os deputados correram para consolar o chefe do Parlamento com abraços.

Na terça-feira de manhã, enquanto se preparava para viajar até o Cairo, o presidente Ahmadinejad criticou vigorosamente a prisão de seu protegido, Mortazavi. "Uma pessoa [Fazel Larijani] cometeu um delito, mas uma outra [Said Mortazavi] foi presa, é um ato abominável", ele declarou, atacando na mesma ocasião o aiatolá Sadegh Larijani, bem como sua família: "o poder judiciário pertence ao povo e não é uma sociedade familiar especial."

Com a aproximação das eleições presidenciais, as tensões na cúpula vêm se exacerbando. E o presidente Ahmadinejad e o líder supremo, outrora unidos pela repressão de 2009, agora culpam-se mutuamente. Não é a menor das ironias, nessa república sem democracia que é o regime iraniano.

3 comentários:

  1. E domingo teve um impeachment de um ministro. Por causa da briga entre Larijani e Ahmadined aparece várias notícias criticando a administração de um ou outro, só me pergunto o quanto disso deve afetar as eleições deste ano.

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    1. Só espero que Manouchehr Mottaki ganhe.

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    2. Mottaki tem currículo, acredito que sabe até que saiba falar português, mas as eleições iranianas estão complicadas por causas das ilegibilidades e proibições que podem mesmo não o impedindo, deixar de fora importantes apoiadores e puxadores de voto.

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