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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Possibilidade de independência da Escócia evidencia processo de deslocamento de poder do mundo globalizado


A Europa se encontra às portas da maior redistribuição de poder que terão visto várias gerações. Não basta remontar a 1989, quando terminou a guerra fria, porque naquela época o terremoto afetou fundamentalmente o antigo bloco soviético. Também não serve a data de 1945, depois do naufrágio do império hitleriano, quando EUA e Rússia impuseram a divisão do continente mediante um sistema de equilíbrio do terror garantido pela segurança da destruição mútua em caso de conflagração. Nem sequer a data de 1815, quando do Congresso de Viena que enterrou a Europa napoleônica surgiu o chamado concerto das nações. Este mundo que agora começa a titubear é o dos velhos Estados-nação europeus, modelados entre os Tratados de Westfália (1648), assinados no fim da Guerra dos Trinta Anos, e o Tratado de Utrecht (1714), ao acabar a Guerra de Sucessão Espanhola.

À diferença de então, a atual redistribuição não é um movimento tectônico dentro da Europa, e sim parte dos deslocamentos de poder e de riqueza dentro do mundo globalizado. O que nos acontece faz parte do que acontece aos outros. Acreditávamos que éramos o umbigo do mundo, mas de repente nos damos conta e estamos atuando como a periferia que já começamos a ser. O centro de gravidade geopolítico do planeta, situado no Atlântico durante os últimos séculos, agora está no Pacífico. Somos menos, mais frágeis, mais divididos e mais dependentes. Também mais endividados.

Nosso modelo de vida e de sociedade está em questão. E somos causa e efeito ao mesmo tempo. Há redistribuição de poder e riqueza na Europa e no interior de seus Estados-nação porque há uma nova distribuição de cartas no jogo global. Não há, como antes, superpotências que vigiem com suas armas a estabilidade do continente. A Otan se ocupa das áreas exteriores, quando se ocupa de algo. A Europa não se encontra em nenhum dos alarmes do Departamento de Estado. As margens de liberdade rapidamente se ampliaram. E também os perigos, a incerteza.  

A redistribuição do poder europeu vai funcionar em três direções. Uma de transferência para cima, outra de transferência para baixo e uma terceira de desagregação centrífuga, o resultado da ruptura das atuais estruturas pelos pontos mais frágeis. Há notícias que acompanham cada uma das três tendências. Para cima indica o projeto de união fiscal e bancário que os 17 sócios do euro têm sobre a mesa, apressado pela crise das dívidas soberanas dos países periféricos, e notadamente Espanha e Itália. A flecha que sinaliza para baixo tem na Escócia sua ponta mais aguda, e não a única: em dois anos haverá um referendo sobre a independência. Com uma só pergunta, clara e precisa, de modo que só permita a resposta afirmativa ou negativa.

Também de Londres vem a notícia sobre a ruptura da UE, já esboçada por David Cameron em dezembro passado, quando rejeitou a união fiscal proposta pela França e Alemanha e agora reforçada por sua negativa a aprovar as perspectivas financeiras da UE até 2020 e sua disposição a desdobrar os orçamentos europeus, um para os membros do euro e outro para os que conservam suas moedas nacionais. Logo teremos duas Europas em vez de uma.

A redistribuição organizada e civilizada é a única via sólida e segura. O euroceticismo britânico se acomodou facilmente a realizá-la pacífica e amavelmente dentro do Reino Unido, primeiro na Irlanda do Norte e agora com a Escócia. Mas tem dificuldades insuperáveis para dissolver sua soberania nacional na europeia. Exatamente o contrário do que sucede na Espanha, onde não é a transferência para Bruxelas e Frankfurt o que tensiona, senão as reclamações das nacionalidades históricas, com a Catalunha à frente, para transformar-se em agentes diretamente protagonistas do novo empuxo federal europeu.

Se as transferências de poder em direção vertical, acima e abaixo, se realizarem razoavelmente bem, serão escassas as rupturas desagregadoras e maiores as fortalezas europeias. Com menos poder, a Europa será capaz de jogar no cenário internacional como um agente que conta. Mas se predominarem as forças centrífugas,  a Europa acrescentará fragilidade ao contexto atual.  A imagem que nos devolve o espelho escocês é edificante e diz muito a favor do ânimo democrático do primeiro-ministro britânico, David Cameron, e do talento político do premiê escocês, Alex Salmond.

Londres reconhece o princípio democrático: os escoceses decidirão o futuro de suas relações com o Reino Unido. Será graças à negociação bilateral de Edimburgo com Londres. Por autorização do Parlamento de Westminster. Não haverá consultas sobre uma terceira via, a chamada "devolution max", o mais parecido com o pacto fiscal que propunha Artur Mas ou o atual regime de concerto vigente em Euskadi e Navarra.

As pesquisas favorecem neste momento os que preferem continuar no Reino Unido, mas no caso de um resultado contrário haverá outra negociação para organizar uma independência na qual a Escócia manteria o chefe de Estado e a libra esterlina, pelo menos até ingressar no euro. A aposta na clareza e na democracia que Londres faz reforçará a Europa depois de enfraquecê-la. O que faremos nós?  

2 comentários:

  1. posso estar enganado, mas m parece um txt anglicano -- feito por ingles. e oq m deixa estupefato nao é a clareza dos argumentos e olhar para todos os lados [ou seja, outros argumentos], mas sim a situação: a europa se desfragmentará democraticamente, ou se unirá num "país-imenso" como é a ideia alemã? no fundo, é oq esse ingles [ou inglesa] s pergunta.

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  2. Esse blá, blá, blá acima pq se trata da sua alteza a Inglaterra, q pelo visto p/desmembrá-la de vez só faltaria o País de Gales. Agora Espanha/Itália/Polônia/França ... etc vão no mesmo sentido, enfim toda europa. Engraçado nisto é esses mesmos países fomentaram a divisão da antiga Iugoslávia e como punição a Sérvia (o marechal cópiou o modelo europeu) ainda querem tomar-lhes o KOSOVO de vez. Notem o nível da discussão do tema, por lado como os sérvios eram à favor da Rússia a divisão foi na MARRA. Assim deveria ser tb para toda europa, imaginem: escosseses/galeses/bascos/lombardos/castelianos/pomerânos/suiços/... etc; dando porrada um no outro igual foi na Iugolávia. Assim são as soluções de paz do Ocidente Maravilha: "Tudo venha a NÓS e ao vosso reino NADA. Chamem a OTAN q ela resolve a parada.

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