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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Der Spiegel: Realidade contradiz planos de retirada de tropas internacionais do Afeganistão, alerta relatório secreto


Segundo Berlim, o Afeganistão está avançando no caminho certo para que as tropas alemãs se retirem até o final de 2014, conforme planejado. Contudo, um relatório secreto da agência de inteligência externa alemã pinta um retrato diferente.

O presidente afegão, Hamid Karzai, gosta de dizer ao Ocidente o que este quer ouvir. "Vamos combater a corrupção com grande determinação", diz ele. Ou: "Vamos lutar incansavelmente pela boa governança".

Tais mensagens são bem recebidas no Ocidente porque correspondem ao retrato cor de rosa que as autoridades Ocidentais gostam de transmitir ao público. O ministro de relações exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, por exemplo, tornou-se uma espécie de mestre neste jogo. "Estamos em curso para realizar a retirada das tropas de combate internacionais e alemãs até o final de 2014", disse recentemente, enquanto também salientava como é importante integrar os antigos combatentes do taleban na sociedade afegã.

Está claro para todos os envolvidos, contudo, que nada disso é verdade. O governo de Karzai é corrupto até a alma e só está interessado em se perpetuar no poder. Também é provável que sejam necessários mais soldados do Ocidente no país depois de 2014 para prover estabilidade. Além disso, não há muitas indicações que os antigos combatentes do taleban vão contribuir para os esforços de paz.

Tudo isso fica ainda mais claro em uma análise profunda da agência de inteligência exterior da Alemanha, a Bundesnachrichtendienst (BND). O relatório de 21 páginas, chamado "O Afeganistão até 2014 -Prognóstico", foi classificado como "confidencial/secreto" por medida de precaução, já que seus fatos cuidadosamente compilados não batem com as declarações feitas ao público.

Em setembro, cópias do dossiê foram enviadas para a chancelaria assim como para os Ministérios da Defesa, Relações Exteriores, Desenvolvimento e Interior. Ali, o relatório parou nas mesas de chefes de departamento, generais de alta patente e os próprios ministros. "Depois de dar uma olhada, muitos teriam preferido nunca ter recebido esse documento em primeiro lugar", reclamou um dos que o leram.

O dossiê evita discutir cenários catastróficos. Em vez disso, de forma bem direta, lista várias áreas nas quais a realidade não atende aos desejos do Ocidente.

Apego à ficção
A imagem do presidente afegão Karzai é particularmente ruim na análise da BND. "A suscetibilidade à corrupção, a venda de influência e o nepotismo continuarão", diz. Além disso, alega que todas as atividades de Karzai se focaram em "manter-se no poder" e "preservar o status quo", em vez de realizar reformas e enfrentar a batalha prometida de combate à corrupção desenfreada. O relatório conclui que Karzai prefere fazer concessões aos insurgentes a promover reformas.

As garantias de Karzai ao Ocidente "continuam sendo declarações de intenções", diz o documento. Aparentemente, Karzai quer lançar seu irmão mais velho Abdul Qayum como candidato nas eleições presidenciais marcadas para 2014, que tem mais chances de garantir o voto decisivo dos pashtuns no Sul do país. Com esta medida, Karzai quer garantir "os interesses da família e reter o poder", conclui a BND.

O governo da chanceler Angela Merkel tem consciência disso tudo. O ministro do desenvolvimento, Dirk Niebel, foi forçado a adiar no último minuto uma conferência que seria em meados de setembro sobre matérias primas. O encontro deveria discutir uma lei que iria proteger investidores estrangeiros e ainda não foi aprovada, mas agora terá que esperar ainda mais.

Ainda assim, o governo está se apegando tenazmente à ficção de que tudo ainda pode melhorar com Karzai. Se os aliados ocidentais abandonarem o líder do qual dependeram por anos, estarão admitindo que fracassaram no Afeganistão.

A chanceler Merkel e seus ministros devem ter ficado ainda menos satisfeitos com o que leram no capítulo sobre a situação de segurança no Afeganistão. O mais recente relatório do Ministério da Defesa sobre este assunto foi submetido na semana passada ao Comitê de Defesa do Bundestag, o Parlamento alemão. Apesar de dizer que os enormes esforços dos EUA contribuíram para "quebrar o impulso do taleban", a verdade não é tão bela. O relatório da BND prevê que o número de ataques de membros das forças de segurança afegãs contra soldados ocidentais vai continuar aumentando. Ele também prevê que o programa para reintegrar antigos combatentes do taleban que renunciaram à violência "não terá efeitos" no processo de paz.

A BND também acredita que os esforços do governo afegão para negociar com insurgentes não tem a menor chance de sucesso. Para ela, os insurgentes só querem negociar com os EUA e não com Cabul e "nenhum progresso importante" deve ser esperado nas discussões confidenciais no Qatar entre os EUA e o taleban em 2014, ano previsto para a retirada. Na opinião da BND, as mãos americanas estão amarradas pelas eleições presidenciais, e o taleban está apenas ganhando tempo até a data prevista para a retirada dos soldados estrangeiros.

Expectativas pouco realistas
As previsões do relatório para depois de 2014 também são politicamente problemáticas para o governo alemão. O ministro de relações exteriores, Westerwelle, em particular, foi insistente em suas declarações públicas em dizer que não haverá mais tropas de combate estrangeiras no Afeganistão depois de 2014.

Mas as expectativas do ministro de relações exteriores não são realistas. De acordo com a análise da BND, serão necessários para estabilizar o país até 35.000 soldados estrangeiros -instrutores para treinar o exército afegão, tropas de combate para proteger os instrutores e o máximo possível de soldados de elite para caçar terroristas. Segundo a análise, quando a atual missão da Força de Assistência de Segurança Internacional da Otan (Isaf) terminar, apesar dos EUA colaborarem com a maior parte de novos soldados, os outros Estados membros da Otan deverão contribuir com aproximadamente 10.000 homens.

O relatório não cita números concretos de tropas do Bundeswehr, mas se Berlim pretende continuar sendo a terceira maior força na missão do Afeganistão, a Alemanha terá que deixar cerca de 1.500 soldados na região do Hindu Kush. Isso significaria retirar cerca de dois terços dos 4.500 soldados alemães atualmente empregados.

A chanceler Merkel e seus ministros da defesa e de relações exteriores querem evitar a qualquer preço um debate sobre a contribuição da Alemanha pós-2014 à missão no Afeganistão. Os ministros dizem que a decisão da participação dos soldados alemães no Afeganistão depois de 2014 será feita no momento adequado.

O governo de coalizão de centro-direita de Merkel teme que o Afeganistão possa se tornar uma questão de campanha. É uma preocupação justificada, pois membros do Partido Social Democrático (SPD), principal partido da oposição, já estão levantando a questão. “Manter tropas de combate alemães no Afeganistão depois de 2014 está fora de questão”, diz Hans-Peter Bartels, especialista em política de defesa e parlamentar do SPD.

Mas isso é exatamente o que pode acontecer, a julgar dos comentários feitos no dia 25 de setembro, quando a empresa alemã de carros e defesa Rehinmetall organizou a chamada “noite parlamentar” em Berlim. Volker Wieker, inspetor geral do exército alemão, o Bundeswehr, entregou em um comentário o que o governo alemão realmente pensa sobre a situação no Afeganistão. Depois de 2014, disse Wieker, provavelmente haverá um mandato “de acordo com o Capítulo VII da Carta da ONU”.

Esse capítulo trata expressamente do uso de força.

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