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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Suspeita de enriquecimento de primeiro-ministro chinês fragiliza imagem de Partido Comunista

Wen Jiabao

Para a maioria dos chineses, ele é simplesmente "Wen yeye", ou "vovô Wen". Em dez anos de mandato, o primeiro-ministro e número três do PCC (Partido Comunista Chinês), Wen Jiabao, ganhou esse apelido carinhoso por mostrar sua preocupação com os mais pobres.

A imagem foi polida pela propaganda de um regime comunista nos discursos, ainda que na prática os herdeiros de Mao tenham adotado o capitalismo há mais de trinta anos e produzido uma economia híbrida, onde as empresas públicas têm um papel de primeiro plano.

Não há um Ano Novo chinês em que o afável Wen Jiabao, vestido com uma jaqueta simples, não coma pastéis com os operários imigrantes, cuja força de trabalho explica em grande parte o sucesso do milagre chinês.

Não há um local de desastre natural aonde ele não tenha ido para demonstrar compaixão pelas vítimas. Como durante o terremoto de Sichuan, em 2008, onde ele conduziu as operações de resgate e... aumentou sua popularidade.

Wen também se distinguiu por seus discursos anticorrupção. Em 2007, ele havia pedido aos altos dirigentes que "se certificassem de que os membros de suas famílias, seus amigos e seus subordinados próximos não abusassem da influência governamental".

Uma missão difícil: uma reportagem detalhada do "New York Times" sobre a fortuna acumulada por seus parentes - a bagatela de US$ 2,7 bilhões (aproximadamente R$ 5,4 bi)- , entre eles sua mulher, Zhang Beili, apelidada de "a rainha dos diamantes" em razão de seu controle sobre esse comércio, dá um golpe nessa bela imagem.

Publicada no final da semana passado, a reportagem confirma aquilo que muitos suspeitavam: a família aproveitou a posição de "vovô Wen" para fazer negócios. Embora dois advogados da família Wen tenham tentado um contra-ataque, no domingo (28), o efeito político a menos de quinze dias do 18º congresso do PCC é devastador. Este verá o início da mudança de direção e, sobretudo, a saída do presidente Hu Jintao e de Wen Jiabao até março de 2013.

Muitos filhos da "nobreza vermelha" chinesa entraram na esfera econômica, levados pelos "trinta anos gloriosos" que a economia do país acaba de viver. Esse nepotismo fragiliza um pouco mais um PCC que deverá enfrentar protestos crescentes e reduzir as desigualdades cada vez mais profundas na sociedade chinesa.

As lutas de poder reveladas pelo caso Bo Xilai - um dos mais populares dirigentes chineses, que acaba de ser excluído das esferas dirigentes e está aguardando seu julgamento - também são explicadas por batalhas para preservar os interesses das diferentes "famílias dominantes".

Antes de ser vencido por Mao, o dirigente nacionalista Chiang Kai-shek havia resumido bem o dilema que os próximos dirigentes deverão enfrentar: "Se eu luto contra a corrupção, perco o partido, mas se não luto, perco o país".

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