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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Em meio a conflito com a China, Japão vive fase de enfraquecimento diplomático

Chineses queimam uma bandeira chinesa durante protestos contra o Japão 

O conflito entre o Japão e a China a respeito da soberania das ilhas desertas de Senkaku (Diaoyu em chinês) é sintomático do enfraquecimento diplomático de Tóquio. O Japão aparece isolado em sua reivindicação e abandonado por seus aliados em seu encontro com Pequim.

Os Estados Unidos anunciaram que as ilhas eram cobertas pelo tratado de segurança nipo-americano, mas se recusam a tomar partido na disputa. Washington decidiu, em acordo com Tóquio, desistir da simulação de um desembarque a uma ilha ocupada por uma força inimiga que deveria acontecer no início de novembro no arquipélago de Okinawa para não provocar uma reação chinesa. Na Europa, o Japão só recebeu um encorajamento educado para resolver “pacificamente” a questão durante a recente visita de seu ministro das Relações Exteriores, Koichiro Genba, à Alemanha, à França e ao Reino Unido.

Enquanto nos anos 1970-1980 o Japão era “líder” das economias avançadas, hoje ele perdeu esse brilho: a China lhe tomou o lugar de segunda maior economia do mundo. As chamadas duas décadas “perdidas” (1990-2000) que o Japão acaba de viver mereceriam ser reavaliadas: em matéria de pesquisa, de estabilidade social – apesar de um aumento das desigualdades e da consideração do envelhecimento - , o caso japonês poderia inspirar algumas reflexões. É difícil dizer o mesmo sobre sua diplomacia.

Assim como a política interna, ela anda sem uma orientação precisa. Em razão de um considerável endividamento público, o Japão tem influído menos naquilo que foi um eixo de sua diplomacia pacífica: a ajuda internacional. A estagnação econômica é somente um fator da perda de influência do Japão no cenário mundial. A falta de direcionamento político é outro, e a deterioração de suas relações com a China é um exemplo disso. As históricas diferenças entre os dois países não são novidade, mas, apesar de altercações, em geral eram controladas.

A trégua dos assuntos polêmicos, em prol dos interesses comuns dos dois países chamados por sua proximidade geográfica e por seu poder econômico a cooperar, foi rompida pelas visitas intempestivas do primeiro-ministro Junichiro Koizumi (2001-2006) ao santuário Yasukuni. Um santuário onde são homenageados os mortos pela pátria desde o final do século 19, entre eles sete criminosos de guerra condenados pelo tribunal internacional de Tóquio e executados. Eles se tornaram “heróis” de fato, escreve o historiador Tetsuya Takahashi em seu livro “Mortos pelo Imperador: a questão do Yasukuni”.

Para Pequim, que sempre lembra os “horrores” perpetrados pelos japoneses entre 1931 e 1945, essas visitas destinadas a unir a direita e a revitalizar o sentimento identitário nipônico foram vistas como provocações. Os democratas, que chegaram ao poder em 2009, praticamente não contiveram a deterioração das relações com a China. Depois da queda do primeiro-ministro Yukio Hatoyama, que tentou relaxar o domínio estratégico americano, seu sucessor Naoto Kan geriu de forma desastrosa a colisão voluntária em 2010 de um barco pesqueiro chinês contra um navio da guarda-costeira japonesa na costa de Senkaku, prendendo seu capitão. Um erro: Tóquio teve de soltá-lo para acalmar a fúria de Pequim. Além disso, em abril, o populista e negacionista governador de Tóquio, Shintaro Ishihara, anunciou sua intenção de comprar, em nome da capital, ilhotas de seu proprietário particular japonês.

Em vez de lembrar o governador de Tóquio que a diplomacia não entrava em suas atribuições – como fez o embaixador japonês em Pequim, Uichiro Niwa, que foi substituído - , o governo de Yoshihiko Noda, enfraquecido e temeroso, decidiu que o Estado compraria as ilhas. Dessa forma ele limitaria os “danos”, mas ratificaria uma soberania deixada voluntariamente “de maneira vaga” desde a normalização das relações sino-japonesas em 1972. A China reconheceu então que o Japão administrava as Senkaku, mas entendia que a questão da soberania continuava pendente. Um acordo temporário reiterado com a assinatura do tratado de amizade entre os dois países em 1978, que hoje Tóquio diz ter sido uma iniciativa chinesa com a qual a parte japonesa não havia concordado, sem tê-la rejeitado formalmente. Se o governador de Tóquio, que acaba de se demitir para criar um partido de direita, pretendia provocar uma crise com a China, ele conseguiu: o governo caiu na armadilha. “Nunca deveríamos ter deixado sumir os esforços de vários primeiros-ministros para manter boas relações com a China”, declarou o ex-embaixador Uichiro Niwa.

Segundo Ukeru Magosaki, ex-diplomata que publica best-sellers, “os políticos e a opinião pública acham que é preciso se opor à China; só que uma diplomacia que só segue os movimentos da opinião pública muitas vezes é contrária aos interesses nacionais”. O único encorajamento para o governo Noda é a irritação regional suscitada pelas reivindicações de Pequim no Mar do Sul da China. Mas não é um fruto de sua sutileza diplomática.

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