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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Der Spiegel: Crise da dívida econômica fortalece e impulsiona os separatistas europeus

Em protestos em favor da independência da Catalunha eis que surge uma faixa com o seguinte dizer em catalão: "Catalunha, novo estado da Europa"

A crise da dívida está fortalecendo os separatistas em vários países da União Europeia. Regiões ricas na Espanha, Reino Unido, Bélgica e Itália não sentem mais solidariedade para com as partes mais pobres de seus próprios países –mas querem continuar fazendo parte da UE (União Europeia).

Artur Mas permanecia ali como um verdadeiro chefe de Estado, flanqueado pela bandeira da Catalunha, com suas quatro listras vermelhas sobre um fundo amarelo. Presente no pátio interno gótico do Palau de la Generalitat, a sede do governo regional em Barcelona, ele fez fortes críticas ao governo central em Madri, chamando a distribuição dos fardos dentro da Espanha de “injusta e desleal”. A Catalunha, ele disse, deve se libertar da complicada política “café para todos” da Espanha, o sistema que divide o país em 17 “comunidades autônomas”. Artur Mas tem pouca consideração pela complicada aliança das regiões da Espanha.

Presidente da região da Catalunha, Mas está se afastando de Madri. Ele antecipou as eleições regionais para 25 de novembro e espera obter maioria absoluta. Isso, ele diz, lhe garantiria uma “posição única de liderança para o processo de autodeterminação”. Isso, por sua vez, permitiria a Mas promover um referendo na Catalunha sobre a separação em relação à Espanha.

Um referendo violaria a Constituição espanhola, porém Mas se sente apoiado pela exuberância do nacionalismo catalão. Em setembro, mais de um milhão de catalães marcharam pelas ruas de Barcelona, acenando sua bandeira, conhecida como Senyera, em prol de “um novo país na Europa”.

Chefe da aliança de partidos conhecida como Convergência e União, Mas comparou a “fadiga” dos catalães aos sentimentos que muitas pessoas no norte da Europa nutrem no momento pelos europeus do sul. Os catalães, que são responsáveis por um quinto do produto econômico total da Espanha, se cansaram de “não conseguir nenhum progresso dentro da Espanha”. Nos últimos 30 anos, diz Mas, o governo central investiu muito pouco em sua região.

Enquanto crescem as preocupações na Europa com as finanças do governo espanhol, o economicamente poderoso País Basco também está em ascensão. As pesquisas mostram que os separatistas provavelmente terão bom desempenho nas eleições regionais bascas, marcadas para daqui dois domingos.

A Espanha não é o único país onde a crise econômica está alimentando movimentos separatistas. Os escoceses estão planejando realizar um referendo sobre independência no segundo semestre de 2014. Na Irlanda do Norte, coquetéis molotov estão voando no ar e tiros são ocasionalmente disparados. E nas eleições na Bélgica no próximo domingo (14), o líder dos separatistas flamengos, Bart de Wever, tem uma boa chance de ser eleito prefeito de Antuérpia, a capital comercial do país. Seus apoiadores veem a prefeitura da maior cidade flamenga como um trampolim para o cargo de líder de um Estado de Flandres independente.

Na Itália, muitos moradores da região de Trentino-Alto Ádige não se sentem mais responsáveis pelo sul corrupto, com sua montanha de dívida, ou pelos escândalos em Lazio e na Sicília. Em abril, milhares de atiradores de Trentino-Alto Ádige usando traje típico tirolês marcharam pela capital regional. Mas os homens, cantando “Independência de Roma”, não estavam ali para celebrar a cultura local.

Parece paradoxal. Desde a Segunda Guerra Mundial, os países da Europa eram vistos como cada vez mais unidos, como forma de resolverem conflitos históricos. No processo, os países europeus gradualmente cederam vários poderes para Bruxelas. Quando um grupo central concordou com a introdução de uma moeda comum, ficou claro para a maioria que futuramente teriam que completar o processo com uma união política.

Mas agora que os países estão cada vez mais perdendo sua soberania nacional, muitas regiões na Europa estão exigindo independência. Assim como um conflito norte-sul está tomando forma na zona do euro, movimentos de independência também estão ganhando força dentro dos países, especialmente nas regiões prósperas. Por toda parte, os populistas estão em ascensão, enquanto defendem um novo egoísmo.

Trentino-Alto Ádige, que a Itália anexou da Áustria depois da Primeira Guerra Mundial, tem uma taxa de desemprego de apenas 4,1%, uma das mais baixas na União Europeia. Ela tem um sistema modelo de atendimento de saúde e bem-estar social. Agora, os moradores da região temem perder os privilégios e subsídios aos quais passaram a ter direito desde a assinatura de um acordo de autonomia em 1972. Eles também se sentem cada vez menos responsáveis pela crise italiana.

O sentimento anti-Itália é alimentado pelo mais recente programa de austeridade do primeiro-ministro italiano Mario Monti. Por causa da “emergência nacional” –uma dívida nacional de cerca de 2 trilhões de euros– Monti quer que Trentino-Alto Ádige reduza seus gastos em 750 milhões de euros. Mas isso contradiz a garantia por escrito de que 90% da arrecadação de impostos em Trentino-Alto Ádige deve retornar à região.

Negociações tiveram início entre Roma e a capital da região, Bolzano. Mas os partidos nacionalistas, que ocupam mais de um quinto das cadeiras no Parlamento regional, estão fomentando revolta entre os cidadãos, que não querem ser arrastados para o buraco com o restante da Itália.

O sucesso de De Wever, o candidato à prefeitura de Antuérpia, com sua agenda antibelga, também deriva em grande parte da insatisfação entre a maioria da população flamenga por seu dinheiro estar fluindo para o sul mais pobre. “A Bélgica é uma união de transferência, onde a democracia de Flandres contribui com mais do que sua parcela justa à federação”, diz o líder da Aliança Neoflamenga.

Desde que Elio Di Rupo, um socialista da metade sul da Bélgica, a região da Valônia de língua francesa, assumiu como líder do governo de coalizão de socialistas, democratas-cristãos e liberais na capital conjunta de Bruxelas, em 2011, os separatistas flamengos, fortes críticos do que chamam de “federalismo de talão de cheques”, conseguiram ganhos entre os eleitores. É realmente verdade que até 6 bilhões de euros por ano são transferidos da rica Flandres para a Valônia mais pobre.

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